Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou o slogan "América em primeiro lugar", ele não deixou margens para dúvidas de que comandaria um jogo comercial de regras brutais. Isso ficou mais definido em sua intervenção no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, de 2018. Na ocasião, Trump disse que o livre-comércio “precisa ser justo e recíproco”.
Na mesma reunião, o secretário do Tesouro norte-americano, Steve Mnuchin, foi além ao dizer que "o presidente Trump está cuidando dos interesses dos trabalhadores americanos e dos interesses dos Estados Unidos, da mesma forma que espera que outros líderes cuidem dos interesses de seus cidadãos". A juras de amor pela “justiça” nos intercâmbios internacionais, tendo como base essas declarações, soaram como falácias.
O conceito de justiça é sempre carregado de subjetividade. Além de questões ideológicas, ele depende de regras que devem ser estabelecidas de forma democrática. Não é o que tem ocorrido no âmbito do direito internacional, sobretudo pela imposição da hegemonia dos Estados Unidos nos aspectos econômico e militar. Na América Latina, por exemplo, é famosa a "Doutrina Monroe", um punhal norte-americano cravado na região.
Com ela atua o "Destino Manifesto", um poderoso elemento mobilizador da energia do país em favor do seu expansionismo. Trata-se de uma "teoria" que surgiu e se difundiu na metade do século XIX como atestado de que os norte-americanos nasceram para ser o melhor povo do mundo. É muito forte a influência da religião nessa "teoria", um destino que teria sido profetizado pela "providência divina", elixir do intervencionismo norte-americano.
Há ainda os acordos da Conferência de Bretton Woods, de 1948, que criaram o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (Gatt) – mais tarde Organização Mundial do Comércio (OMC) –, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Sem falar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o clube do arsenal bélico dos que se autoproclamam donos do mundo, habituados a pisotear o direito internacional, passando por cima da autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU).
Diante desse cenário, é evidente que os países que prezam a sua independência e a sua soberania não podem vacilar. Muito menos se jogar aos pés da principal potência que comanda tudo isso, como fez o presidente Jair Bolsonaro. Nem tampouco falar fino com o chefão da Casa Branca e grosso com os chefes de Estado que buscam a soberania e a independência da região, como disse certa vez o cantor e compositor Chico Buarque de Holanda.
Trump lança seus ataques em todas as direções. Depois de fustigar a China, retomando com agressividade a pressão pela valorização do yuan frente ao dólar, ele ameaça impor tarifas de até 100% sobre US$ 2,4 bilhões em importações europeias. E agora se volta para o Brasil e a Argentina, anunciando tarifas sobre aço e alumínio como retaliação à “maciça desvalorização” do real e do peso, prejudicando o comércio exterior dos Estados Unidos.
O objetivo, está claro, é proteger a indústria norte-americana da concorrência internacional. Bolsonaro, com sua vassalagem, se encontra completamente fragilizado para enfrentar o rompante de Trump. Não tem sequer força para se unir ao presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, para uma ação mais efetiva. O presidente norte-americano se vale de uma indiscutível falácia. Mas se aproveita da situação vassala do governo brasileiro para impor seus interesses.
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