Por Ricardo Gebrim, no jornal Brasil de Fato:
Neste cenário atribulado em que os brasileiros se deparam espantados todo os dias com notícias desconcertantes, enfrentamos uma derrota profunda em que os nossos inimigos nos atacam com espantosa rapidez, extrema força e munidos com a capacidade de promover desmontes simultâneos.
Todo esse processo está aí, a nos desafiar, exigindo das forças de esquerda um esforço de análise mais árduo do que aquele realizado pelas gerações anteriores.
Nestas condições, como a ação das forças de esquerda pode deixar de ser apenas um mero amontoado de reclamações e iniciativas dispersas, sem teoria nem fidelidade a uma estratégia de poder?
O que podemos é nos esforçar para entender os desafios que a realidade objetiva nos coloca. E, somente a partir da identificação deles seremos capazes de traçar ações que permitam alterá-los desde já, ou propiciar condições para alterá-los em circunstâncias futuras.
Duas questões sobressaem neste momento, determinando a duração da atual correlação de forças. A primeira é a unidade do bloco de poder da burguesia. Uma ampla unidade das frações burguesas em torno dos pontos centrais do programa econômico do Paulo Guedes, que é basicamente a versão radicalizada do programa "Ponte para o Futuro" do MDB, em que Temer se oferecia como representante político do golpe.
É uma unidade efêmera, sem dúvida, pois as contradições com a burguesia interna persistem. Mas não se manifestam neste momento, mesmo diante de questões relevantes e contradições políticas. Por maior que seja a insatisfação e o desprezo causados por Bolsonaro e sua turma, a unidade em torno do programa econômico não se abala.
A grande burguesia internacional e a burguesia associada voltam a ocupar o papel central e em torno dela é que estão se somando as demais frações e mesmo a pequena burguesia. Essa é a configuração que se mantém desde o Golpe de 2016. Uma unidade que, ainda que permeada por críticas pontuais e alguma resistência da grande burguesia interna, mesmo com os incômodos com a retórica bolsonarista, cada vez mais constrangedora, mantém o efetivo apoio ao bloco de poder.
O que mantém essa unidade burguesa? Duas hipóteses se destacam. De um lado, o poder atrativo da massa de recursos que serão captados pelas privatizações, uma expectativa de entrada de recursos que gera um efeito similar ao papel atrativo que os empréstimos internacionais tiveram durante o milagre econômico na ditadura.
De outro lado, o papel da redução dos direitos trabalhistas e sindicais e a percepção empresarial de que a continuidade de governos neodesenvolvimentistas não teriam o que oferecer. Afinal, já eram insuficientes as desonerações fiscais possíveis. Com um cenário de impactos da crise econômica e situação recessiva, a margem de lucro não poderia ampliar com mercado interno, senão com redução de custo de mão de obra. Em outras palavras, com a crise, os pobres, o subproletariado brasileiro, não cabiam mais no orçamento da República e taxas de lucro passam a depender de arrocho e retirada de direitos.
Por sua vez, os setores médios ainda que apresentem um crescente desgaste no apoio ao governo, seguem majoritariamente atrelados às ações do bloco de poder e mesmo quando se desgarram, pontualmente e com uma visão difusa dos problemas, estão profundamente marcados com a frustração e desgaste em relação ao PT.
Em tal cenário, o movimento bolsonarista vem sendo uma útil representação política para a unidade burguesa que conforma o bloco de poder, na medida em que mantém e conserva base social na pequena burguesia e setores médios, atingindo ainda certa incidência em setores do proletariado e subproletariado.
A segunda questão decisiva é a situação de paralisia do proletariado. Não se trata de uma situação subjetiva da capacidade de lutar. A paralisia é determinada centralmente pelas condições materiais. As dificuldades desta desarticulação de direitos, formas de organização e perda salarial atingem os trabalhadores diretamente em suas possibilidades vitais, não apenas em seus exames mentais. Uma situação determinada pelo brutal e mais amplo ataque enfrentado nas últimas décadas.
As organizações de esquerda quando não traduzem a força social do proletariado são apenas um polo de resistência ideológica, cuja conservação é sempre necessária historicamente, mas impotente para incidir na luta política.
Enunciemos a questão: enquanto essa equação, cujos fatores centrais podem ser resumidos no binômio unidade das principais frações burguesas e paralisia do proletariado, não for rompida, permaneceremos nessa desfavorável correlação de forças.
A capacidade de discernir tendências gerais não implica a capacidade para prever seu resultado preciso em circunstâncias futuras desconhecidas, porém permanece sendo a melhor bússola para enfrentar as tempestades. Afinal, momentos históricos podem ser muito difíceis, mas não são insuperáveis. Compreender a realidade, por mais amarga que seja, é um passo necessário. Só assim potencializaremos nossas forças, nos preservaremos e acumularemos para incidir decisivamente ante circunstâncias favoráveis.
Não é tempo de temer os debates, por mais difíceis que se coloquem.
Todo esse processo está aí, a nos desafiar, exigindo das forças de esquerda um esforço de análise mais árduo do que aquele realizado pelas gerações anteriores.
Nestas condições, como a ação das forças de esquerda pode deixar de ser apenas um mero amontoado de reclamações e iniciativas dispersas, sem teoria nem fidelidade a uma estratégia de poder?
O que podemos é nos esforçar para entender os desafios que a realidade objetiva nos coloca. E, somente a partir da identificação deles seremos capazes de traçar ações que permitam alterá-los desde já, ou propiciar condições para alterá-los em circunstâncias futuras.
Duas questões sobressaem neste momento, determinando a duração da atual correlação de forças. A primeira é a unidade do bloco de poder da burguesia. Uma ampla unidade das frações burguesas em torno dos pontos centrais do programa econômico do Paulo Guedes, que é basicamente a versão radicalizada do programa "Ponte para o Futuro" do MDB, em que Temer se oferecia como representante político do golpe.
É uma unidade efêmera, sem dúvida, pois as contradições com a burguesia interna persistem. Mas não se manifestam neste momento, mesmo diante de questões relevantes e contradições políticas. Por maior que seja a insatisfação e o desprezo causados por Bolsonaro e sua turma, a unidade em torno do programa econômico não se abala.
A grande burguesia internacional e a burguesia associada voltam a ocupar o papel central e em torno dela é que estão se somando as demais frações e mesmo a pequena burguesia. Essa é a configuração que se mantém desde o Golpe de 2016. Uma unidade que, ainda que permeada por críticas pontuais e alguma resistência da grande burguesia interna, mesmo com os incômodos com a retórica bolsonarista, cada vez mais constrangedora, mantém o efetivo apoio ao bloco de poder.
O que mantém essa unidade burguesa? Duas hipóteses se destacam. De um lado, o poder atrativo da massa de recursos que serão captados pelas privatizações, uma expectativa de entrada de recursos que gera um efeito similar ao papel atrativo que os empréstimos internacionais tiveram durante o milagre econômico na ditadura.
De outro lado, o papel da redução dos direitos trabalhistas e sindicais e a percepção empresarial de que a continuidade de governos neodesenvolvimentistas não teriam o que oferecer. Afinal, já eram insuficientes as desonerações fiscais possíveis. Com um cenário de impactos da crise econômica e situação recessiva, a margem de lucro não poderia ampliar com mercado interno, senão com redução de custo de mão de obra. Em outras palavras, com a crise, os pobres, o subproletariado brasileiro, não cabiam mais no orçamento da República e taxas de lucro passam a depender de arrocho e retirada de direitos.
Por sua vez, os setores médios ainda que apresentem um crescente desgaste no apoio ao governo, seguem majoritariamente atrelados às ações do bloco de poder e mesmo quando se desgarram, pontualmente e com uma visão difusa dos problemas, estão profundamente marcados com a frustração e desgaste em relação ao PT.
Em tal cenário, o movimento bolsonarista vem sendo uma útil representação política para a unidade burguesa que conforma o bloco de poder, na medida em que mantém e conserva base social na pequena burguesia e setores médios, atingindo ainda certa incidência em setores do proletariado e subproletariado.
A segunda questão decisiva é a situação de paralisia do proletariado. Não se trata de uma situação subjetiva da capacidade de lutar. A paralisia é determinada centralmente pelas condições materiais. As dificuldades desta desarticulação de direitos, formas de organização e perda salarial atingem os trabalhadores diretamente em suas possibilidades vitais, não apenas em seus exames mentais. Uma situação determinada pelo brutal e mais amplo ataque enfrentado nas últimas décadas.
As organizações de esquerda quando não traduzem a força social do proletariado são apenas um polo de resistência ideológica, cuja conservação é sempre necessária historicamente, mas impotente para incidir na luta política.
Enunciemos a questão: enquanto essa equação, cujos fatores centrais podem ser resumidos no binômio unidade das principais frações burguesas e paralisia do proletariado, não for rompida, permaneceremos nessa desfavorável correlação de forças.
A capacidade de discernir tendências gerais não implica a capacidade para prever seu resultado preciso em circunstâncias futuras desconhecidas, porém permanece sendo a melhor bússola para enfrentar as tempestades. Afinal, momentos históricos podem ser muito difíceis, mas não são insuperáveis. Compreender a realidade, por mais amarga que seja, é um passo necessário. Só assim potencializaremos nossas forças, nos preservaremos e acumularemos para incidir decisivamente ante circunstâncias favoráveis.
Não é tempo de temer os debates, por mais difíceis que se coloquem.
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