Brasília, 14/8/19. Foto: Méle Dornelas/Marcha das Margaridas |
A presença de uma massa estimada em 100.000 mulheres desfilando por Brasília, na manhã de quarta-feira, merece ser celebrada pelo país inteiro. Ajuda a refletir sobre nosso passado e a pensar o futuro.
A Marcha nasceu para homenagear uma das grandes lideranças femininas do país, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.
Disposta a organizar trabalhadores e trabalhadoras em plena ditadura militar - conseguiu o primeiro mandato em 1973, período em que a tortura e execução de adversários políticos eram rotina no país -, Margarida levou uma luta sem trégua na defesa de direitos que, meio século depois, se encontram sob ameaça no Brasil de Jair Bolsonaro, como o registro em carteira, férias e 13o salário.
Em 1983, quando a própria Margarida tinha apenas 30 anos de idade e a luta pela democracia dava seus primeiros passos, ela foi assassinada por uma bala de calibre 12 em frente de casa, na presença do marido e de um filha. Alvejada no rosto, sinal típico de crimes encomendados, sua herança combativa ("É melhor morrer de luta do que morrer de fome", costumava dizer) tornou-se exemplo e homenagem.
Dezessete anos depois do crime, 20 000 agricultoras, quilombolas e indígenas se reuniram numa primeira marcha, organizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura, Contag. Além de prestar homenagem a Margarida Alves, a mobilização ajudou a recolocar o debate sobre a reforma agrária na agenda política do país, prioridade sempre esquecida pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, onde se chegava a dizer que a concentração da propriedade da terra era assunto superado pela História.
Outras marchas se repetiram, sempre em 12 de agosto, mobilizando um número cada vez maior de mulheres. Num bom resumo da mobilização, em 2015, quando ocorreu uma das grandes manifestações da história, Alessandra da Costa Luna, Coordenadora Geral da Marcha e Secretaria de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag, definiu o movimento como um protesto "contra as desigualdades sociais; para denunciar todas as formas de violência, exploração e dominação e apresentar propostas para avançar na construção da democracia e da igualdade para as mulheres."
Primeira grande mobilização social do segundo semestre de 2019, a Marcha das Mulheres trouxe um sinal sinal forte da resistência a um governo que, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar, assume a defesa aberta e incondicional dos grandes proprietários de terra e seus interesses.
A partir da decisão de Jair Bolsonaro de paralisar a reforma agrária, anunciada logo depois da posse, áreas que há muito tempo eram ocupadas por famílias de pequenos agricultores podem ser devolvidas aos antigos proprietários.
Só na região Sul e Sudeste do Pará há pelo menos 20 áreas que enfrentam este processo, informa o repórter Fabiano Maisonnave (Folha de S. Paulo, 4/08/2019).
Na campanha presidencial, Bolsonaro chegou a chamar o MST de grupo "terrorista". Já no Planalto, baixou um decreto escandaloso para facilitar a posse de armas de fogo, que tem os grandes fazendeiros como seus beneficiários óbvios.
"Estamos na Marcha para debater o futuro do país e as necessidades do povo", disse Atiliana Brunetto, da Direção Nacional do MST, em entrevista ao 247. "Temos um governo que estimula a violência e tenta desmoralizar os movimentos sociais", acrescenta, observando que, pela primeira vez em muitos anos, a polícia acompanhou a Marcha de modo ostensivo.
Outra diferença é que, em anos anteriores, as lideranças chegaram a recebidas no Planalto, para apresentar pleitos e reivindicações, hipótese sequer imaginada em 2019, diante das hostilidades permanente por parte do governo. "Mais do que nunca, a solução de nossas reivindicações irá depender de nossa luta e de nós mesmas", diz Atiliana Brunetto.
Alguma dúvida?
A Marcha nasceu para homenagear uma das grandes lideranças femininas do país, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.
Disposta a organizar trabalhadores e trabalhadoras em plena ditadura militar - conseguiu o primeiro mandato em 1973, período em que a tortura e execução de adversários políticos eram rotina no país -, Margarida levou uma luta sem trégua na defesa de direitos que, meio século depois, se encontram sob ameaça no Brasil de Jair Bolsonaro, como o registro em carteira, férias e 13o salário.
Em 1983, quando a própria Margarida tinha apenas 30 anos de idade e a luta pela democracia dava seus primeiros passos, ela foi assassinada por uma bala de calibre 12 em frente de casa, na presença do marido e de um filha. Alvejada no rosto, sinal típico de crimes encomendados, sua herança combativa ("É melhor morrer de luta do que morrer de fome", costumava dizer) tornou-se exemplo e homenagem.
Dezessete anos depois do crime, 20 000 agricultoras, quilombolas e indígenas se reuniram numa primeira marcha, organizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura, Contag. Além de prestar homenagem a Margarida Alves, a mobilização ajudou a recolocar o debate sobre a reforma agrária na agenda política do país, prioridade sempre esquecida pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, onde se chegava a dizer que a concentração da propriedade da terra era assunto superado pela História.
Outras marchas se repetiram, sempre em 12 de agosto, mobilizando um número cada vez maior de mulheres. Num bom resumo da mobilização, em 2015, quando ocorreu uma das grandes manifestações da história, Alessandra da Costa Luna, Coordenadora Geral da Marcha e Secretaria de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag, definiu o movimento como um protesto "contra as desigualdades sociais; para denunciar todas as formas de violência, exploração e dominação e apresentar propostas para avançar na construção da democracia e da igualdade para as mulheres."
Primeira grande mobilização social do segundo semestre de 2019, a Marcha das Mulheres trouxe um sinal sinal forte da resistência a um governo que, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar, assume a defesa aberta e incondicional dos grandes proprietários de terra e seus interesses.
A partir da decisão de Jair Bolsonaro de paralisar a reforma agrária, anunciada logo depois da posse, áreas que há muito tempo eram ocupadas por famílias de pequenos agricultores podem ser devolvidas aos antigos proprietários.
Só na região Sul e Sudeste do Pará há pelo menos 20 áreas que enfrentam este processo, informa o repórter Fabiano Maisonnave (Folha de S. Paulo, 4/08/2019).
Na campanha presidencial, Bolsonaro chegou a chamar o MST de grupo "terrorista". Já no Planalto, baixou um decreto escandaloso para facilitar a posse de armas de fogo, que tem os grandes fazendeiros como seus beneficiários óbvios.
"Estamos na Marcha para debater o futuro do país e as necessidades do povo", disse Atiliana Brunetto, da Direção Nacional do MST, em entrevista ao 247. "Temos um governo que estimula a violência e tenta desmoralizar os movimentos sociais", acrescenta, observando que, pela primeira vez em muitos anos, a polícia acompanhou a Marcha de modo ostensivo.
Outra diferença é que, em anos anteriores, as lideranças chegaram a recebidas no Planalto, para apresentar pleitos e reivindicações, hipótese sequer imaginada em 2019, diante das hostilidades permanente por parte do governo. "Mais do que nunca, a solução de nossas reivindicações irá depender de nossa luta e de nós mesmas", diz Atiliana Brunetto.
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