sexta-feira, 28 de junho de 2019

Bolsonaro, o mais impopular

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:

Desde que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto, e ficou clara sua incapacidade colossal, um fantasma atormenta certos setores da oposição. O presidente estaria, no fundo, encenando uma peça, para “convocar o caos”, derrubar o sistema político e instalar um governo francamente fascista? A nova pesquisa de popularidade presidencial divulgada hoje pelo Ibope ajuda a desfazer esta fantasia. Governo péssimo resulta, realmente, em perda rápida de apoio. Em menos de seis meses de governo, o percentual de apoio ao presidente (os que julgam sua gestão “ótima” ou “boa”) despencou para 32% da população.

Esta fatia otimista já se reduziu, agora, ao mesmo tamanho da parcela que vê Bolsonaro como “ruim” ou “péssimo”. É o pior resultado já alcançado por um presidente eleito pelo voto, a esta altura do mandato, desde a redemocratização. Após o primeiro semestre no Planalto, Lula tinha 44% de bom e ótimo (48% no segundo governo). Dilma, 48%; FHC, 42%; Itamar, 35%; e mesmo Collor de Mello, após dar calote nas poupanças da população, chegava a 34%. Abaixo de Bolsonaro hoje, só FHC em seu segundo mandato (15%, em plena crise cambial) e Dilma 2 (5%, após aplicar o estelionato eleitoral de 2015).

Sem estilo e sem confiança

Dois outros resultados da pesquisa deveriam contribuir para desfazer a crença na suposta força do ex-capitão. Cresceu expressivamente (de 40%, em março, para 48%) o percentual dos que desaprovam sua “maneira de governar” (46% a aprovam). E já são 51% (contra 45%, há três meses) os que “não confiam” em Bolsonaro (46% ainda confiam). Ou seja: não se confirma a hipótese de que a agressividade, as quebras toscas de protocolo, os xingamentos e as patetadas em geral sejam “populares”.

Quanto mais “povão”, mais oposição

Aliás, o Ibope revela: a oposição a Bolsonaro é muito maior entre os setores populares. No Nordeste, os que consideram o governo “ótimo” ou “bom” já baixou a 17%; e no Norte e Centro-Oeste, despencou de 33% para 20%. Nas capitais (que incluem vastas periferias), 37% julgam o presidente “ruim” ou “péssimo”. Entre as mulheres, 57% “não confiam” em Bolsonaro (54% dos homens ainda “confiam”). Ao contrário do que às vezes se crê, o capitão segue forte, mesmo, entre as elites: os mais brancos e os mais ricos – aliás, o público principal das manifestações em seu favor. Na região Sul, por exemplo, 52% julgam seu governo “ótimo” ou “bom”. Entre os que têm curso superior, incríveis 43% pensam que o restante de seu mandato será auspicioso…

O que mais desgasta o ex-capitão

O Ibope sondou, por fim, o apoio da população a políticas específicas do governo. Os resultados são um bom roteiro para guiar a ação política de oposição a Bolsonaro. Por exemplo: 59% desaprovam as taxas de juros (contra apenas 32% favoráveis), o que revela amplo espaço para denunciar a ganância dos bancos e dos banqueiros instalados no governo. O sistema de impostos é rejeitado por 61%, o que indica a popularidade de uma Reforma Tributária redistributiva. 56% estão descontentes com a Saúde (e, portanto, estão propícios a lutar contra o congelamento dos gastos sociais). 55% declaram-se insatisfeitos com a (inexistente) política de combate ao desemprego. Após as jornadas de maio, dos estudantes e educadores, 54% já rejeitam a política educacional. O único ponto em que Bolsonaro ainda tem apoio majoritário é, segundo a pesquisa, a Segurança Pública – um tema que a esquerda costuma abandonar, por preconceito.

Más notícias na pior hora

Os sinais de desgaste acelerado do Planalto vêm num momento particularmente delicado para Bolsonaro. Os preparativos para as eleições municipais de 2020 já começaram. No Congresso, deputados e senadores dão os primeiros sinais de que temem as urnas e hesitarão em votar projetos impopulares. O governo está perdendo tempo precioso para aprovar seus projetos mais importantes – entre eles, a Contrarreforma da Previdência. No segundo semestre, tudo será mais difícil: a oposição do eleitorado crescerá, os parlamentares cobrarão mais caro para votar contra os interesses da maioria, o Executivo terá enormes dificuldades para manter o discurso de que “não faz concessões”. Está aberto o caminho para uma oposição muito mais efetiva – que seja, inclusive, capaz de partir para as alternativas. A dúvida é: haverá esta oposição, enfim?

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