sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Contra a política de guerra na Colômbia

Por Leonardo Wexell Severo

“Contra a política de guerra e medo defendida pelo presidente Ivan Duque, defendemos uma frente ampla pela paz na Colômbia que, com unidade e mobilização faça valer o que foi assinado. Os Acordos de Paz não são um compromisso de governo, mas de Estado, que estão incluídos na nossa Constituição e nas normas legislativas, não podendo ser abandonados”.

A afirmação é do secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caicedo, para quem “a bandeira mais importante atualmente no país é a da paz, que vem sendo duramente atacada pelo senhor Duque, do Partido Centro Democrático, de Álvaro Uribe”. “Eles se esquecem que o compromisso com a pacificação não é para uma conjuntura particular, mas para deter uma guerra civil de muitos anos, que deve ser respeitado pelos governos”, frisou.

Em entrevista exclusiva, o dirigente comunista apontou que “ao tratar a paz como anomalia, buscar a não implementação do Acordo de Paz e buscar a sua retirada da Constituição, Duque age como instrumento dos interesses do capital estrangeiro e, particularmente, do imperialismo norte-americano”.

Objetivamente, acrescentou, “o governo não quer a nova realidade que saiu dos Acordos assinados em Havana, em 24 de novembro de 2016, e explicita uma profunda contradição. Aparentemente, simula o que acertou com Cuba e Noruega: o cumprimento dos planos de desenvolvimento, sua implementação nas regiões. Simula que está abrindo financiamento para a substituição de cultivos ilícitos, como a coca e a marijuana, a fim de que os camponeses possam iniciar outras plantações”. Na prática, condenou o dirigente, “continua com as erradicações forçadas, deixando o agricultor sem alternativa. Inclusive, voltou com as fumigações aéreas, a jogar glifosato, algo venenoso, proibido pela Corte Institucional da Colômbia, que agride a agroecologia e prejudica a saúde”.

Verdade, Justiça e Reparação

Jaime Caicedo denunciou que o governo de Duque tem buscado “regressar à estrutura antiga, se confrontando ao sistema integral de Verdade, Justiça, Reparação e não Repetição, desrespeitando o direito à vida digna dos ex-combatentes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que hoje se constituem no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum”.

Na prática, condenou o líder comunista, “os altos mandos militares, policiais e paramilitares ainda são os donos do poder e, mais do que não querer, buscam inviabilizar a justiça restauradora, para não serem julgados pelas violações de direitos humanos nem por seus crimes de guerra e de lesa-humanidade”. “A verdade é que os grandes criminosos não querem a justiça restauradora”, sublinhou.

Ao defender a mobilização de todas as reservas democráticas da sociedade em “respeito aos Acordos de Paz”, Caicedo reconheceu que “é preciso sanar as falhas e cumprir o que foi tratado com as vítimas e com o país, especialmente temas que vem ganhando cada vez mais peso como a reincorporação da insurgência à luta social”.

Dar um basta ao terrorismo de Estado

“A ideia de negar os Acordos de Paz não é da esquerda, não é dos revolucionários, é dos que querem voltar ao passado, ao terrorismo de Estado, à contra-insurgência anticomunista”, destacou o professor, conclamando ao conjunto da militância a pressionar para fazer valer cada conquista, relativizando derrotas momentâneas. Exemplo disso, ponderou, foi a vitória do Não ao processo de pacificação, durante o plebiscito de outubro de 2016, “por uma ínfima minoria (50,21% a 49,79%)”, que “teve por base uma campanha de fake news, hiprocrisia e mentiras, envolvendo manipulação de sentimentos pelos grandes meios de comunicação”.

Desde então, “houve uma evolução, com um crescente respaldo ao Acordo de Paz como solução política”, avaliou o líder comunista, para quem este sentimento está cada vez mais presente atualmente, durante a campanha eleitoral, e se expressará de forma contundente nas urnas em 27 de outubro. Nesta data serão eleitos os deputados estaduais e governadores dos 32 departamentos, bem como os vereadores e prefeitos de 1099 municípios.

Embora esta campanha não coloque diretamente em xeque o governo de Duque, Caicedo disse que “representa um grande desafio, já que estaremos em um embate direto com o belicismo da extrema-direita”: “a situação é difícil para o governo, que quer se retirar dos acordos, e a maioria da população, que respalda o processo de paz”.

O veterano combatente alertou para o fato de que as eleições estão sendo realizadas “em meio a um banho de sangue”, “a um genocídio, por paramilitares, de defensores da paz e dos direitos humanos, de lideranças indígenas, mulheres e afrodescendentes”. “Está clara a intensidade da repressão e que a ação das forças do Estado não vem para salvaguardar a vida, para nos dar segurança, mas para permitir que prevaleça o interesse das grandes empresas transnacionais”, assinalou.

Instrumento dos EUA contra a Venezuela

Lembrando que “a paz na América Latina começa em casa” e que a Colômbia possui 2.200 quilômetros de fronteira com a Venezuela, Caicedo demonstrou como “os Estados Unidos, de forma perigosa, vêm querendo confrontar nossos países irmãos, procurando agora atribuir ao governo de Maduro a reativação das FARC, um retorno à clandestinidade”. “A insistência da aliança do governo colombiano com os EUA”, repudiou o dirigente, “mais do que gravíssima, é fatal”.

“Nós afirmamos claro o não à guerra e defendemos o respeito à autodeterminação dos povos. Fatos recentes como o incêndio na Amazônia brasileira demonstram que devemos estar cada vez mais unidos. Este é o caminho para a proteção das nossas selvas, das nossas águas e das nossas riquezas. Para a defesa da nossa democracia e da soberania”, concluiu.

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