Por Margarida Salomão, no site Mídia Ninja:
Respeito. Esse deve ser um dos nortes da gestão pública. Governantes devem ter o senso de responsabilidade e saber que sua atividade e suas decisões impactam profundamente a vida das pessoas.
Dou testemunho de meu período como reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Minha equipe e eu sempre compreendemos que a organização do vestibular deveria ser vista como uma operação de guerra. Compreensão que derivava não do fato de sabermos dos inúmeros processos envolvidos e do longo tempo de preparação necessário. Nossa certeza era a de que aquela seleção influenciaria a vida de milhares de jovens, de diversas partes de Minas Gerais, jovens que dedicaram anos de sua vida para alcançar aquele momento. Organizar um excelente vestibular era, portanto, uma questão de respeito.
Se organizar o vestibular de uma única universidade demanda tanta responsabilidade, a tarefa de empreender o Enem requer muito mais.
Sendo assim, é inadmissível o que presenciamos nos últimos meses, com a “nau Enem” sendo capitaneada por um delirante feito Abraham Weintraub. Em um curtíssimo intervalo de tempo, presenciamos: 1) o vazamento do tema da redação; 2) erros grotescos na correção das provas; 3) questionamento do método de ponderação das notas; 4) quebra do princípio constitucional da impessoalidade, com o ministro atendendo pessoalmente apoiadores do governo na correção das notas; 5) rede SiSU não comportando a demanda; 6) divulgação fora de hora das notas, desrespeitando decisão judicial.
Em meio a esse caos, que fazia Weintraub? Elegia o referido exame como “o melhor de todos os tempos”. Entrementes, difamava pessoas nas redes sociais, postava vídeo tocando gaita. Para todo Titanic que afunda sempre haverá um músico para imortalizar o momento.
O Enem deve ser encarado como um patrimônio da Educação brasileira. Após anos de esforços, transformamos um teste da qualidade do ensino médio num dos maiores processos de seleção para o ensino superior do mundo, compreendendo a ampla maioria das universidades públicas brasileiras. Para os estudantes, grande ganho: com uma única avaliação, possibilitou-se a chance de estudar em diversos pontos do país, sem a necessidade de prestar inúmeros vestibulares e encarar tudo aquilo que isso implicaria.
Por isso mesmo, o Enem ascendeu à posição de ferramenta de inclusão social, assumindo-se como o meio necessário para que a ampliação do acesso à Educação Superior fosse realizada no país. A cada ano, cerca de quatro milhões de jovens alcançam uma universidade pública. O nome disso é revolução.
Tudo isso posto a perder com a gestão Weintraub. Quando de sua posse, desacreditávamos que um novo ministro pudesse fazer pior que seu antecessor, Vélez Rodríguez. Não poderíamos estar mais enganados. Sob sua batuta, o MEC torna-se a própria trincheira de luta contra a educação pública.
Tudo começa com a difamação das universidades com base em notórias fake news (taxadas pelo ministro como centros de balbúrdia), o que justificaria o corte de recursos orçamentários garantidos às mesmas. Daí deriva para a interferência no processo de seleção dos reitores, a proibição da contratação de novos professores e de viagens de cunho de divulgação científica. Para completar, a inquestionável ideologização de instituições como o Inep e a Capes – esta última, agora gerida por um criacionista.
A série sucessiva e, aparentemente, interminável de erros envolvendo o Enem é apenas a gota d’água que faltava numa gestão desqualificada e profundamente danosa para a educação brasileira. Weintraub nunca possuiu qualquer qualificação técnica para assumir o posto – o contrário, portanto, do que Bolsonaro propagandeia. Por outro lado, faltam-lhe, agora, quaisquer condições morais para permanecer no cargo.
As pinceladas finais desse show de horrores foram dadas por Jair Bolsonaro, na mais recente terça-feira, 28 de janeiro. Num inesperado lance de “lucidez”, o presidente afirmou que tantos erros no Enem só poderiam ser “sabotagem”. Correto, ainda que necessitando de uma especificação. Não se trata só de sabotagem, mas de autossabotagem. Pois não há maior autossabotagem que ter Weintraub como ministro.
Por isso mesmo, fora Weintraub!
Respeito. Esse deve ser um dos nortes da gestão pública. Governantes devem ter o senso de responsabilidade e saber que sua atividade e suas decisões impactam profundamente a vida das pessoas.
Dou testemunho de meu período como reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Minha equipe e eu sempre compreendemos que a organização do vestibular deveria ser vista como uma operação de guerra. Compreensão que derivava não do fato de sabermos dos inúmeros processos envolvidos e do longo tempo de preparação necessário. Nossa certeza era a de que aquela seleção influenciaria a vida de milhares de jovens, de diversas partes de Minas Gerais, jovens que dedicaram anos de sua vida para alcançar aquele momento. Organizar um excelente vestibular era, portanto, uma questão de respeito.
Se organizar o vestibular de uma única universidade demanda tanta responsabilidade, a tarefa de empreender o Enem requer muito mais.
Sendo assim, é inadmissível o que presenciamos nos últimos meses, com a “nau Enem” sendo capitaneada por um delirante feito Abraham Weintraub. Em um curtíssimo intervalo de tempo, presenciamos: 1) o vazamento do tema da redação; 2) erros grotescos na correção das provas; 3) questionamento do método de ponderação das notas; 4) quebra do princípio constitucional da impessoalidade, com o ministro atendendo pessoalmente apoiadores do governo na correção das notas; 5) rede SiSU não comportando a demanda; 6) divulgação fora de hora das notas, desrespeitando decisão judicial.
Em meio a esse caos, que fazia Weintraub? Elegia o referido exame como “o melhor de todos os tempos”. Entrementes, difamava pessoas nas redes sociais, postava vídeo tocando gaita. Para todo Titanic que afunda sempre haverá um músico para imortalizar o momento.
O Enem deve ser encarado como um patrimônio da Educação brasileira. Após anos de esforços, transformamos um teste da qualidade do ensino médio num dos maiores processos de seleção para o ensino superior do mundo, compreendendo a ampla maioria das universidades públicas brasileiras. Para os estudantes, grande ganho: com uma única avaliação, possibilitou-se a chance de estudar em diversos pontos do país, sem a necessidade de prestar inúmeros vestibulares e encarar tudo aquilo que isso implicaria.
Por isso mesmo, o Enem ascendeu à posição de ferramenta de inclusão social, assumindo-se como o meio necessário para que a ampliação do acesso à Educação Superior fosse realizada no país. A cada ano, cerca de quatro milhões de jovens alcançam uma universidade pública. O nome disso é revolução.
Tudo isso posto a perder com a gestão Weintraub. Quando de sua posse, desacreditávamos que um novo ministro pudesse fazer pior que seu antecessor, Vélez Rodríguez. Não poderíamos estar mais enganados. Sob sua batuta, o MEC torna-se a própria trincheira de luta contra a educação pública.
Tudo começa com a difamação das universidades com base em notórias fake news (taxadas pelo ministro como centros de balbúrdia), o que justificaria o corte de recursos orçamentários garantidos às mesmas. Daí deriva para a interferência no processo de seleção dos reitores, a proibição da contratação de novos professores e de viagens de cunho de divulgação científica. Para completar, a inquestionável ideologização de instituições como o Inep e a Capes – esta última, agora gerida por um criacionista.
A série sucessiva e, aparentemente, interminável de erros envolvendo o Enem é apenas a gota d’água que faltava numa gestão desqualificada e profundamente danosa para a educação brasileira. Weintraub nunca possuiu qualquer qualificação técnica para assumir o posto – o contrário, portanto, do que Bolsonaro propagandeia. Por outro lado, faltam-lhe, agora, quaisquer condições morais para permanecer no cargo.
As pinceladas finais desse show de horrores foram dadas por Jair Bolsonaro, na mais recente terça-feira, 28 de janeiro. Num inesperado lance de “lucidez”, o presidente afirmou que tantos erros no Enem só poderiam ser “sabotagem”. Correto, ainda que necessitando de uma especificação. Não se trata só de sabotagem, mas de autossabotagem. Pois não há maior autossabotagem que ter Weintraub como ministro.
Por isso mesmo, fora Weintraub!
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