Por Ayrton Centeno, no jornal Brasil de Fato:
Fechado o oitavo mês de governo, 25% dos eleitores de Jair Bolsonaro saltaram do barco furado. Não querem ouvir falar no cidadão. Hoje, não votariam naquele em quem acreditaram talvez até fazendo selfie com arminha. Não é a eles que me dirijo nestas mal traçadas. Penso mais naqueles eleitores que erraram mas ainda não deram o braço a torcer. Pelo menos em público. É lícito supor que, no escurinho da memória, boa parte deve ranger os dentes. É a eles e aos que se remoem em dúvidas que quero falar.
Não sei se você é homem, mulher, rico, pobre, branco, preto, gordo, magro… Posso apenas conjeturar. Mas, para não ficar em especulações, vou desenhar o destinatário com base nas pesquisas de opinião: homem, branco, com renda superior a cinco salários mínimos, morador do Sudeste e do Sul, com idade entre 25 a 44 anos, escolaridade média ou superior. Este, quase certamente, é você na hora em que enfiou o sorvete na testa.
Homem e conservador, você, imagino, não se envergonhou da misoginia do seu candidato. Mas será que achou mesmo irado debochar do presidente francês por ter casado com mulher mais velha? E quanto à homofobia reiterada? E a adoração fálica por armas e a vontade de dar tiros em imigrantes, negros, gays, nordestinos, políticos, esquerdistas e vagabundos em geral? Certo, você mesmo, em um momento ou outro, quando mais acossado por suas frustrações, teve vontade de fazer o mesmo. Então, foi lá e alvejou a urna. Mas e agora?
Oito meses passados com Bolsonaro no trono, alguns conhecidos que gritavam “mito” tornaram-se arredios. Outros espaçaram sua presença nas redes. Poucos, os mais sinceros e corajosos, batem no peito e admitem: “Que asneira!”
E você, o que diria? Você que trabalha em uma empresa que exporta para a Europa, por exemplo. O que acha da política exterior do seu eleito?
Você, ruralista, que depende de suas vendas para a União Europeia, está gostando? Sensacionais as políticas em curso de queimadas na Amazônia, não? Pensa que seus negócios irão prosperar com um boicote internacional aos produtos do Brasil?
Quem, do mundo civilizado, topará investir num país que incentiva o genocídio de seus índios?
Que tratados serão firmados e que negócios serão feitos com uma nação cujo presidente é objeto de escárnio em todo mundo, visto como um palhaço sinistro que cultua e pratica o grotesco?
Que impressão deixou Bolsonaro ao gaguejar nos seus cinco minutos de Davos? E em Washington, ao babar aos pés de Trump? E ao ser enxotado três vezes da mais importante cidade do mundo, percebido como figura patética, homofóbica e estúpida?
Se você é assalariado o que acha da devastação dos direitos trabalhistas? De trabalhar até morrer? Inclusive aos domingos sem horas extras, entregando ao seu patrão o tempo que dispendia com a família e os filhos? Bom, não? Obra acariciada por Bolsonaro e sua tropa de choque.
Você, claro, come. Sendo assim, o que acha de almoçar e jantar veneno? Já nos primeiros seis meses, Bolsonaro bateu o recorde de liberação de agrotóxicos. Dos pesticidas autorizados no Brasil, 155 estão vetados na Europa por serem muito tóxicos. Ele pensou na sua saúde, de seus filhos e dos brasileiros? Claro que não.
Se você optou por Bolsonaro pensando em livrar o país da corrupção, por favor me dê licença que preciso rir. Você sabe da relação dos Bolsonaros com as milícias? Lembra do Queiroz e dos seus depósitos na conta do clã? Sabe do escândalo de Itaipu, onde a família e o Itamaraty estão enredados?
Se a escolha foi porque o candidato do PSL seria o inverso da “velha política”, dê-me licença novamente. Sabe como passou a reforma da previdência na Câmara? Dos 3 bilhões de reais concedidos em emendas para os deputados que votaram com o governo? Do loteamento de cargos para conseguir votos?
Caso tenha digitado o 17 por conta de um suposto comportamento ilibado, como avalia a escolha estapafúrdia do próprio filho para o mais importante posto diplomático no exterior, sabendo-se que a grande experiência norte-americana do 03 foi fritar hambúrgueres?
Veja, não pedi para você tomar partido, para votar em A, B ou C no futuro mas apenas para refletir. No ano que vem haverá eleições novamente. Bem menos importantes, mas ainda assim merecedoras de seu cuidado. Pense, existe bastante tempo para pensar.
Mas você também pode achar que tudo está ótimo. Que o Brasil nunca esteve melhor. Que os conflitos com China, Argentina, França, Alemanha, Noruega e outros países serão fantásticos para atrair investimentos para o Brasil.
Que a remoção dos radares nas estradas e o fim da obrigatoriedade da cadeirinha para as crianças serão um santo remédio para reduzir a chacina diária do trânsito.
Se achar assim, vá em frente. Mas não se esqueça de seguir as normas do chefe para proteger o meio ambiente: faça um dia sim e outro não. A natureza agradecerá.
Fechado o oitavo mês de governo, 25% dos eleitores de Jair Bolsonaro saltaram do barco furado. Não querem ouvir falar no cidadão. Hoje, não votariam naquele em quem acreditaram talvez até fazendo selfie com arminha. Não é a eles que me dirijo nestas mal traçadas. Penso mais naqueles eleitores que erraram mas ainda não deram o braço a torcer. Pelo menos em público. É lícito supor que, no escurinho da memória, boa parte deve ranger os dentes. É a eles e aos que se remoem em dúvidas que quero falar.
Não sei se você é homem, mulher, rico, pobre, branco, preto, gordo, magro… Posso apenas conjeturar. Mas, para não ficar em especulações, vou desenhar o destinatário com base nas pesquisas de opinião: homem, branco, com renda superior a cinco salários mínimos, morador do Sudeste e do Sul, com idade entre 25 a 44 anos, escolaridade média ou superior. Este, quase certamente, é você na hora em que enfiou o sorvete na testa.
Homem e conservador, você, imagino, não se envergonhou da misoginia do seu candidato. Mas será que achou mesmo irado debochar do presidente francês por ter casado com mulher mais velha? E quanto à homofobia reiterada? E a adoração fálica por armas e a vontade de dar tiros em imigrantes, negros, gays, nordestinos, políticos, esquerdistas e vagabundos em geral? Certo, você mesmo, em um momento ou outro, quando mais acossado por suas frustrações, teve vontade de fazer o mesmo. Então, foi lá e alvejou a urna. Mas e agora?
Oito meses passados com Bolsonaro no trono, alguns conhecidos que gritavam “mito” tornaram-se arredios. Outros espaçaram sua presença nas redes. Poucos, os mais sinceros e corajosos, batem no peito e admitem: “Que asneira!”
E você, o que diria? Você que trabalha em uma empresa que exporta para a Europa, por exemplo. O que acha da política exterior do seu eleito?
Você, ruralista, que depende de suas vendas para a União Europeia, está gostando? Sensacionais as políticas em curso de queimadas na Amazônia, não? Pensa que seus negócios irão prosperar com um boicote internacional aos produtos do Brasil?
Quem, do mundo civilizado, topará investir num país que incentiva o genocídio de seus índios?
Que tratados serão firmados e que negócios serão feitos com uma nação cujo presidente é objeto de escárnio em todo mundo, visto como um palhaço sinistro que cultua e pratica o grotesco?
Que impressão deixou Bolsonaro ao gaguejar nos seus cinco minutos de Davos? E em Washington, ao babar aos pés de Trump? E ao ser enxotado três vezes da mais importante cidade do mundo, percebido como figura patética, homofóbica e estúpida?
Se você é assalariado o que acha da devastação dos direitos trabalhistas? De trabalhar até morrer? Inclusive aos domingos sem horas extras, entregando ao seu patrão o tempo que dispendia com a família e os filhos? Bom, não? Obra acariciada por Bolsonaro e sua tropa de choque.
Você, claro, come. Sendo assim, o que acha de almoçar e jantar veneno? Já nos primeiros seis meses, Bolsonaro bateu o recorde de liberação de agrotóxicos. Dos pesticidas autorizados no Brasil, 155 estão vetados na Europa por serem muito tóxicos. Ele pensou na sua saúde, de seus filhos e dos brasileiros? Claro que não.
Se você optou por Bolsonaro pensando em livrar o país da corrupção, por favor me dê licença que preciso rir. Você sabe da relação dos Bolsonaros com as milícias? Lembra do Queiroz e dos seus depósitos na conta do clã? Sabe do escândalo de Itaipu, onde a família e o Itamaraty estão enredados?
Se a escolha foi porque o candidato do PSL seria o inverso da “velha política”, dê-me licença novamente. Sabe como passou a reforma da previdência na Câmara? Dos 3 bilhões de reais concedidos em emendas para os deputados que votaram com o governo? Do loteamento de cargos para conseguir votos?
Caso tenha digitado o 17 por conta de um suposto comportamento ilibado, como avalia a escolha estapafúrdia do próprio filho para o mais importante posto diplomático no exterior, sabendo-se que a grande experiência norte-americana do 03 foi fritar hambúrgueres?
Veja, não pedi para você tomar partido, para votar em A, B ou C no futuro mas apenas para refletir. No ano que vem haverá eleições novamente. Bem menos importantes, mas ainda assim merecedoras de seu cuidado. Pense, existe bastante tempo para pensar.
Mas você também pode achar que tudo está ótimo. Que o Brasil nunca esteve melhor. Que os conflitos com China, Argentina, França, Alemanha, Noruega e outros países serão fantásticos para atrair investimentos para o Brasil.
Que a remoção dos radares nas estradas e o fim da obrigatoriedade da cadeirinha para as crianças serão um santo remédio para reduzir a chacina diária do trânsito.
Se achar assim, vá em frente. Mas não se esqueça de seguir as normas do chefe para proteger o meio ambiente: faça um dia sim e outro não. A natureza agradecerá.
Que ótimo recado.
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