Foto: Henry Romero/R |
O Equador entrou em chamas nas últimas semanas. Revoltado com as políticas liberais e imperialistas impostas ao país pelo FMI, o povo equatoriano saiu às ruas em uma movimentação massiva que pode culminar com a queda de seu Presidente, Lenin Moreno. Mas a agitação política do país não vem de hoje.
Lenin fora eleito como sucessor de Rafael Correa para continuar a chamada “Revolução Cidadã”, como é conhecido o momento político iniciado pelo ex-Presidente, mais um ligado à corrente bolivariana que ditou os ritmos de boa parte da política sul-americana desde os anos 2000. Porém, desde o início de seu mandato, Lenin Moreno mostrou sua verdadeira face, traindo Correa, seu partido e todos aqueles que acreditaram estar votando na continuidade da “Revolução”.
Tão logo fora eleito, o atual Presidente equatoriano afastou o país da política “Sul-Sul”, desprezando antigos parceiros latino-americanos para aproximar-se, de forma subordinada, aos EUA, adotando posições como o apoio aos intervencionismos na Venezuela, a entrega de Assange às autoridades internacionais e a perseguição política a seu antecessor, Rafael Correa, num processo de Lawfare semelhante ao que ocorre na Lava Jato brasileira.
Lenin Moreno também passou a desmontar sistematicamente os avanços sociais e econômicos garantidos pela “Revolução Cidadã” de Correa, entregando a economia do próprio país ao FMI e adotando políticas neoliberais que atingiram em cheio a qualidade de vida e o bolso dos mais pobres, estopim de toda a revolta que vemos agora tomar o Equador.
Mas se engana quem pensa que o sentimento de revolta pelos ataques aos avanços da “Revolução Cidadã” tenha nascido da noite para o dia entre os equatorianos. Na verdade, toda a agitação que vemos hoje é uma verdadeira aula que nos ensina algo que não fora aplicado ao Brasil durante nossos anos de governo esquerdista, e que os países bolivarianos souberam fazer com maestria: a criação de um sentimento revolucionário entre a classe trabalhadora e a defesa intransigente da autodeterminação de um povo.
Quem acompanha a situação latino-americana há tempos sabe bem que a palavra “Revolução” se tornou uma constante no dicionário dos povos de cada um dos países que vivenciaram a experiência bolivariana. E essa talvez tenha sido a principal diferença de países como o Equador, a Bolívia e a Venezuela para outros países sul-americanos atingidos pela onda de esquerda no continente desde o início dos anos 2000, como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
Na Venezuela, por exemplo, que talvez venha vivendo o caso mais grave de interferência política externa em nosso continente, não é de se espantar que, mesmo em grave crise, ainda haja um apoio maciço do povo ao governo de Maduro. Para além do grande salto econômico e social que o chavismo proporcionou ao país entre 1999 e 2013, o período marcado quase todo por Hugo Chávez foi formado por uma retórica de constante defesa dos avanços revolucionários ante aos seguidos ataques norte-americanos ao país, gerando um grande sentimento de autodeterminação do povo que até hoje tem sido o fiel da balança na política venezuelana.
Na Bolívia, que até mesmo aos olhos de um envergonhado FMI se tornou exemplo incontestável de avanço econômico aliado a avanços sociais, o mesmo sentimento é facilmente visto, podendo se concretizar nas próximas eleições que certamente darão continuidade ao trabalho de Evo Morales a frente do país.
A mesma defesa ferrenha dos avanços conquistados pela esquerda, porém, não pode ser vista nos demais países que participaram da onda progressista sul-americana dos últimos anos. Marcados por discursos mais conciliatórios, como o complicado peronismo argentino ou a política de conciliação de classes petista, países como Argentina e Brasil viram seus ciclos de esquerda traumaticamente interrompidos, enquanto o Chile passou pela falta de continuidade numa alternância de poder com liberais. Exceção à retórica revolucionária com facilidades de se manter no poder, só mesmo a esquerda uruguaia.
Nos três outros países, porém, o que se viu foi o capital aliado a grande mídia em massivas campanhas difamatórias contra qualquer coisa que cheirasse à esquerda. Do discurso de “Chilezuela” aos dados fraudados pelo Banco Mundial no Chile, passando pela campanha criminosa do Clarín pela prisão de Cristina Kirchner na Argentina, até o inflamado apoio ao golpe parlamentar no Brasil por todas as grandes redes de comunicação, ficou o sentimento de que, mesmo com grande apoio, faltava algo mais às esquerdas populares destes países para que estas saíssem com mais energia às ruas defendendo os avanços conquistados. Um algo a mais que, agora, o bolivarianismo de outros países parece nos revelar.
Vemos, agora, a diferença entre uma esquerda que chega ao poder sem medo de falar em “socialismo” e “revolução”, e uma esquerda que tem orgulho em dizer que garantiu grandes lucros aos bancos. Se há uma lição que podemos tirar do povo equatoriano, hoje, é a de que não dá pra continuarmos invejando movimentos populares massivos como o do Equador enquanto continuamos apostando tudo em discursos conciliatórios dentro do nosso próprio quintal.
Lenin fora eleito como sucessor de Rafael Correa para continuar a chamada “Revolução Cidadã”, como é conhecido o momento político iniciado pelo ex-Presidente, mais um ligado à corrente bolivariana que ditou os ritmos de boa parte da política sul-americana desde os anos 2000. Porém, desde o início de seu mandato, Lenin Moreno mostrou sua verdadeira face, traindo Correa, seu partido e todos aqueles que acreditaram estar votando na continuidade da “Revolução”.
Tão logo fora eleito, o atual Presidente equatoriano afastou o país da política “Sul-Sul”, desprezando antigos parceiros latino-americanos para aproximar-se, de forma subordinada, aos EUA, adotando posições como o apoio aos intervencionismos na Venezuela, a entrega de Assange às autoridades internacionais e a perseguição política a seu antecessor, Rafael Correa, num processo de Lawfare semelhante ao que ocorre na Lava Jato brasileira.
Lenin Moreno também passou a desmontar sistematicamente os avanços sociais e econômicos garantidos pela “Revolução Cidadã” de Correa, entregando a economia do próprio país ao FMI e adotando políticas neoliberais que atingiram em cheio a qualidade de vida e o bolso dos mais pobres, estopim de toda a revolta que vemos agora tomar o Equador.
Mas se engana quem pensa que o sentimento de revolta pelos ataques aos avanços da “Revolução Cidadã” tenha nascido da noite para o dia entre os equatorianos. Na verdade, toda a agitação que vemos hoje é uma verdadeira aula que nos ensina algo que não fora aplicado ao Brasil durante nossos anos de governo esquerdista, e que os países bolivarianos souberam fazer com maestria: a criação de um sentimento revolucionário entre a classe trabalhadora e a defesa intransigente da autodeterminação de um povo.
Quem acompanha a situação latino-americana há tempos sabe bem que a palavra “Revolução” se tornou uma constante no dicionário dos povos de cada um dos países que vivenciaram a experiência bolivariana. E essa talvez tenha sido a principal diferença de países como o Equador, a Bolívia e a Venezuela para outros países sul-americanos atingidos pela onda de esquerda no continente desde o início dos anos 2000, como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
Na Venezuela, por exemplo, que talvez venha vivendo o caso mais grave de interferência política externa em nosso continente, não é de se espantar que, mesmo em grave crise, ainda haja um apoio maciço do povo ao governo de Maduro. Para além do grande salto econômico e social que o chavismo proporcionou ao país entre 1999 e 2013, o período marcado quase todo por Hugo Chávez foi formado por uma retórica de constante defesa dos avanços revolucionários ante aos seguidos ataques norte-americanos ao país, gerando um grande sentimento de autodeterminação do povo que até hoje tem sido o fiel da balança na política venezuelana.
Na Bolívia, que até mesmo aos olhos de um envergonhado FMI se tornou exemplo incontestável de avanço econômico aliado a avanços sociais, o mesmo sentimento é facilmente visto, podendo se concretizar nas próximas eleições que certamente darão continuidade ao trabalho de Evo Morales a frente do país.
A mesma defesa ferrenha dos avanços conquistados pela esquerda, porém, não pode ser vista nos demais países que participaram da onda progressista sul-americana dos últimos anos. Marcados por discursos mais conciliatórios, como o complicado peronismo argentino ou a política de conciliação de classes petista, países como Argentina e Brasil viram seus ciclos de esquerda traumaticamente interrompidos, enquanto o Chile passou pela falta de continuidade numa alternância de poder com liberais. Exceção à retórica revolucionária com facilidades de se manter no poder, só mesmo a esquerda uruguaia.
Nos três outros países, porém, o que se viu foi o capital aliado a grande mídia em massivas campanhas difamatórias contra qualquer coisa que cheirasse à esquerda. Do discurso de “Chilezuela” aos dados fraudados pelo Banco Mundial no Chile, passando pela campanha criminosa do Clarín pela prisão de Cristina Kirchner na Argentina, até o inflamado apoio ao golpe parlamentar no Brasil por todas as grandes redes de comunicação, ficou o sentimento de que, mesmo com grande apoio, faltava algo mais às esquerdas populares destes países para que estas saíssem com mais energia às ruas defendendo os avanços conquistados. Um algo a mais que, agora, o bolivarianismo de outros países parece nos revelar.
Vemos, agora, a diferença entre uma esquerda que chega ao poder sem medo de falar em “socialismo” e “revolução”, e uma esquerda que tem orgulho em dizer que garantiu grandes lucros aos bancos. Se há uma lição que podemos tirar do povo equatoriano, hoje, é a de que não dá pra continuarmos invejando movimentos populares massivos como o do Equador enquanto continuamos apostando tudo em discursos conciliatórios dentro do nosso próprio quintal.
Parabéns pela análise.
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