Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Tudo considerado, o fato mais relevante a respeito da imagem de Sérgio Moro e da Lava Jato é que o ex-juiz e a operação nunca contaram com o apoio unânime da opinião pública. Nem chegaram perto. Os números relativos à sua taxa de aprovação sempre foram bons, mas abaixo do que deveriam ser. Ou do que se almejava. Ainda não há pesquisas a respeito do que ocorreu depois das revelações de The Intercept Brasil. Muito antes das reportagens, a proporção daqueles que colocavam em dúvida o juiz e a operação era, no entanto, elevada.
Não se esperava isso lá atrás, quando a operação começou. De um lado, tínhamos a corrupção, identificada pela ampla maioria como um grave problema do sistema político e administrativo (mais grave, na verdade, do que é objetivamente). De outro, um grupo de juízes, promotores e delegados, tidos como destemidos e competentes, dispostos a enfrentar os poderosos e a não deixar pedra sobre pedra. A marca de fantasia que adotaram era boa: prometiam que, a jatos d’água, iriam limpar a sujeira.
Tratava-se, no entanto, de uma dupla mentira que a mídia corporativa impingiu ao País. Em vez de mostrar que o estereótipo era falso, referendaram e consolidaram a noção de que a corrupção é a causa dos males nacionais. Escamotearam as evidências de incompetência e parcialidade de Moro e companheiros, a fim de glorificá-los como heróis. Nunca se investiu tanto, no Brasil, para produzir uma imagem. Desde quando engatinhava, a mídia apresentou a operação como se fosse a resposta contra a corrupção, como se houvesse um Dragão da Maldade que só santos guerreiros seriam capazes de derrotar. Nem uma coisa nem outra era verdade, mas tinha função: criar um caminho para combater, com aparente legitimidade, o PT e a liderança de Lula.
Todas as emissoras de televisão, a começar pelo Sistema Globo, os jornais, revistas e veículos de internet ligados aos conglomerados de mídia martelaram durante anos a mesma tecla, mas não conseguiram convencer a sociedade. Uma parcela expressiva não comprou a tese do heroísmo dos lavajatistas, especialmente nos segmentos populares. A República de Curitiba só foi efetivamente endeusada pelos antipetistas, até com razão, pois, no fundo, seu alvo primordial sempre foi o PT, como os vazamentos de suas conversas deixam claro.
A lenda de que esses personagens são um consenso nacional, que “O Brasil apoia a Lava Jato”, fez parte da construção política que levou ao golpe contra Dilma, à prisão de Lula e à eleição do patético cidadão que hoje a encarna. Não passa, contudo, de uma fabricação.
Em abril de 2017, em seu auge, depois da escalada contra as empreiteiras, de diversas prisões políticas e da formalização de cinco denúncias contra Lula, uma pesquisa CUT/Vox mostrou que não chegava à metade a parcela da população que considerava que Moro “fazia uma luta justa e usava métodos corretos”. Eram 46%. A maioria estava entre aqueles que opinavam que “a luta de Moro era justa, mas usava métodos questionáveis, que não deveria usar” (16%), que “não fazia uma luta justa e agia politicamente” (19%) ou “não sabia” (19%).
Em abril de 2018, um ano depois, 59% dos entrevistados em outra pesquisa CUT/Vox estavam de acordo com a frase “o processo, a condenação e a prisão de Lula ocorreram por motivos políticos”, enquanto 32% concordaram com a ideia oposta, de que “foi um processo normal, sem se misturar com a política”. Agora, em abril de 2019, o quadro permaneceu sem mudanças em nova pesquisa CUT/Vox: 55% viam as decisões contra Lula como “políticas” e 37% achavam-nas “normais”. Na mesma pesquisa, 49% responderam que “Sérgio Moro condenou Lula à prisão para impedir que fosse candidato a presidente”, enquanto 43% opinaram que havia sido por Lula haver “praticado ilegalidades”. Mesmo entre admiradores de Bolsonaro, 69% avaliaram que Moro agiu sem motivação política.
O notável é quanto se apostou no mito da unanimidade em torno do lavajatismo, que contribuiu para a proteção de seus atores. E quanta gente agiu oportunisticamente em função dele, achando que respondia “ao clamor das ruas” e se adequava “aos anseios populares”. No Congresso e no Judiciário, em especial nos tribunais superiores, não poucos mudaram suas convicções para se ajustar àquilo que “o povo quer”.
Perderam tempo. O cenário que Moro e companhia têm pela frente é de desmoralização crescente, seja no plano ético e moral, seja no da eficácia, com a incompetência que exibem no governo do aliado. Quem aderiu ao lavajatismo para se dar bem, na verdade tem se dado mal.
Não se esperava isso lá atrás, quando a operação começou. De um lado, tínhamos a corrupção, identificada pela ampla maioria como um grave problema do sistema político e administrativo (mais grave, na verdade, do que é objetivamente). De outro, um grupo de juízes, promotores e delegados, tidos como destemidos e competentes, dispostos a enfrentar os poderosos e a não deixar pedra sobre pedra. A marca de fantasia que adotaram era boa: prometiam que, a jatos d’água, iriam limpar a sujeira.
Tratava-se, no entanto, de uma dupla mentira que a mídia corporativa impingiu ao País. Em vez de mostrar que o estereótipo era falso, referendaram e consolidaram a noção de que a corrupção é a causa dos males nacionais. Escamotearam as evidências de incompetência e parcialidade de Moro e companheiros, a fim de glorificá-los como heróis. Nunca se investiu tanto, no Brasil, para produzir uma imagem. Desde quando engatinhava, a mídia apresentou a operação como se fosse a resposta contra a corrupção, como se houvesse um Dragão da Maldade que só santos guerreiros seriam capazes de derrotar. Nem uma coisa nem outra era verdade, mas tinha função: criar um caminho para combater, com aparente legitimidade, o PT e a liderança de Lula.
Todas as emissoras de televisão, a começar pelo Sistema Globo, os jornais, revistas e veículos de internet ligados aos conglomerados de mídia martelaram durante anos a mesma tecla, mas não conseguiram convencer a sociedade. Uma parcela expressiva não comprou a tese do heroísmo dos lavajatistas, especialmente nos segmentos populares. A República de Curitiba só foi efetivamente endeusada pelos antipetistas, até com razão, pois, no fundo, seu alvo primordial sempre foi o PT, como os vazamentos de suas conversas deixam claro.
A lenda de que esses personagens são um consenso nacional, que “O Brasil apoia a Lava Jato”, fez parte da construção política que levou ao golpe contra Dilma, à prisão de Lula e à eleição do patético cidadão que hoje a encarna. Não passa, contudo, de uma fabricação.
Em abril de 2017, em seu auge, depois da escalada contra as empreiteiras, de diversas prisões políticas e da formalização de cinco denúncias contra Lula, uma pesquisa CUT/Vox mostrou que não chegava à metade a parcela da população que considerava que Moro “fazia uma luta justa e usava métodos corretos”. Eram 46%. A maioria estava entre aqueles que opinavam que “a luta de Moro era justa, mas usava métodos questionáveis, que não deveria usar” (16%), que “não fazia uma luta justa e agia politicamente” (19%) ou “não sabia” (19%).
Em abril de 2018, um ano depois, 59% dos entrevistados em outra pesquisa CUT/Vox estavam de acordo com a frase “o processo, a condenação e a prisão de Lula ocorreram por motivos políticos”, enquanto 32% concordaram com a ideia oposta, de que “foi um processo normal, sem se misturar com a política”. Agora, em abril de 2019, o quadro permaneceu sem mudanças em nova pesquisa CUT/Vox: 55% viam as decisões contra Lula como “políticas” e 37% achavam-nas “normais”. Na mesma pesquisa, 49% responderam que “Sérgio Moro condenou Lula à prisão para impedir que fosse candidato a presidente”, enquanto 43% opinaram que havia sido por Lula haver “praticado ilegalidades”. Mesmo entre admiradores de Bolsonaro, 69% avaliaram que Moro agiu sem motivação política.
O notável é quanto se apostou no mito da unanimidade em torno do lavajatismo, que contribuiu para a proteção de seus atores. E quanta gente agiu oportunisticamente em função dele, achando que respondia “ao clamor das ruas” e se adequava “aos anseios populares”. No Congresso e no Judiciário, em especial nos tribunais superiores, não poucos mudaram suas convicções para se ajustar àquilo que “o povo quer”.
Perderam tempo. O cenário que Moro e companhia têm pela frente é de desmoralização crescente, seja no plano ético e moral, seja no da eficácia, com a incompetência que exibem no governo do aliado. Quem aderiu ao lavajatismo para se dar bem, na verdade tem se dado mal.
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