Por Gilberto Maringoni
Ao contrário do que pregam alarmistas irresponsáveis, não há sinais de que estejamos na iminência de uma ditadura fardada.
Temos mais militares no Planalto, mas até agora inexistem indicações objetivas de que este seja um governo militar, o que ensejaria uma doutrina unificada por parte de seus patrocinadores e um poder garantido pelas baionetas, com amordaçamento do Congresso e do Judiciário.
Temos um "novo normal", com "as instituições funcionando normalmente".
Há um evidente avanço autoritário forçando os limites da institucionalidade, mas atuando dentro dela. A diferença é grande.
Aconteceu uma reforma ministerial que não ousa dizer o nome.
Ricardo Salles perdeu sua principal área de atuação - a Amazônia - para Mourão, o general Braga Netto foi para a Casa Civil e tornou Onyx Lorenzoni pouco menos que figura decorativa.
Quem exerce no ministério do Desenvolvimento Regional a nobre função "é dando que se recebe" - anteriormente na Casa Civil - com governadores, prefeitos e deputados é o competente Rogério Marinho.
De quebra, Felipe Martins, o aloprado assessor de Relações Internacionais da presidência foi rebaixado a abajur do palácio. Na prática, representam demissões brancas de porcas e parafusos espanados.
Paulo Guedes está desacreditado.
Imolou-se na própria língua e não apresenta resultados significativos na gestão econômica.
Investimentos recuam e a indústria perde espaço. Pode não acontecer nada de prático - como sua queda -, mas o governo começa a mostrar sinais defensivos.
Todas as mudanças têm um objetivo: manter o desmonte do Estado, operado em duas vias:
1. Pelo alto, através das privatizações e do sucateamento de ativos e serviços e
2. Pela quebra do monopólio da violência, através da expansão das milícias, que representam a privatização da segurança e da concessão de direitos de cidadania.
A balbúrdia gerada pelo obscuro justiçamento de Adriano Nóbrega é sinal disso.
Ao mesmo tempo, há uma notável melhora nas condições de luta política na sociedade, perceptível nos últimos dias.
As grosserias de Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello tocaram fundo uma camada da população até aqui indiferente ao seu governo.
Trata-se do andar de cima, dos liberais confortados, de setores empresariais e da mídia corporativa. Pouco importa, para a disputa política, se Folha de S. Paulo, Globo ou Estadão são hipócritas em sua amnésia seletiva.
Claro que apoiaram direta ou indiretamente o avanço do fascismo, desde que salvaguardados os sacrossantos interesses do mercado.
Devem ser cobrados por isso. Mas neste momento - e apenas neste - somam-se à crescente onda antifascista que ganha espaços no país.
Não se sabe ainda como tais eventos tocam a base da sociedade.
No entanto as filas do INSS e do bolsa família podem fazer estragos no apoio popular ao governo, se a oposição conseguir pautar ações de denúncia e solidariedade ativa a tais setores.
Por fim e não menos importante, os petroleiros tiveram duas vitórias momentâneas na segunda (17): a readmissão dos demitidos e a reabertura de negociações com Ives Gandra, no TST.
A greve está em sua terceira semana e mantém força. Foi quebrado o dique de silêncio midiático, embora a cobertura esteja longe de ser decente. São avanços expressivos!
Mais do que nunca estão dadas as condições para a formação de uma grande frente contra o fascismo. Não se trata de movimento unitário.
Os de cima aumentam a oposição a Bolsonaro, mas buscam garantir a continuidade do desmonte do Estado e das privatizações, como já falado.
Frente, como se sabe, não é partido. Frente é uma coleção de forças em movimentos "desiguais e combinados", numa balbúrdia com alguns objetivos comuns.
Frentes não costumam ter atas, contratos lavrados em cartório ou estatutos muito definidos.
Vide nossa grande frente democrática nos anos finais da ditadura.
Não vale a pena aderir acriticamente ao movimento, apoiando antecipadamente candidatos que falsamente se apresentam como "de centro" para um futuro longínquo, isto é 2022.
Apoiar uma grande frente, do ponto de vista da esquerda, significa somar-se a ela e disputar seu caráter antineoliberal e sua direção principal.
Pessimismo da razão e muito otimismo da vontade nessa hora.
O governo Bolsonaro segue forte, mas trincas aparecem por todos os lados.
Eles podem muito, mas não podem tudo.
Ao contrário do que pregam alarmistas irresponsáveis, não há sinais de que estejamos na iminência de uma ditadura fardada.
Temos mais militares no Planalto, mas até agora inexistem indicações objetivas de que este seja um governo militar, o que ensejaria uma doutrina unificada por parte de seus patrocinadores e um poder garantido pelas baionetas, com amordaçamento do Congresso e do Judiciário.
Temos um "novo normal", com "as instituições funcionando normalmente".
Há um evidente avanço autoritário forçando os limites da institucionalidade, mas atuando dentro dela. A diferença é grande.
Aconteceu uma reforma ministerial que não ousa dizer o nome.
Ricardo Salles perdeu sua principal área de atuação - a Amazônia - para Mourão, o general Braga Netto foi para a Casa Civil e tornou Onyx Lorenzoni pouco menos que figura decorativa.
Quem exerce no ministério do Desenvolvimento Regional a nobre função "é dando que se recebe" - anteriormente na Casa Civil - com governadores, prefeitos e deputados é o competente Rogério Marinho.
De quebra, Felipe Martins, o aloprado assessor de Relações Internacionais da presidência foi rebaixado a abajur do palácio. Na prática, representam demissões brancas de porcas e parafusos espanados.
Paulo Guedes está desacreditado.
Imolou-se na própria língua e não apresenta resultados significativos na gestão econômica.
Investimentos recuam e a indústria perde espaço. Pode não acontecer nada de prático - como sua queda -, mas o governo começa a mostrar sinais defensivos.
Todas as mudanças têm um objetivo: manter o desmonte do Estado, operado em duas vias:
1. Pelo alto, através das privatizações e do sucateamento de ativos e serviços e
2. Pela quebra do monopólio da violência, através da expansão das milícias, que representam a privatização da segurança e da concessão de direitos de cidadania.
A balbúrdia gerada pelo obscuro justiçamento de Adriano Nóbrega é sinal disso.
Ao mesmo tempo, há uma notável melhora nas condições de luta política na sociedade, perceptível nos últimos dias.
As grosserias de Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello tocaram fundo uma camada da população até aqui indiferente ao seu governo.
Trata-se do andar de cima, dos liberais confortados, de setores empresariais e da mídia corporativa. Pouco importa, para a disputa política, se Folha de S. Paulo, Globo ou Estadão são hipócritas em sua amnésia seletiva.
Claro que apoiaram direta ou indiretamente o avanço do fascismo, desde que salvaguardados os sacrossantos interesses do mercado.
Devem ser cobrados por isso. Mas neste momento - e apenas neste - somam-se à crescente onda antifascista que ganha espaços no país.
Não se sabe ainda como tais eventos tocam a base da sociedade.
No entanto as filas do INSS e do bolsa família podem fazer estragos no apoio popular ao governo, se a oposição conseguir pautar ações de denúncia e solidariedade ativa a tais setores.
Por fim e não menos importante, os petroleiros tiveram duas vitórias momentâneas na segunda (17): a readmissão dos demitidos e a reabertura de negociações com Ives Gandra, no TST.
A greve está em sua terceira semana e mantém força. Foi quebrado o dique de silêncio midiático, embora a cobertura esteja longe de ser decente. São avanços expressivos!
Mais do que nunca estão dadas as condições para a formação de uma grande frente contra o fascismo. Não se trata de movimento unitário.
Os de cima aumentam a oposição a Bolsonaro, mas buscam garantir a continuidade do desmonte do Estado e das privatizações, como já falado.
Frente, como se sabe, não é partido. Frente é uma coleção de forças em movimentos "desiguais e combinados", numa balbúrdia com alguns objetivos comuns.
Frentes não costumam ter atas, contratos lavrados em cartório ou estatutos muito definidos.
Vide nossa grande frente democrática nos anos finais da ditadura.
Não vale a pena aderir acriticamente ao movimento, apoiando antecipadamente candidatos que falsamente se apresentam como "de centro" para um futuro longínquo, isto é 2022.
Apoiar uma grande frente, do ponto de vista da esquerda, significa somar-se a ela e disputar seu caráter antineoliberal e sua direção principal.
Pessimismo da razão e muito otimismo da vontade nessa hora.
O governo Bolsonaro segue forte, mas trincas aparecem por todos os lados.
Eles podem muito, mas não podem tudo.
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