Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
O que se revela, hoje, na Folha, com a transcrição dos diálogos entre o coordenador da “Força Tarefa” da Lava Jato, seus colegas, o juiz Sérgio Moro e o então procurador geral da República, Rodrigo Janot não é apenas a mais grossa “picaretagem” para ganhar (muito) dinheiro às custas do serviço público pelo qual já eram regiamente remunerados.
É crime.
Embora uma “cambalhota” flexibilize a proibição de outras atividades a juízes e promotores, admitindo a participação “esporádica” remunerada em palestras, não é disso que se trata. São os planos de montagem de uma estrutura profissional – e semi-clandestina, porque formalmente em nome de suas mulheres – para ganhar uma bolada de dinheiro explorando o prestígio alcançado com a Operação, isto é, com o exercício de suas funções.
Prestígio, claro, que crescia com a produção de fatos bombásticos e sua repercussão na imprensa.
A descrição da Folha não poderia ser mais explícita:
A ideia de criar uma empresa de eventos para aproveitar a repercussão da Lava Jato foi manifestada por Deltan em dezembro de 2018 em um diálogo com a mulher dele.
No mesmo mês, o procurador e o colega dele na força-tarefa da Lava Jato Roberson Pozzobon criaram um grupo de mensagens específico para discutir o tema, com a participação das esposas deles.
“Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, afirmou Deltan no chat.
Pozzobon respondeu: “Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro”.
No mês seguinte, o procurador manifestou a expectativa para o fechamento de 2018.
“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse o procurador.
Deltan também é generoso, ao propor, em diálogos “de botequim” ao procurador geral Rodrigo Janot palestras a R$ 30 mil de cachê, em junho de 2018.
Depois de abordar o curso, ele comentou: “Tava aqui gerenciando msgs e vi que fui direto ao ponto kkkk Tudo bem com Vc? Espero que esteja aproveitando bastante, tomando muita água de coco e dormindo o sono dos justos rs Agora, vou te dizer, Vc faz uma faaaaaaaltaaaaa”.
“Oi amigo kkkkkk”, respondeu Janot. “Considero sim mas teremos que falar sobre cache. Grato pela lembra”.
Deltan perguntou se o cachê oficial do ex-chefe era de R$ 30 mil e sinalizou que faculdades normalmente “não pagam esse valor”¦ mas se pedir uns 15k [R$ 15 mil], acho que pagam”.
Janot, é bom lembrar, ainda estava (ou parecia estar) no serviço ativo, pois só se aposentou em 25 de abril deste ano.
O mesmo com Sérgio Moro, a quem sugere que cobre mais por uma palestra organizada pelo procurador de SP Edilson Mougenot, ao qual está cobrando R$ 5 mil para participar e sugere ao juiz que “poderia pedir bem mais se quisesse, evidentemente, e aposto que pagam”.
Deixa claro, também, que a doação de valores altos a instituições de caridade é uma “cobertura” para “valores menores, que reservo para mim”.
É, considero, a revelação que mais impacto terá na opinião pública.
Nela, não há a “desculpa” que tem sido aceita pela hipocrisia reinante, de que as transgressões éticas e legais se justificariam por “combater a corrupção”.
Agora são por dinheiro, mesmo.
E muito.
O que se revela, hoje, na Folha, com a transcrição dos diálogos entre o coordenador da “Força Tarefa” da Lava Jato, seus colegas, o juiz Sérgio Moro e o então procurador geral da República, Rodrigo Janot não é apenas a mais grossa “picaretagem” para ganhar (muito) dinheiro às custas do serviço público pelo qual já eram regiamente remunerados.
É crime.
Embora uma “cambalhota” flexibilize a proibição de outras atividades a juízes e promotores, admitindo a participação “esporádica” remunerada em palestras, não é disso que se trata. São os planos de montagem de uma estrutura profissional – e semi-clandestina, porque formalmente em nome de suas mulheres – para ganhar uma bolada de dinheiro explorando o prestígio alcançado com a Operação, isto é, com o exercício de suas funções.
Prestígio, claro, que crescia com a produção de fatos bombásticos e sua repercussão na imprensa.
A descrição da Folha não poderia ser mais explícita:
A ideia de criar uma empresa de eventos para aproveitar a repercussão da Lava Jato foi manifestada por Deltan em dezembro de 2018 em um diálogo com a mulher dele.
No mesmo mês, o procurador e o colega dele na força-tarefa da Lava Jato Roberson Pozzobon criaram um grupo de mensagens específico para discutir o tema, com a participação das esposas deles.
“Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, afirmou Deltan no chat.
Pozzobon respondeu: “Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro”.
Após discussões sobre formatos do negócio, em 14 de fevereiro de 2019 Deltan propôs que a empresa fosse aberta em nome das mulheres deles, e que a organização dos eventos ficasse a cargo de Fernanda Cunha, dona da firma Star Palestras e Eventos.
A renda da picaretagem não era pequena, segundo Deltan Dallagnol descreve nos diálogos com sua mulher, Fernanda:
Cerca de três meses antes de iniciar o grupo para discutir a abertura da empresa, Deltan informou a esposa sobre a lucratividade das palestras apurada até setembro de 2018.
A renda da picaretagem não era pequena, segundo Deltan Dallagnol descreve nos diálogos com sua mulher, Fernanda:
Cerca de três meses antes de iniciar o grupo para discutir a abertura da empresa, Deltan informou a esposa sobre a lucratividade das palestras apurada até setembro de 2018.
“As palestras e aulas já tabeladas neste ano estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo… 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo.”
No mês seguinte, o procurador manifestou a expectativa para o fechamento de 2018.
“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse o procurador.
Deltan também é generoso, ao propor, em diálogos “de botequim” ao procurador geral Rodrigo Janot palestras a R$ 30 mil de cachê, em junho de 2018.
Depois de abordar o curso, ele comentou: “Tava aqui gerenciando msgs e vi que fui direto ao ponto kkkk Tudo bem com Vc? Espero que esteja aproveitando bastante, tomando muita água de coco e dormindo o sono dos justos rs Agora, vou te dizer, Vc faz uma faaaaaaaltaaaaa”.
“Oi amigo kkkkkk”, respondeu Janot. “Considero sim mas teremos que falar sobre cache. Grato pela lembra”.
Deltan perguntou se o cachê oficial do ex-chefe era de R$ 30 mil e sinalizou que faculdades normalmente “não pagam esse valor”¦ mas se pedir uns 15k [R$ 15 mil], acho que pagam”.
Janot, é bom lembrar, ainda estava (ou parecia estar) no serviço ativo, pois só se aposentou em 25 de abril deste ano.
O mesmo com Sérgio Moro, a quem sugere que cobre mais por uma palestra organizada pelo procurador de SP Edilson Mougenot, ao qual está cobrando R$ 5 mil para participar e sugere ao juiz que “poderia pedir bem mais se quisesse, evidentemente, e aposto que pagam”.
Deixa claro, também, que a doação de valores altos a instituições de caridade é uma “cobertura” para “valores menores, que reservo para mim”.
É, considero, a revelação que mais impacto terá na opinião pública.
Nela, não há a “desculpa” que tem sido aceita pela hipocrisia reinante, de que as transgressões éticas e legais se justificariam por “combater a corrupção”.
Agora são por dinheiro, mesmo.
E muito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: