segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Bolsonaro e seu partido tresoitão

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

A incoerência dessa gente é gritante. Logo que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro baixou um decreto liberando o porte e a posse de armas de fogo para qualquer um e facilitando o acesso até a menores de idade.

Na época, especialistas criticaram a medida, alertando que isso iria representar até 20 milhões de pessoas armadas no país. Em abril, o presidente de extrema direita publicou no instagram a foto que ilustra este post, em que defendia “a liberdade, com critérios, para cidadãos que querem se proteger e proteger suas famílias. Leis de desarmamento só funcionam contra aqueles que respeitam as leis; quem quer cometer crimes já não se preocupa com isso”. Pressionado, revogou o decreto e enviou ao Congresso um projeto de lei, que foi desidratado na Câmara, e a maioria das propostas do presidente ficou de fora.

Agora, o mesmo Bolsonaro que queria colocar um revólver na mão de todo mundo diz que “quem estiver portando arma vai levar tiro”, para tentar justificar mais uma proposta truculenta de seu governo: um projeto de lei que isenta de punição policiais e militares que cometerem excessos durante operações de garantia da lei e da ordem. Ou seja, quer dar licença a assassinos, desde que fardados, para matar. Não dá para entender. Quer dizer que ele pretende, ao mesmo tempo, armar a população e permitir a policiais e militares que exterminem pessoas por estarem armadas?

Obviamente o temor ao projeto não partirá dos “cidadãos de bem” que, como o presidente, parecem amar mais revólveres e pistolas do que suas próprias mulheres. Eles não têm com o quê se preocupar. A licença para matar de Bolsonaro não recairá sobre os brancos ricos e de classe média ou sobre os ruralistas e seus jagunços que desfilarão por aí com o “tresoitão”, número do novo partido do presidente, enfiado na cintura. Os alvos serão, como já acontece hoje, os negros da periferia, como a menina Ágatha Félix ou o garçom Francisco Laércio Lima, morto com um tiro na cabeça disparado pela PM na semana passada. O único efeito que este projeto terá é que a certeza da impunidade multiplicará ainda mais as vítimas inocentes dos maus policiais.

Tenebroso é perceber que Bolsonaro tem outro alvo na mira: os manifestantes que porventura forem às ruas contra seu governo, como acontece atualmente no Chile, na Colômbia e na Bolívia. Eles não se preocupam nem sequer em disfarçar isso. Seu filho Eduardo já disse com todas as letras que se o povo for às ruas haverá “um novo AI-5”. E o próprio presidente fez ameaças. “Conversei com o ministro de Defesa sobre a possibilidade de ter movimentos como tivemos no passado, parecidos com o que está acontecendo no Chile, e logicamente essa conversa, ele leva a seus comandantes, e a gente se prepara para usar o artigo 142, que é pela manutenção da lei e da ordem”, disse.

Ora, é justamente sob esta condição –manutenção da lei e da ordem– que o projeto de lei defende que não haja punição. O projeto é uma espécie de anistia preventiva para os assassinos de farda. Policiais e militares poderão matar (ou cegar) qualquer um que protestar contra o governo. Fica claro que o que Bolsonaro pretende é manter os brasileiros acuados à bala, como se estivéssemos sequestrados por um bando de crápulas, trancafiados num porão escuro, sendo submetidos a todo tipo de tortura e maldade; se reagirmos, seremos mortos. A diferença é que, para estes bandidos, não haverá punição.

O slogan do partido tresoitão de Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil, é “nossa força é o Brasil”. Se fossem honestos, assumiriam o nome “Algema pelo Brasil” e o lema, mais condizente com os anos de chumbo que sonham reeditar: “Nossa força é a bala. Viemos para prender e arrebentar”. E ainda há quem chame o que vivemos de “democracia”…

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