Santiago, 23/10/19. Foto: Ivan Alvarado |
Impressiona e emociona a massa humana que ocupa as ruas de Santiago, Valparaíso, Concepción e outras cidades do Chile. A marcha desta sexta-feira, 25 de outubro, que reuniu 1,2 milhão de pessoas na capital chilena, significa que mais de 1/5 da população da cidade aderiu ao protesto.
Tenho lido e ouvido avaliações de todo tipo sobre este tsunami político. Basicamente, na esquerda brasileira, eu dividiria o sentimento corrente em três categorias, a saber:
Otimistas – Avaliam que o povo acordou e só arredará pé das ruas quando o governo desmoronar. Para além do protesto inicial contra o aumento da passagem do metrô, já revogado pelo governo de Piñera, os chilenos resolveram dar um basta no aumento da pobreza e da miséria causado pela aplicação fria do receituário ultraneoliberal, que transformou o Chile em laboratório da Escola de Chicago. Serviços privatizados e a preços inacessíveis para a grande maioria, como energia, educação, saúde e transportes, além da capitalização da previdência, são fatores que ajudam a entender o levante popular. O que acontece hoje no Chile já se assemelha a uma revolução.
Preocupados – Como as manifestações têm algumas características que remetem às chamadas jornadas de junho de 2013 no Brasil, estes preferem pôr as barbas de molho. Lembram que a exemplo do fenômeno brasileiro, também no Chile a falta de lideranças definidas e ligadas a partidos, sindicatos ou movimentos sociais, bem como as convocações concentradas nas redes sociais e as reivindicações difusas e sem escala de prioridades tornam incerto o desfecho do movimento. Temem que a extrema-direita e se aproveite da situação, tal qual se verificou por aqui. Em síntese, consideram que o jogo está aberto.
Pessimistas – É a turma azeda de sempre. Embora veja como muito bem-vinda a reação popular ao neoliberalismo, só consegue racionar dentro da caixinha. Por isso, não vê possibilidade de triunfo fora do modelo clássico, com um partido revolucionário à frente das lutas.
Minha opinião - Incluo-me entre os otimistas, mas concordo que ainda estão rolando os dados, sendo impossível cravar quais serão os desdobramentos da insurreição popular, não armada é claro. Vejo poucas chances, porém, de o movimento ser apropriado pela extrema-direita, uma vez que o governo de Piñera já contempla esse segmento político, especialmente em relação à aplicação do ultraneoliberalismo econômico. Lá como cá a direita e a extrema-direita há muito abandonaram as bandeiras nacionalistas e se submetem cegamente aos ditames do imperialismo norte-americano. E, do ponto de vista, do interesse popular, ouso dizer que o Chile sairá desta avalanche política como um país melhor para se viver.
Isto posto, alimento, mesmo de forma prudente, a esperança de que uma revolução social efetiva se consume no país andino. Acuado, Piñera já pediu a renúncia de todos os seus ministros. Pela marcha dos acontecimentos, caminha para ser algo como a Revolução dos Cravos, em Portugal – as imagens da adesão de militares sugerem esta possibilidade-, ou parecido com a Revolução Iraniana que apeou do poder o chá Reza Parlev, em 1979. Em ambas, a dinâmica dos acontecimentos foi a seguinte: gente nas ruas, mais gente nas ruas, ainda mais gente nas ruas, até que o governo opressor desaba.
Mas também pode ser algo como a Primavera Árabe.
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