Por Frederico Rocha Ferreira, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:
Diversos agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo, inclusive países de origem dos fabricantes, foram liberados pelo governo Bolsonaro. Pesquisas apontam que o consumo de agrotóxicos gira em torno de cinco litros por pessoa/ano e que 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por esses agentes.
O governo Bolsonaro liberou 197 agrotóxicos em cinco meses. Neste pacote estão produtos considerados cancerígenos, como o paraquat, da Syngenta (nome comercial Gramoxone 200) e o glifosato, da Monsanto/Bayer.
O paraquat – proibido em mais de 50 países e em todo território europeu desde 2007, inclusive em seu país de origem, a Suíça – é um agrotóxico associado não só a casos de câncer, mas também ao mal de Parkinson, fibrose pulmonar e danos genéticos, sendo um dos agentes químicos mais vendidos no Brasil.
Em setembro de 2017, a Anvisa proibiu o uso do paraquat. Mas, dois meses depois, voltou atrás, ante a pressão dos ruralistas e do lobby da fabricante Syngenta. A empresa levou políticos para uma viagem à Suíça para “conhecer aspectos da capacidade de inovação suíça” e fazer uma visita à multinacional. Uma das convidadas da empresa foi a então deputada Teresa Cristina, hoje ministra da Agricultura.
O veneno suíço continua liberado por aqui, contaminando o arroz, a banana, a batata, o café, a cana-de-açúcar, o feijão, a maçã, o milho, a soja, a maçã e o trigo, para citar alguns. Mas a Syngenta não é a única fabricante de agrotóxico que tem seu produto proibido à venda no próprio país. Nesse rol, encontra-se também a norte-americana FMC Corp., a dinamarquesa Cheminova A/S e a Helm AG, da Alemanha, cujos agentes químicos não são permitidos em seus mercados domésticos, mas são livremente comercializados no Brasil.
Outro produto utilizado em larga escala pela indústria agrícola brasileira é o glifosato, um composto químico desenvolvido pela Monsanto, também, considerado cancerígeno. Recentemente a Bayer, que absorveu a Monsanto, sofreu uma pesada derrota na justiça federal dos EUA, em um processo envolvendo a utilização do glifosato. O fato abriu precedente para milhares de processos semelhantes de pessoas que alegam que o uso do herbicida lhes causou câncer. No total, são 11.200 ações em todo o país.
No Brasil não há um estudo definitivo que aponte para o número de doenças e mortes em função do consumo de alimentos contaminados. Temos conhecimento de que o consumo de agrotóxicos gira em torno de cinco litros por pessoa/ano e que 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por esses agentes. Além disso, pesquisas como as desenvolvidas pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Fundação Oswaldo Cruz relacionam diversas doenças com o consumo de agrotóxicos. Entre elas, o mal de Parkinson, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, má formação fetal, aborto, endometriose e câncer de diversos tipos, além de estatística de mortes em uma determinada região.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o câncer passou a ser a primeira causa de morte em 140 municípios. Isso ocorreu logo depois que as lavouras do Estado receberam cerca de 100 mil toneladas de veneno, entre os anos de 2012 e 2014. Na região Noroeste do país, a média é de dez agricultores diagnosticados com câncer por dia. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 80% dos casos de câncer no mundo, vem da exposição aos agentes químicos. Por outro lado, a intoxicação pelo uso de agrotóxicos no território brasileiro tem dados consistentes, como é possível ver nos mapas produzidos pela pesquisadora da USP, Larissa Mies Bombardi.
Em uma sequência cartográfica, Larissa Mies mostra que mais de 25 mil intoxicações causadas por agrotóxicos foram registradas no período de 2007 a 2014. O que dá 3.125 casos de intoxicações por ano ou oito casos por dia, com 1.186 mortes, sendo 343 bebês. Isto é, uma morte a cada dois dias e meio. Contudo, os números podem ser bem maiores. Segundo pesquisadores, para cada caso registrado, outros 50 não são notificados, mesmo entendimento de especialistas em saúde pública, que aponta ser o número de mortes relacionadas ao envenenamento por agrotóxicos maior que o registrado, em função do rastreamento ser incompleto.
A dura realidade é que o Brasil se tornou o celeiro de pesticidas proibidos ou eliminados em países desenvolvidos e de forma irresponsável, vem permitindo sua utilização e o envenenamento da agricultura, do trabalhador rural em particular e da população.
O governo Bolsonaro liberou 197 agrotóxicos em cinco meses. Neste pacote estão produtos considerados cancerígenos, como o paraquat, da Syngenta (nome comercial Gramoxone 200) e o glifosato, da Monsanto/Bayer.
O paraquat – proibido em mais de 50 países e em todo território europeu desde 2007, inclusive em seu país de origem, a Suíça – é um agrotóxico associado não só a casos de câncer, mas também ao mal de Parkinson, fibrose pulmonar e danos genéticos, sendo um dos agentes químicos mais vendidos no Brasil.
Em setembro de 2017, a Anvisa proibiu o uso do paraquat. Mas, dois meses depois, voltou atrás, ante a pressão dos ruralistas e do lobby da fabricante Syngenta. A empresa levou políticos para uma viagem à Suíça para “conhecer aspectos da capacidade de inovação suíça” e fazer uma visita à multinacional. Uma das convidadas da empresa foi a então deputada Teresa Cristina, hoje ministra da Agricultura.
O veneno suíço continua liberado por aqui, contaminando o arroz, a banana, a batata, o café, a cana-de-açúcar, o feijão, a maçã, o milho, a soja, a maçã e o trigo, para citar alguns. Mas a Syngenta não é a única fabricante de agrotóxico que tem seu produto proibido à venda no próprio país. Nesse rol, encontra-se também a norte-americana FMC Corp., a dinamarquesa Cheminova A/S e a Helm AG, da Alemanha, cujos agentes químicos não são permitidos em seus mercados domésticos, mas são livremente comercializados no Brasil.
Outro produto utilizado em larga escala pela indústria agrícola brasileira é o glifosato, um composto químico desenvolvido pela Monsanto, também, considerado cancerígeno. Recentemente a Bayer, que absorveu a Monsanto, sofreu uma pesada derrota na justiça federal dos EUA, em um processo envolvendo a utilização do glifosato. O fato abriu precedente para milhares de processos semelhantes de pessoas que alegam que o uso do herbicida lhes causou câncer. No total, são 11.200 ações em todo o país.
No Brasil não há um estudo definitivo que aponte para o número de doenças e mortes em função do consumo de alimentos contaminados. Temos conhecimento de que o consumo de agrotóxicos gira em torno de cinco litros por pessoa/ano e que 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por esses agentes. Além disso, pesquisas como as desenvolvidas pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Fundação Oswaldo Cruz relacionam diversas doenças com o consumo de agrotóxicos. Entre elas, o mal de Parkinson, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, má formação fetal, aborto, endometriose e câncer de diversos tipos, além de estatística de mortes em uma determinada região.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o câncer passou a ser a primeira causa de morte em 140 municípios. Isso ocorreu logo depois que as lavouras do Estado receberam cerca de 100 mil toneladas de veneno, entre os anos de 2012 e 2014. Na região Noroeste do país, a média é de dez agricultores diagnosticados com câncer por dia. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 80% dos casos de câncer no mundo, vem da exposição aos agentes químicos. Por outro lado, a intoxicação pelo uso de agrotóxicos no território brasileiro tem dados consistentes, como é possível ver nos mapas produzidos pela pesquisadora da USP, Larissa Mies Bombardi.
Em uma sequência cartográfica, Larissa Mies mostra que mais de 25 mil intoxicações causadas por agrotóxicos foram registradas no período de 2007 a 2014. O que dá 3.125 casos de intoxicações por ano ou oito casos por dia, com 1.186 mortes, sendo 343 bebês. Isto é, uma morte a cada dois dias e meio. Contudo, os números podem ser bem maiores. Segundo pesquisadores, para cada caso registrado, outros 50 não são notificados, mesmo entendimento de especialistas em saúde pública, que aponta ser o número de mortes relacionadas ao envenenamento por agrotóxicos maior que o registrado, em função do rastreamento ser incompleto.
A dura realidade é que o Brasil se tornou o celeiro de pesticidas proibidos ou eliminados em países desenvolvidos e de forma irresponsável, vem permitindo sua utilização e o envenenamento da agricultura, do trabalhador rural em particular e da população.
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