Por José Reinaldo Carvalho, no blog Resistência:
O Brasil pode estar às vésperas do maior vexame diplomático da história. Não é uma constatação alarmista da oposição, mas de setores do próprio governo federal, que, lidando com informações privilegiadas, consideram a hipótese de que líderes internacionais se levantem e deixem o recinto da Assembleia Geral da ONU quando Bolsonaro subir à tribuna do órgão internacional e pronunciar o discurso de abertura, caso ele compareça, no dia 24 de setembro.
Talvez por isso sejam tão fortes os rumores que começaram a circular nesta segunda-feira (16) de que a equipe médica responsável pelo tratamento do ocupante do Planalto, recomende que ele não viaje a Nova York, alegando que não se encontra plenamente recuperado da última cirurgia.
Oficialmente, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que Bolsonaro fará o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Mas os bastidores da Chancelaria e do Palácio do Planalto são percorridos por um medo pânico de que ocorram protestos oficiais e extra-oficiais se Bolsonaro subir à tribuna da ONU.
Já na semana passada, um grupo de 14 organizações brasileiras e internacionais divulgou uma carta aberta ao secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, manifestando “indignação” com a participação de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, pedindo que o líder do órgão multilateral o condene e o repreenda formalmente por suas declarações e ações contra os povos indígenas e relativas ao meio ambiente.
Há muitas razões que justificam o protesto contra o titular do Poder Executivo, que não se contém ao verbalizar expressões mal-educadas e agir de maneira agressiva contra aqueles chefes de Estado dos quais discorda.
Durante as últimas semanas, Bolsonaro se incompatibilizou com organismos internacionais e ofendeu líderes de países e até mesmo a esposa de um deles, no auge da crise provocada pelos incêndios na Floresta Amazônica.
A comunidade internacional sabe que estes incêndios se tornaram mais intensos neste ano por causa da desídia da gestão Bolsonaro, ligada à sua concepção de “desenvolvimento” que contém elementos devastadores para o meio ambiente.
Bolsonaro está cada vez mais isolado no palco internacional e suas companhias são cada vez mais reduzidas a líderes reacionários e imperialistas, entre estes o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
À frente do governo brasileiro, a atuação de Bolsonaro na esfera mundial tem-se distinguido por ser um caudatário das posições estadunidenses e por conduzir o Brasil ao descaminho da subordinação, a ponto de ter firmado com o presidente americano tratados lesivos à soberania nacional.
Desprovido de qualquer noção de interesse nacional e mesmo do ridículo, confiou a ninguém menos que Stevie Bannon, um guru da extrema-direita estadunidense, a responsabilidade de redigir o discurso que pretende pronunciar na ONU.
Bolsonaro despreza a ONU e os princípios e valores que orientaram sua criação em 1945: o principio da igualdade soberana de todos os membros das Nações Unidas, da solução de controvérsias internacionais por meios pacíficos, salvaguardando a paz, o direito internacional, a justiça e a segurança de todos os Estados-membros, a renúncia ao emprego da força contra qualquer outro Estado nacional, o exercício e o respeito à autodeterminação dos povos.
Foi por ser contrário a estes princípios, que estão inscritos na Constituição Federal, que Bolsonaro, ainda como candidato, em agosto do ano passado, defendeu a disparatada ideia de abandonar a ONU: “Se eu for presidente eu saio da ONU. Não serve pra nada essa instituição”, disse ele após cerimônia de formatura de cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). “Sim, saio fora, não serve pra nada a ONU. É um local de reunião de comunistas e gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul”.
Bolsonaro agride as melhores tradições do Brasil. O direito de ser o país que inaugura todo ano a Assembleia Geral da ONU foi conquistado porque teve imenso protagonismo como um dos 51 fundadores da Organização, em 1945, a ponto de ser simbolicamente na época considerado como o “sexto membro permanente do Conselho de Segurança”.
Bolsonaro já desonrou o Brasil batendo continência para a bandeira estadunidense, assinando tratados com Trump lesivos à soberania nacional, prometendo ceder aos Estados Unidos o papel de país protetor da Floresta Amazônica e conduzindo um governo cuja política econômica comete crimes de lesa-pátria ao entregar o patrimônio nacional ao capital financeiro internacional.
Igualmente, viola os compromissos internacionais do Brasil com a paz, na medida em que se associa ao imperialismo estadunidense e seus aliados para desestabilizar países vizinhos, secundando a proposta de ativar um tratado da época da guerra fria, o TIAR, que poderia desencadear uma guerra na região.
Antes de ser internado para a mais recente cirurgia, Bolsonaro disse que iria viajar a Nova York, mesmo que fosse de maca ou cadeira de rodas, para se apresentar na Assembleia Geral da ONU do próximo dia 24. Os ministros palacianos agora sopesam melhor a situação e podem preferir mandá-lo de maca ou cadeira de rodas a uma “live” na companhia de Zero Três, em que poderá explicar melhor os motivos por que não terá viajado.
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