segunda-feira, 2 de setembro de 2019

CPI para investigar carrascos da Lava-Jato

Por Jeferson Miola, em seu blog:

Além dos arbítrios e crimes cometidos pelos integrantes da força-tarefa da Lava Jato, as revelações do Intercept também evidenciam a face sociopata e atroz dos membros da gangue que o ministro Gilmar Mendes chama de organização criminosa [OrCrim].

As mensagens infames que procuradores e procuradoras intercambiaram nos momentos de dor e luto que Lula viveu pelas perdas da sua companheira Marisa, do irmão Vavá e do seu netinho Arthur [aqui] revelam o mau-caratismo, o ódio e o racismo dessa gente.

Com um argumento simplório, Deltan Dallagnol explica que “as pessoas têm que entender que essas conversas são conversas que você teria na mesa de casa com a família”.

O pregador da igreja Batista que explora a palavra de deus para enganar incautos justifica que “são conversas que você tem com o círculo de intimidade, conversas que você fica à vontade para falar […]” [aqui].

Com essa explicação rasa, Deltan revela as profundezas da intimidade das “famílias decentes e de bem” da burguesia [e da classe média] branca, corrupta e fascista.

O ódio mortal ao Lula, cultivado e transmitido de uma geração a outra na intimidade dessas “famílias decentes e de bem” é a expressão de um ódio muito maior, que é o ódio a tudo que Lula simboliza e representa, que é o ódio à classe trabalhadora, ao povo pobre, negro, oprimido e excluído.

Esse sentimento odioso é a herança ideológica e a marca definitiva que a oligarquia dominante carrega desde o regime de exploração escravocrata: o subalterno tem de ser espezinhado, humilhado, ultrajado e explorado ao máximo. E sempre, por toda eternidade.

Para a burguesia, ironizar a morte do netinho do Lula, uma criança de descendência operária, não passa de “alguma besteira, uma bobagem”, como explicou Dallagnol com apavorante naturalidade.

Mais além da imoralidade de procuradores/as e juízes/as, as mensagens reveladas pelo Intercept deveriam provocar consequências jurídicas relevantes.

A consequência mais impactante é a suspeição dos integrantes da OrCrim que perseguiram e condenaram Lula como se ele fosse um “inimigo capital” [artigo 17 do Decreto-Lei 9.608/1946, artigo 135 do CPC e artigo 95 e outros do CPP].

Na vigência do Estado de Direito, que não é a realidade no Brasil hoje, a suspeição causaria a imediata anulação da farsa promovida por esses falsos “agentes da lei”, o afastamento deles dos cargos públicos e sua prisão para evitar a obstrução da justiça e a destruição de provas.

É horripilante que funcionários do MP e do judiciário corrompam o sistema de justiça, usem cargos públicos para fins particulares e partidários e se dediquem a conspirar contra o Estado de Direito em proveito próprio e em benefício do projeto político-ideológico da extrema-direita.

Mais horripilante que a descoberta das práticas criminosas de quem deveria defender a Lei e fazer justiça, contudo, é a absoluta falta de investigação dessas graves irregularidades.

Desde 9 de junho o Brasil é assombrado com mensagens aterradoras do saite Intercept acerca do submundo criminoso de procuradores/as da Lava Jato, mas nenhuma providência é adotada.

Nas conversas entre procuradores/as, fica evidente que eles/as agiam criminosamente com consciência, de maneira deliberada. A procuradora Monique Chequer, por exemplo, comentou com colegas que “[Sérgio] Moro viola sempre o sistema acusatório […]”.

Ao invés de denunciar a gravíssima violação do sistema de justiça do país, Monique optou, entretanto, pela cumplicidade. Silenciou e prevaricou.

Deltan, diante da revelação dos esquemas de corrupção de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, reconheceu que “é óbvio o q aconteceu …”. Mas, apesar disso, decidiu excluir Flavio Bolsonaro da investigação da Lava Jato no RJ.

São inúmeras as mensagens que demonstram que os integrantes da força-tarefa agem como uma verdadeira máfia criminosa, que protege seus integrantes e engendra crimes.

O Conselho Nacional do Ministério Público se afigura como um órgão corporativo mais preocupado em proteger criminosos da sua corporação que obedecer à Constituição e às Leis.

A Polícia Federal, transformada na Gestapo de Sérgio Moro, desvia o foco das investigações para os supostos hackers, para distrair a atenção pública da investigação central.

É chegada a hora de se instalar uma CPI no Congresso para investigar as ilegalidades cometidas por procuradores/as e juízes/as da Lava Jato.

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