Novato no ninho tucano, João Doria já se achava o dono do PSDB. Em curto espaço de tempo, ele traiu o seu padrinho político Geraldo Alckmin, costurando a chapa informal BolsoDoria; ousado, o ex-prefake abandonou a capital paulista e elegeu-se governador em um pleito apertado; e, ambicioso, ele ainda tomou de assalto a direção estadual da sigla. “João Dólar” parecia imbatível, mas ficou impotente nesta semana. Em um gesto surpreendente, a executiva nacional do PSDB rejeitou sua articulação para expulsar o mineiro Aécio Neves.
O revés complica os planos do lobista, que já se portava como o presidenciável da legenda para 2022. Como observa Igor Gielow, em matéria na Folha nessa quinta-feira (22), “a acachapante derrota de João Doria está sendo comemorada pelos adversários do governador paulista como um golpe que irá moderar o seu apetite por poder dentro da sigla. Um dos organizadores do movimento que salvou Aécio Neves afirma, sob reserva, que a toxicidade do mineiro já cobrou todo o preço que poderia no péssimo desempenho nacional do PSDB em 2018. Segundo esse raciocínio, impor limites a um cada vez mais poderoso Doria seria imperativo”.
De imediato, o arrogante João Doria minimizou a derrota – 30 votos favoráveis ao tucano mineiro e apenas quatro contra – e se jactou. “Fui eleito com mais de 13 milhões de votos, eu não dependo de 34 votos para ter vida política, e muito menos o Bruno Covas, que foi eleito comigo prefeito da capital”. Seu sucessor na prefeitura ameaçou deixar o PSDB se Aécio Neves não fosse expulso. “Ou eu ou ele”, esbravejou – e agora pode morder a língua. Já o governador jura que respeitará a decisão da executiva nacional do partido. Mas ninguém acredita muito na palavra de João Doria, um famoso traidor – segundo o próprio Geraldo Alckmin,
“Como registra Igor Gielow, “o histórico da dinâmica interpessoal entre o governador e integrantes das alas mais antigas do tucanato parece implicar outra coisa: um caminho de rompimento”. Ou seja: as bicadas no ninho devem seguir sangrentas. Tentando viabilizar a sua candidatura presidencial, João Doria já dá sinais de afastamento do “capetão” Jair Bolsonaro – com quem o oportunista pegou carona no ano passado – e tenta se travestir de ético. Daí seu esforço para enxotar Aécio Neves e para criar o que ele chama de “novo PSDB”.
Seu discurso é dos mais cínicos. “Vamos ter que fazer um enfrentamento daqueles que ainda querem o velho PSDB, o PSDB antigo, que esconde sujeiras e problemas debaixo do tapete, que adia decisões, que gosta de caminhar acima do muro... Como sou perseverante, vou levar isso até o fim. Saberemos o lado bom, o lado daqueles que querem um partido moderno, vibrante, próximo da população, para ser vencedor e não ser um partido de derrotados, será o partido que praticará a justiça, a decência e a transparência”. O ninho sangra!
Em tempo: Um dos principais responsáveis pelo caos político instalado no país – que resultou no golpe contra Dilma Rousseff, na chegada ao poder da quadrilha de Michel Temer e na eleição do fascista Jair Bolsonaro –, Aécio Neves conseguiu se safar de nova humilhação nesta semana. Mas sua carreira virou pó e ele não aspira mais nada. Até a Folha de S.Paulo, que no passado fez campanha eleitoral disfarçada para o tucano mineiro, hoje gosta de relembrar seu passado mais sujo do que pau de galinheiro.
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O que pesa contra Aécio Neves
AÇÃO PENAL
R$ 2 milhões - Mineiro é réu sob acusação de corrupção passiva e obstrução de Justiça, relativo ao episódio em que solicitou R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS. Onde tramita? Justiça Federal de São Paulo. O que diz Aécio? Não houve crime, o dinheiro era um empréstimo pedido a Joesley
INVESTIGAÇÕES
JBS - Apura se Aécio recebeu mais de R$ 60 milhões por meio de notas fiscais frias, como aponta delação dos empresários. Onde tramita? Justiça Federal de São Paulo. O que diz Aécio? A defesa diz que a investigação se refere a doações eleitorais feitas em 2014 a diversos partidos, e não a Aécio. Mas o inquérito fala em "recebimento, no ano de 2014, de propina da ordem de mais de R$ 60 milhões", que serviu para pagar os partidos
Cidade Administrativa - Aécio, de acordo com ex-executivos da Odebrecht, organizou esquema de fraude a licitações quando era governador de Minas Gerais, em troca de receber 3% do valor do contrato, como propina. Onde tramita? Justiça Estadual de Minas Gerais. O que diz Aécio? Não existe a declaração de ex-executivos Odebrecht de que Aécio tenha solicitado propina sobre obras da Cidade Administrativa. Porém, inquérito diz que Aécio fraudou licitação da obra "com o escopo último de obter propinas"
Eleitoral - Odebrecht teria pago, a pedido de Aécio, caixa dois a campanhas de 2010 em Minas Gerais. Onde tramita? Justiça Eleitoral de Minas Gerais. O que diz Aécio? Aécio não discutiu doações ou contrapartidas com executivos da Odebrecht.
2014 - Aécio solicitou, por meio de contratos fictícios com empresa de marketing, R$ 6 milhões para a campanha à Presidência de 2014, segundo delatores da Odebrecht. Onde tramita? Supremo Tribunal Federal. O que diz Aécio? Aécio não discutiu doações ou contrapartidas com executivos da Odebrecht. Inquérito fala em "suposto pagamento [...] por parte do Grupo Odebrecht, a pedido de Aécio", para campanhas em 2014
Aliados - A pedido do tucano, aliados receberam R$ 6 milhões não contabilizados em 2014, de acordo com executivos da Odebrecht. Onde tramita? Supremo Tribunal Federal. O que diz Aécio? Aécio não discutiu doações ou contrapartidas com executivos da Odebrecht. Inquérito fala em "suposto pagamento [...] por parte do Grupo Odebrecht, a pedido de Aécio", para campanhas em 2014
Furnas - Investiga se tucano esteve envolvido em suposto esquema de lavagem de dinheiro na estatal. Onde tramita? Supremo Tribunal Federal. O que diz Aécio? Não existe sequer um depoimento ou documento que aponte qualquer irregularidade
Hidrelétricas - Aécio teria acertado propina para defender interesses da Odebrecht e Andrade Gutierrez nas obras das usinas de Santo Antônio e Jirau. Onde tramita? Supremo Tribunal Federal. O que diz Aécio? Foi uma obra do governo do PT, não havendo participação do governo de Minas Gerais. Inquérito fala em "supostos pagamentos ilícitos feitos pelo Grupo Odebrecht em favor de parlamentares", incluindo Aécio
O QUE FOI ARQUIVADO
Mensalão tucano - Aécio foi investigado por suposta maquiagem para esconder a existência do esquema que irrigou a campanha de Eduardo Azeredo ao Governo de Minas Gerais em 1998. Investigação arquivada pelo ministro Gilmar Mendes (STF) a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge
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