Por Joaquim Ernesto Palhares, no site Carta Maior:
A história apertou o passo em nosso país nos últimos dias.
As contradições que a impulsionam estão longe de serem resolvidas e as forças democráticas e progressistas não estão suficientemente fortes para direcionar o seu curso.
Mas o tabuleiro político se mexeu.
E o fez de forma a ampliar os espaços da luta pela construção de uma verdadeira democracia social no Brasil.
A derrota fragorosa de Maurício Macri nas primárias argentinas soou o alarme também no Brasil.
O repúdio maciço do eleitor do país vizinho a uma receita antissocial e antinacional de Estado precificou o governo Bolsonaro aqui.
Não por acaso o ministro Paulo Guedes curtiu o dayafter da ressaca implorando um pacto de ‘um a dois anos’ para implantar o que chamou impropriamente de ‘liberal-democracia’ contra o povo brasileiro
Mercados não operam por misericórdia: após a sua fala, a Bolsa brasileira zerou ganhos, o dólar disparou e o ouro passou de R$ 1500 a onça.
O rechaço eleitoral ao ultraneoliberalismo evidencia uma relação intrinsecamente antagônica entre a des-emancipação social que se quer enfiar goela abaixo da sociedade –aqui e lá-- e a soberania da vontade popular.
A contradição entre essas duas lógicas vai se aprofundar.
As forças democráticas e progressistas da sociedade precisam se preparar para os dias que virão.
Sem uma organização ampla, coordenada e capilar dos anseios amplos da população, os espaços que se abrem a olhos vistos serão desperdiçados. Ou, pior: logo se fecharão sob formas ainda mais asfixiantes de blindagem política e econômica.
A derrotada tentativa de transferência do ex-Presidente Lula, da sede regional da Polícia Federal, em Curitiba, para uma cela comum no sistema prisional subordinado a Dória Júnior, em São Paulo, reúne variáveis importantes desse tabuleiro em movimento.
Há uma luta surda pelo controle do poder no interior do bloco que derrubou o governo Dilma em 2016 e chegou à Presidência da República com o trapaceado jogo eleitoral de 2018.
Os vazamentos divulgados pelo Intercept Brasil aceleram essa fricção ao encurralar a polícia política da Lava Jato, que se lançou num vale-tudo pela sobrevivência.
O poder de guilhotina e chantagem nas mãos de Moro & CIA já não interessa mais a muitos ex-aliados ameaçados, tampouco a segmentos empresariais cansados da guerra diante de uma economia que não decola. E que tem agora no espelho argentino os riscos faiscantes do futuro.
Tensão política e estagnação econômica compõem a nitroglicerina que se acumula perigosamente com as erupções diuturnas de um Presidente da República cuja inépcia se socorre da virulência ensandecida para alimentar e expandir um enclave extremista na sociedade.
A frente informal criada contra a transferência de Lula para São Paulo expôs as trincas e fendas que pulsam sob o aparente granito de um governo agressivo e autocrático.
Sem ilusões, porém.
Alianças democráticas pontuais, necessárias e valiosas, não atenuam a devastação à qual alguns aliados momentâneos se debruçam, permanentemente, desde o golpe de 2016, para escalpelar a Carta de 1988 dos pilares de direitos e soberania conquistados com a derrubada da ditadura.
Um dado resume todos os demais: no mesmo dia em que se impedia a transferência de Lula para São Paulo aprovava-se na Câmara a autorização para que Estado brasileiro pague menos que um salário mínimo a viúvas pobres e miseráveis.
A lição é clara: não haverá democracia social verdadeira por aqui sem uma organização forte, autônoma e capilar da sociedade para lutar constantemente por seus direitos.
O abrigo da esperança é a rua.
Mas não a rua desorganizada.
Sedimentar a energia que para ela fluirá de agora em diante é o sentido engajado da mais nova iniciativa tomada por Carta Maior em parceria com o Fórum 21: a criação de uma Editoria de Web Rádio ‘Sua Voz na Conjuntura’, no ar desde o dia 5 de agosto e que você pode acessar aqui: http://bit.ly/2YKimHN
Amplificar a palavra de intelectuais e lideranças sociais nas frentes de lutas através da participação na ‘Sua Voz na Conjuntura’ é mais uma contribuição que nos propomos trazer a esse desafio organizativo.
É crucial aprofundar o entendimento das raízes estruturais dos desafios brasileiros, que só tendem a se agravar sob o domínio do radicalismo neoliberal.
A compreensão histórica dos cerceamentos cotidianos é a base para a construção de canais participativos amplos que vão alimentar as ruas e as propostas setoriais de um novo projeto de desenvolvimento.
A parceria com leitoras, leitores e ouvintes, cuja contribuição para sustentar Carta Maior é indispensável, é parte desse entendimento mútuo, temos certeza, de que não haverá luta consequente por democracia social no Brasil sem braços de comunicação progressistas, financeiramente independentes, dotados de energia própria para resistir à escalada da escuridão.
Contamos com você. Sigamos juntos na construção da avenida larga que a história nos cobra neste momento.
* Joaquim Palhares é diretor de redação.
A história apertou o passo em nosso país nos últimos dias.
As contradições que a impulsionam estão longe de serem resolvidas e as forças democráticas e progressistas não estão suficientemente fortes para direcionar o seu curso.
Mas o tabuleiro político se mexeu.
E o fez de forma a ampliar os espaços da luta pela construção de uma verdadeira democracia social no Brasil.
A derrota fragorosa de Maurício Macri nas primárias argentinas soou o alarme também no Brasil.
O repúdio maciço do eleitor do país vizinho a uma receita antissocial e antinacional de Estado precificou o governo Bolsonaro aqui.
Não por acaso o ministro Paulo Guedes curtiu o dayafter da ressaca implorando um pacto de ‘um a dois anos’ para implantar o que chamou impropriamente de ‘liberal-democracia’ contra o povo brasileiro
Mercados não operam por misericórdia: após a sua fala, a Bolsa brasileira zerou ganhos, o dólar disparou e o ouro passou de R$ 1500 a onça.
O rechaço eleitoral ao ultraneoliberalismo evidencia uma relação intrinsecamente antagônica entre a des-emancipação social que se quer enfiar goela abaixo da sociedade –aqui e lá-- e a soberania da vontade popular.
A contradição entre essas duas lógicas vai se aprofundar.
As forças democráticas e progressistas da sociedade precisam se preparar para os dias que virão.
Sem uma organização ampla, coordenada e capilar dos anseios amplos da população, os espaços que se abrem a olhos vistos serão desperdiçados. Ou, pior: logo se fecharão sob formas ainda mais asfixiantes de blindagem política e econômica.
A derrotada tentativa de transferência do ex-Presidente Lula, da sede regional da Polícia Federal, em Curitiba, para uma cela comum no sistema prisional subordinado a Dória Júnior, em São Paulo, reúne variáveis importantes desse tabuleiro em movimento.
Há uma luta surda pelo controle do poder no interior do bloco que derrubou o governo Dilma em 2016 e chegou à Presidência da República com o trapaceado jogo eleitoral de 2018.
Os vazamentos divulgados pelo Intercept Brasil aceleram essa fricção ao encurralar a polícia política da Lava Jato, que se lançou num vale-tudo pela sobrevivência.
O poder de guilhotina e chantagem nas mãos de Moro & CIA já não interessa mais a muitos ex-aliados ameaçados, tampouco a segmentos empresariais cansados da guerra diante de uma economia que não decola. E que tem agora no espelho argentino os riscos faiscantes do futuro.
Tensão política e estagnação econômica compõem a nitroglicerina que se acumula perigosamente com as erupções diuturnas de um Presidente da República cuja inépcia se socorre da virulência ensandecida para alimentar e expandir um enclave extremista na sociedade.
A frente informal criada contra a transferência de Lula para São Paulo expôs as trincas e fendas que pulsam sob o aparente granito de um governo agressivo e autocrático.
Sem ilusões, porém.
Alianças democráticas pontuais, necessárias e valiosas, não atenuam a devastação à qual alguns aliados momentâneos se debruçam, permanentemente, desde o golpe de 2016, para escalpelar a Carta de 1988 dos pilares de direitos e soberania conquistados com a derrubada da ditadura.
Um dado resume todos os demais: no mesmo dia em que se impedia a transferência de Lula para São Paulo aprovava-se na Câmara a autorização para que Estado brasileiro pague menos que um salário mínimo a viúvas pobres e miseráveis.
A lição é clara: não haverá democracia social verdadeira por aqui sem uma organização forte, autônoma e capilar da sociedade para lutar constantemente por seus direitos.
O abrigo da esperança é a rua.
Mas não a rua desorganizada.
Sedimentar a energia que para ela fluirá de agora em diante é o sentido engajado da mais nova iniciativa tomada por Carta Maior em parceria com o Fórum 21: a criação de uma Editoria de Web Rádio ‘Sua Voz na Conjuntura’, no ar desde o dia 5 de agosto e que você pode acessar aqui: http://bit.ly/2YKimHN
Amplificar a palavra de intelectuais e lideranças sociais nas frentes de lutas através da participação na ‘Sua Voz na Conjuntura’ é mais uma contribuição que nos propomos trazer a esse desafio organizativo.
É crucial aprofundar o entendimento das raízes estruturais dos desafios brasileiros, que só tendem a se agravar sob o domínio do radicalismo neoliberal.
A compreensão histórica dos cerceamentos cotidianos é a base para a construção de canais participativos amplos que vão alimentar as ruas e as propostas setoriais de um novo projeto de desenvolvimento.
A parceria com leitoras, leitores e ouvintes, cuja contribuição para sustentar Carta Maior é indispensável, é parte desse entendimento mútuo, temos certeza, de que não haverá luta consequente por democracia social no Brasil sem braços de comunicação progressistas, financeiramente independentes, dotados de energia própria para resistir à escalada da escuridão.
Contamos com você. Sigamos juntos na construção da avenida larga que a história nos cobra neste momento.
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* Joaquim Palhares é diretor de redação.
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