Por Evilazio Gonzaga, no blog Nocaute:
Estive em São Paulo visitando diversos portais que estão sendo pioneiros na configuração de uma nova etapa da mídia brasileira de notícias. Há várias iniciativas ocorrendo no Brasil e no mundo, a exemplo do The Intercept, que tem como editor o jornalista Glenn Greenwald, laureado com o Prêmio Pulitzer – o mais importante prêmio do jornalismo internacional outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. É administrado pela Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque.
O Intercept atinge milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil a experiência estimulou o surgimento de diversas experiências digitais no jornalismo, que estão alcançando um impressionante sucesso. Os dez portais mais importantes, Brasil 247, DCM, Nocaute, Revista Fórum, Carta Capital, Viomundo, O Tijolaço, Conversa Afiada e a edição brasileira do El Pais, entre outros, atingem mais de 70 milhões de pessoas.
Para efeito de comparação, o principal jornal do país, a Folha de S. Paulo, que já foi consumido por mais de um milhão de pessoas, hoje não chega a 70 mil leitores diários em sua versão impressa. O mesmo ocorre com o jornalismo das redes de televisão. A audiência do jornalismo televisivo cai constantemente e as redes giram sua programação para o entretenimento – mesmo assim sem obter uma substancial recuperação de audiência, cada vez mais atraída por canais como o Netflix ou HBO Plus, Amazon e outros.
Qual a razão de tamanho sucesso dos portais jornalísticos, em tão pouco tempo?
São várias. A primeira é uma tendência mundial, que leva os usuários a optarem pelas novas tecnologias, muito mais acessíveis e práticas do que os mecanismos de comunicação tradicionais que se tornam obsoletos. Os meios digitais permitem às pessoas o acesso ao conteúdo onde estiverem, no horário que preferem, no ritmo mais adequado às suas vidas e em um pequeno aparelho celular todas as opções de mídia estão disponíveis: músicas, vídeos, textos, fotos, ou qualquer registro possível.
Além disso, existe a possibilidade de interconectividade. O usuário, que antes era um mero indivíduo perdido e insignificante na multidão, agora pode se conectar com seu jornalista, comentarista ou programa preferido e emitir a sua opinião. O efeito disso não tem comparação com as arcaicas cartas à redação ou os telefonemas para os programas de rádio ou TV, que pela limitação de espaço e tempo eram obrigados a selecionar apenas umas pouquíssimas amostras.
Essa tendência mundial foi acelerada no Brasil, pelos problemas políticos que atingiram o país. O consumidor de notícias padrão é um indivíduo com boa formação cultural e humanista. Mesmo que seja um profissional de atividades técnicas, como um mecânico, um engenheiro, um médico ou um mestre de obras, o consumidor de notícias típico possui interesses que vão além do seu cotidiano, exige um grau maior de profundidade nas informações que acessa, tem mais bagagem de cultura geral, é influenciado pelo iluminismo, tende a ser humanista, aceita o multiculturalismo, se considera um democrata, rejeita as soluções autoritárias e despreza a violência. Essas pessoas tendem a gostar de matérias mais complexas, textos analíticos, procuram compreender o que há por trás das notícias e se esforçam para relacionar as informações que recebem com o mundo em que vivem.
A mídia brasileira, desde que passou a seguir a fórmula do fenômeno efêmero do US Today nos Estados Unidos, abandonou o jornalismo de matérias mais aprofundadas. A regra do limite de 20 linhas do US Today passou a ser o padrão seguido pela quase totalidade dos veículos nacionais, inclusive os especializados em economia, como o Valor Econômico. Reportagens de folego, que procuram dissecar os acontecimentos, passaram a ser raridade na mídia brasileira.
Isso levou o leitor típico de jornalismo a procurar outras fontes de informação.
O golpe mais forte no jornalismo tradicional, no entanto foi no âmbito político. O leitor típico de jornalismo, descrito acima, pode ser colocado no leque de cores da política no amplo espectro, que vai do centro liberal à esquerda.
A mídia brasileira, desprezando seu consumidor – o que é um erro grave no marketing – passou a assumir uma posição francamente de direita, principalmente a partir de 2013. De lá, para cá todos os veículos da mídia tradicional foram radicalizando as suas posições, com objetivos claramente políticos. No processo, cometeram heresias suicidas para o produto que vendem (informação) e chegaram a divulgar notícias falsas – batizadas com o neologismo de fakenews.
O posicionamento político parcial, extremamente evidente da mídia tradicional, foi considerado uma traição aos consumidores típicos de jornalismo. Trair a confiança dos consumidores é o maior erro que uma marca pode cometer, de acordo com qualquer manual de marketing.
Os três efeitos combinados no Brasil – a tendência mundial, a desqualificação do produto jornalístico, além do descolamento do perfil comportamental e de valores dos consumidores de notícias – levaram quem lê de fato a procurar alternativas, que foram encontradas nos novos portais digitais independentes.
Essa tendência foi reforçada pelo fato de que os melhores jornalistas, pensadores, formuladores, colunistas e líderes de opinião do país estão hoje atuando nos novos portais digitais e não na mídia tradicional, que por questões políticas e de economia afastou as referencias do pensamento brasileiro dos seus quadros.
Assim, na mídia digital hoje são encontrados jornalistas do calibre de Mino Carta, Fernando Morais, Luiz Carlos Azenha, Luís Nassif, Kiko Nogueira, Pepe Escobar, Tereza Cruvinel, Hildegard Angel, Ricardo Kotscho, Leonardo Attuch, Helena Chagas, Paulo Henrique Amorim, Brian Mier, Fernando Brito, Florestan Fernandes Filho, Juca Kfouri, Xico Sá, José Trajano, Lúcia Helena Issa e outros, que compõem o que há de melhor no jornalismo brasileiro, de longe. A mídia tradicional não tem em suas equipes nada que se compare aos jornalistas, que atualmente atuam no meio digital.
Além dessa seleção de jornalistas, os meios digitais também são os espaços onde atual os pensadores e pesquisadores mais renomados do país, alguns merecedores de admiração mundial, como Celso Amorim, Jesse de Souza, Eduardo Moreira, Marilena Chauí, Márcia Tiburi, Djamila Ribeiro, Leo Avritzer, Pedro Dallari, Ivana Jinkings, Raduan Nassar, Paulo Coelho, Emir Sader, Christian Dunker, Tata Amaral, Carol Proner, Luiz Carlos Bresser Pereira, Samuel Pinheiro Guimarães, Laura Carvalho, Leonardo Yarochewsky, Paulo Sérgio Pinheiro e muitos outros líderes de opinião no Brasil.
Esta verdadeira seleção do que há de melhor no pensamento brasileiro faz com que os novos portais da nova mídia digital sejam um excelente produto para quem quer consumir jornalismo. Em termos de marketing empresarial, os novos portais estão construindo uma vantagem competitiva insuperável, com relação aos seus concorrentes da velha mídia tradicional, porque somente esses veículos oferecem o que o verdadeiro consumidor de notícias demanda: notícias, abordadas com profundidade, qualidade, seriedade e um grau de isenção maior.
Há pesquisas indicando que os hábitos já mudaram. Há alguns anos um cidadão consumidor de notícias começava o dia lendo seu jornal preferido no café da manhã. Hoje, antes de chegar à mesa do café, ele já acessou vários sites de notícias e não compra ou assina mais jornais.
Na medida em que essa nova mídia, que já é uma realidade, se consolidar economicamente, seus veículos irão dominar o mercado editorial de jornalismo no Brasil, levando à provável extinção as empresas antigas que se perderam a confiança do consumidor – e confiança é uma coisa que as marcas não recuperam.
Portanto, os gestores mais atentos de marketing precisam se libertar dos paradigmas antigos, que estão sendo superados, a fim de voltar os seus olhares para aonde está o presente e o futuro da comunicação no Brasil: os portais independentes digitais, onde estão os melhores produtores de conteúdo do país.
* Evilazio Gonzaga é jornalista, publicitário, especialista em marketing e empresário de comunicação.
Estive em São Paulo visitando diversos portais que estão sendo pioneiros na configuração de uma nova etapa da mídia brasileira de notícias. Há várias iniciativas ocorrendo no Brasil e no mundo, a exemplo do The Intercept, que tem como editor o jornalista Glenn Greenwald, laureado com o Prêmio Pulitzer – o mais importante prêmio do jornalismo internacional outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. É administrado pela Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque.
O Intercept atinge milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil a experiência estimulou o surgimento de diversas experiências digitais no jornalismo, que estão alcançando um impressionante sucesso. Os dez portais mais importantes, Brasil 247, DCM, Nocaute, Revista Fórum, Carta Capital, Viomundo, O Tijolaço, Conversa Afiada e a edição brasileira do El Pais, entre outros, atingem mais de 70 milhões de pessoas.
Para efeito de comparação, o principal jornal do país, a Folha de S. Paulo, que já foi consumido por mais de um milhão de pessoas, hoje não chega a 70 mil leitores diários em sua versão impressa. O mesmo ocorre com o jornalismo das redes de televisão. A audiência do jornalismo televisivo cai constantemente e as redes giram sua programação para o entretenimento – mesmo assim sem obter uma substancial recuperação de audiência, cada vez mais atraída por canais como o Netflix ou HBO Plus, Amazon e outros.
Qual a razão de tamanho sucesso dos portais jornalísticos, em tão pouco tempo?
São várias. A primeira é uma tendência mundial, que leva os usuários a optarem pelas novas tecnologias, muito mais acessíveis e práticas do que os mecanismos de comunicação tradicionais que se tornam obsoletos. Os meios digitais permitem às pessoas o acesso ao conteúdo onde estiverem, no horário que preferem, no ritmo mais adequado às suas vidas e em um pequeno aparelho celular todas as opções de mídia estão disponíveis: músicas, vídeos, textos, fotos, ou qualquer registro possível.
Além disso, existe a possibilidade de interconectividade. O usuário, que antes era um mero indivíduo perdido e insignificante na multidão, agora pode se conectar com seu jornalista, comentarista ou programa preferido e emitir a sua opinião. O efeito disso não tem comparação com as arcaicas cartas à redação ou os telefonemas para os programas de rádio ou TV, que pela limitação de espaço e tempo eram obrigados a selecionar apenas umas pouquíssimas amostras.
Essa tendência mundial foi acelerada no Brasil, pelos problemas políticos que atingiram o país. O consumidor de notícias padrão é um indivíduo com boa formação cultural e humanista. Mesmo que seja um profissional de atividades técnicas, como um mecânico, um engenheiro, um médico ou um mestre de obras, o consumidor de notícias típico possui interesses que vão além do seu cotidiano, exige um grau maior de profundidade nas informações que acessa, tem mais bagagem de cultura geral, é influenciado pelo iluminismo, tende a ser humanista, aceita o multiculturalismo, se considera um democrata, rejeita as soluções autoritárias e despreza a violência. Essas pessoas tendem a gostar de matérias mais complexas, textos analíticos, procuram compreender o que há por trás das notícias e se esforçam para relacionar as informações que recebem com o mundo em que vivem.
A mídia brasileira, desde que passou a seguir a fórmula do fenômeno efêmero do US Today nos Estados Unidos, abandonou o jornalismo de matérias mais aprofundadas. A regra do limite de 20 linhas do US Today passou a ser o padrão seguido pela quase totalidade dos veículos nacionais, inclusive os especializados em economia, como o Valor Econômico. Reportagens de folego, que procuram dissecar os acontecimentos, passaram a ser raridade na mídia brasileira.
Isso levou o leitor típico de jornalismo a procurar outras fontes de informação.
O golpe mais forte no jornalismo tradicional, no entanto foi no âmbito político. O leitor típico de jornalismo, descrito acima, pode ser colocado no leque de cores da política no amplo espectro, que vai do centro liberal à esquerda.
A mídia brasileira, desprezando seu consumidor – o que é um erro grave no marketing – passou a assumir uma posição francamente de direita, principalmente a partir de 2013. De lá, para cá todos os veículos da mídia tradicional foram radicalizando as suas posições, com objetivos claramente políticos. No processo, cometeram heresias suicidas para o produto que vendem (informação) e chegaram a divulgar notícias falsas – batizadas com o neologismo de fakenews.
O posicionamento político parcial, extremamente evidente da mídia tradicional, foi considerado uma traição aos consumidores típicos de jornalismo. Trair a confiança dos consumidores é o maior erro que uma marca pode cometer, de acordo com qualquer manual de marketing.
Os três efeitos combinados no Brasil – a tendência mundial, a desqualificação do produto jornalístico, além do descolamento do perfil comportamental e de valores dos consumidores de notícias – levaram quem lê de fato a procurar alternativas, que foram encontradas nos novos portais digitais independentes.
Essa tendência foi reforçada pelo fato de que os melhores jornalistas, pensadores, formuladores, colunistas e líderes de opinião do país estão hoje atuando nos novos portais digitais e não na mídia tradicional, que por questões políticas e de economia afastou as referencias do pensamento brasileiro dos seus quadros.
Assim, na mídia digital hoje são encontrados jornalistas do calibre de Mino Carta, Fernando Morais, Luiz Carlos Azenha, Luís Nassif, Kiko Nogueira, Pepe Escobar, Tereza Cruvinel, Hildegard Angel, Ricardo Kotscho, Leonardo Attuch, Helena Chagas, Paulo Henrique Amorim, Brian Mier, Fernando Brito, Florestan Fernandes Filho, Juca Kfouri, Xico Sá, José Trajano, Lúcia Helena Issa e outros, que compõem o que há de melhor no jornalismo brasileiro, de longe. A mídia tradicional não tem em suas equipes nada que se compare aos jornalistas, que atualmente atuam no meio digital.
Além dessa seleção de jornalistas, os meios digitais também são os espaços onde atual os pensadores e pesquisadores mais renomados do país, alguns merecedores de admiração mundial, como Celso Amorim, Jesse de Souza, Eduardo Moreira, Marilena Chauí, Márcia Tiburi, Djamila Ribeiro, Leo Avritzer, Pedro Dallari, Ivana Jinkings, Raduan Nassar, Paulo Coelho, Emir Sader, Christian Dunker, Tata Amaral, Carol Proner, Luiz Carlos Bresser Pereira, Samuel Pinheiro Guimarães, Laura Carvalho, Leonardo Yarochewsky, Paulo Sérgio Pinheiro e muitos outros líderes de opinião no Brasil.
Esta verdadeira seleção do que há de melhor no pensamento brasileiro faz com que os novos portais da nova mídia digital sejam um excelente produto para quem quer consumir jornalismo. Em termos de marketing empresarial, os novos portais estão construindo uma vantagem competitiva insuperável, com relação aos seus concorrentes da velha mídia tradicional, porque somente esses veículos oferecem o que o verdadeiro consumidor de notícias demanda: notícias, abordadas com profundidade, qualidade, seriedade e um grau de isenção maior.
Há pesquisas indicando que os hábitos já mudaram. Há alguns anos um cidadão consumidor de notícias começava o dia lendo seu jornal preferido no café da manhã. Hoje, antes de chegar à mesa do café, ele já acessou vários sites de notícias e não compra ou assina mais jornais.
Na medida em que essa nova mídia, que já é uma realidade, se consolidar economicamente, seus veículos irão dominar o mercado editorial de jornalismo no Brasil, levando à provável extinção as empresas antigas que se perderam a confiança do consumidor – e confiança é uma coisa que as marcas não recuperam.
Portanto, os gestores mais atentos de marketing precisam se libertar dos paradigmas antigos, que estão sendo superados, a fim de voltar os seus olhares para aonde está o presente e o futuro da comunicação no Brasil: os portais independentes digitais, onde estão os melhores produtores de conteúdo do país.
* Evilazio Gonzaga é jornalista, publicitário, especialista em marketing e empresário de comunicação.
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