terça-feira, 29 de outubro de 2019

Bolsonaro não está à altura do cargo

Por Umberto Martins

Pressionado pela forte reação negativa da sociedade e do STF, o presidente Jair Bolsonaro foi constrangido a retirar do ar o vídeo bizarro e fascistóide que postou ou mandou postar nas redes sociais. Nesta terça (29), ele confessou que errou, pediu desculpas pelo inacreditável conteúdo e prometeu retratação.

Na peça, temperada pelo amadorismo e a estupidez política, o “Mito” aparece como um leão acossado por hienas. Essas são identificadas como o STF, a CNBB, a ONU e o próprio partido pelo qual se elegeu (PSL), sem contar os inimigos de sempre como PT, PCdoB e MST. Ou seja, revela uma situação de isolamento político da qual se esquiva com a ajuda de outro leão, designado de “conservador patriota”.

A mensagem golpista transparece com nitidez. Vista também como uma ofensa ao Supremo, despertou uma ácida crítica do decano Celso de Mello: “Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de ´gravitas´ e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes”, disparou o ministro.

Anticomunismo

Não é a primeira vez que o presidente da extrema direita é forçado a recuar das inúmeras bobagens que vomita rotineiramente. Recentemente, por ocasião de sua viagem ao Oriente, teve de engolir as alusões hostis à China, acusada por ele durante a campanha presidencial de pretender “comprar o Brasil”.

Foi um acesso de anticomunismo e intolerância política e ideológica (no caso, contra o Partido Comunista, que dirige os destinos do gigante asiático) que não poderia sobreviver à realidade das relações econômicas entre os dois países.

Desde 2009 a China é a maior parceira comercial do Brasil, depois de ter desbancado os EUA e responde, hoje, por dois terços das exportações brasileiras de soja. Sua relevância não é menor do ponto de vista financeiro, sendo hoje uma das principais fontes de investimentos externos na economia nacional.

A ideologia tacanha de Bolsonaro estava atrapalhando rentáveis negócios e travando investimentos chineses. Por isto, quando chegou em Pequim esqueceu o que disse no passado e enalteceu as relações bilaterais. Não recuou por um mero prazer masoquista, mas antes em função das pressões de empresários do agronegócio, da mineração e outros ramos econômicos que hoje dependem, comercial ou financeiramente, muito mais da China do que dos EUA.

Escorpião

Neste caso, a realidade falou mais alto do que a ideologia. Mas isto não exime o líder da extrema direita de continuar atravessando o samba. Faz parte do seu DNA e lembra a fábula do escorpião que ao atravessar o rio nas costas de um sapo não consegue conter a índole venenosa e pica aquele de quem depende ignorando o alerta de que estaria cometendo suicídio.

Antes mesmo das rusgas com o STF, o chefe do Palácio do Planalto afirmou que os argentinos escolheram mal nas eleições presidenciais realizadas no último domingo (27) e disse que não iria parabenizar a dupla Alberto Fernández e Cristina Kirchner pela vitória, um comportamento estranho à tradição e princípios que nortearam, até aqui, o comportamento do Itamaraty. O vizinho do Mercosul é o principal destino das vendas externas da maltratada indústria brasileira e contraponto ao processo de desindustrialização.

Destilando ódio, ignorância e intolerância, Jair Bolsonaro transforma a imagem do Brasil no exterior num poleiro de galinha, dá seguidas demonstrações de que não está à altura da Presidência e é uma óbvia ameaça ao futuro da nação. Quanto menos tempo permanecer no cargo que conquistou graças à condenação e prisão injusta e ilegal de Lula tanto melhor para o povo brasileiro.

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