Por Sergio Lirio, na revista CartaCapital:
Não foi por falta de aviso. Diplomatas experientes alertaram que na geopolítica é um erro de principiante ceder à vontade de um parceiro comercial e político sem garantir contrapartidas. As maiores vitórias da política externa brasileira se deram quando o País foi altivo e praticou certa independência e não nos períodos em que se comportou como uma colônia. O exemplo mais notório são as conquistas de Getúlio Vargas, entre elas a Companhia Siderúrgica Nacional, negociadas com Franklin D. Roosevelt em troca do apoio do Brasil na Segunda Guerra.
Bolsonaro achou que demonstrar devoção a Donald Trump e bater continência à bandeira dos Estados Unidos garantiriam uma cadeira no banquete. Por conta da tietagem pura e simples, desprovida de qualquer estratégia, o Itamaraty abriu mão de privilégios na Organização Mundial do Comércio concedidos a nações em desenvolvimento pela vaga promessa de apoio de Washington ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), integrada pelas economias mais poderosas do planeta.
Bolsonaro achou que demonstrar devoção a Donald Trump e bater continência à bandeira dos Estados Unidos garantiriam uma cadeira no banquete. Por conta da tietagem pura e simples, desprovida de qualquer estratégia, o Itamaraty abriu mão de privilégios na Organização Mundial do Comércio concedidos a nações em desenvolvimento pela vaga promessa de apoio de Washington ao ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), integrada pelas economias mais poderosas do planeta.
Fora a sabujice e os argumentos de viés ideológico liberalóide, ninguém no governo foi capaz de explicar qual a vantagem de se aderir a uma organização que veta medidas de desenvolvimento autônomas e apega-se de forma dogmática à cartilha da austeridade. A adesão à OCDE se tornaria, na verdade, mais uma camisa-de-força à política econômica. Apesar da negociação desvantajosa, digna das cabines do Silvio Santos nas quais crianças abriam mão, para desespero da plateia, de brinquedos legais ou um bom dinheiro (Você troca uma bicicleta por um banana? Siiiiiimmmmmmm!), o presidente brasileiro comemorou o arranjo como uma demonstração do acerto da nova política externa e de sua relação privilegiada com a “América”.
Quanta frustração. No fim das contas, nem a injeção na testa Bolsonaro conseguiu arrancar de Trump. Percebam o constrangimento: quem vetou a entrada do Brasil na OCDE não foram os países europeus, não foi a França de Emmanuel Macron, apresentado pelo ex-capitão como um inimigo do País. A rejeição, anunciada pela Bloomberg, partiu da Casa Branca. Trump, o ídolo, tratou Bolsonaro como um fã inconveniente do qual é melhor manter distância. O brasileiro, por sua vez, age como um stalker. O olhar apaixonado e o “I love you” atirados em direção ao presidente dos Estados Unidos no breve encontro nos corredores da ONU em Nova York expressam perfeitamente o nível da relação. Bolsonaro mais parecia um groupie embasbacado diante do ídolo do rock enfadado e em busca de algo mais interessante para fazer. Um aperto de mão, uma foto e tchau.
Terá o Brasil aprendido a lição? Pouco provável. O discurso belicoso de Bolsonaro na Assembleia da ONU e os embates com Macron não refletem apenas uma interpretação recalcada e caipira do mundo. Eles servem ao objetivo de minar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia para agradar os Estados Unidos. Da mesma forma, comemorar o acerto Mercosul-UE seria um erro, dado os prejuízos à indústria brasileira, mas o boicote do Palácio do Planalto visa uma alternativa ainda pior, um acordo bilateral com os Estados Unidos cujas bases são completamente desconhecidas da sociedade. Não bastasse, o ex-capitão mostra-se inclinado a optar pelos norte-americanos na disputa com a China pela expansão da tecnologia 5G. O melhor neste caso seria o Palácio do Planalto se aproveitar da disputa entre as duas potências e tentar extrair o melhor para os brasileiros. O que importam, porém, os interesses de 200 milhões de compatriotas diante da vontade de Trump.
Há um fato ainda mais triste: a relação, superficial como tem ficado claro, de Bolsonaro se resume ao republicano. O Brasil não é um aliado preferencial dos Estados Unidos. Se Trump sofrer um impeachment – possibilidade remota, mas não descartável – ou se perder as eleições de 2020, o flerte chegará ao fim.
Uma parcela hegemônica do Partido Democrata não nutre simpatia pelo ex-capitão. Algumas alas o desprezam. Infelizmente, o Itamaraty aposta todas as fichas em uma relação pessoal, unilateral, desestruturada e com grandes chances de acabar em breve.
PS: em nota, a embaixada dos EUA disse que o apoio para o Brasil iniciar o processo de associação à OCDE está mantido. Não há, porém, um prazo para a adesão.
Quanta frustração. No fim das contas, nem a injeção na testa Bolsonaro conseguiu arrancar de Trump. Percebam o constrangimento: quem vetou a entrada do Brasil na OCDE não foram os países europeus, não foi a França de Emmanuel Macron, apresentado pelo ex-capitão como um inimigo do País. A rejeição, anunciada pela Bloomberg, partiu da Casa Branca. Trump, o ídolo, tratou Bolsonaro como um fã inconveniente do qual é melhor manter distância. O brasileiro, por sua vez, age como um stalker. O olhar apaixonado e o “I love you” atirados em direção ao presidente dos Estados Unidos no breve encontro nos corredores da ONU em Nova York expressam perfeitamente o nível da relação. Bolsonaro mais parecia um groupie embasbacado diante do ídolo do rock enfadado e em busca de algo mais interessante para fazer. Um aperto de mão, uma foto e tchau.
Terá o Brasil aprendido a lição? Pouco provável. O discurso belicoso de Bolsonaro na Assembleia da ONU e os embates com Macron não refletem apenas uma interpretação recalcada e caipira do mundo. Eles servem ao objetivo de minar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia para agradar os Estados Unidos. Da mesma forma, comemorar o acerto Mercosul-UE seria um erro, dado os prejuízos à indústria brasileira, mas o boicote do Palácio do Planalto visa uma alternativa ainda pior, um acordo bilateral com os Estados Unidos cujas bases são completamente desconhecidas da sociedade. Não bastasse, o ex-capitão mostra-se inclinado a optar pelos norte-americanos na disputa com a China pela expansão da tecnologia 5G. O melhor neste caso seria o Palácio do Planalto se aproveitar da disputa entre as duas potências e tentar extrair o melhor para os brasileiros. O que importam, porém, os interesses de 200 milhões de compatriotas diante da vontade de Trump.
Há um fato ainda mais triste: a relação, superficial como tem ficado claro, de Bolsonaro se resume ao republicano. O Brasil não é um aliado preferencial dos Estados Unidos. Se Trump sofrer um impeachment – possibilidade remota, mas não descartável – ou se perder as eleições de 2020, o flerte chegará ao fim.
Uma parcela hegemônica do Partido Democrata não nutre simpatia pelo ex-capitão. Algumas alas o desprezam. Infelizmente, o Itamaraty aposta todas as fichas em uma relação pessoal, unilateral, desestruturada e com grandes chances de acabar em breve.
PS: em nota, a embaixada dos EUA disse que o apoio para o Brasil iniciar o processo de associação à OCDE está mantido. Não há, porém, um prazo para a adesão.
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