Por Rogério Christofoletti, no Diário do Centro do Mundo:
Ele já te constrangeu publicamente, disse que você só espalha mentiras. Já te ofendeu, falou da sua mãe e “deu uma banana” para o seu trabalho. Constantemente, não respeita o que você faz, e te xinga porque você é mulher ou porque trabalha para esse jornal ou aquele. Seus subordinados já te impediram de participar de entrevistas coletivas, e tentaram convencer empresas a não anunciar mais nos veículos em que você trabalha. Milícias virtuais te perseguem nas redes sociais, muitas vezes instigadas pelo desprezo que ele tem por você. Não é novidade nenhuma que Jair Bolsonaro – o presidente da república – odeia o jornalismo e os jornalistas, e faz de tudo para atacá-los. A questão é: como reagir a isso?
Vamos admitir, ele não está sozinho nessa. Ministros, deputados e governadores também apontam o dedo acusador para a imprensa, diante de perguntas incômodas (mas necessárias) e questionamentos firmes (e legítimos). Empresários, pseudo-celebridades, bots e valentões de redes sociais também babam de raiva contra repórteres. Bolsonaro não está sozinho e sua postura encoraja outros a atacarem o jornalismo. Se o presidente faz, é porque está liberado fazer! Mas a verdade é que ele não pode alimentar e espalhar esse ódio contra os jornalistas. E não pode usar a posição que ocupa para atacar pessoas ou organizações, apenas porque elas o desagradam. É covarde, antidemocrático e, em algumas situações, ilegal.
Nesta semana, tivemos mais um caso de ataque coordenado para descredibilizar a imprensa: um depoente na CPI das Fake News mentiu ao dizer que uma repórter se insinuou sexualmente para obter informações. O ataque não partiu do terceiro andar do Palácio do Planalto, mas foi endossado por um dos filhos do presidente e ganhou corpo nos esgotos das redes sociais. Como reagir a isso?
Um grupo corajoso e expressivo de mulheres jornalistas mostrou como: coletivamente. Produziu um manifesto contra a agressão misógina, levando organizações e pessoas a se posicionarem publicamente sobre isso. Os céticos poderão dizer que abaixo-assinados não resolvem os problemas do mundo, e eles estão certos. Mas a resposta aos ataques de Bolsonaro e companhia passa necessariamente pela ação coletiva e pela organização dos jornalistas.
Se os super-ricos se reúnem em Davos, se os grandes industriais almoçam juntos na Fiesp, se os patrões incham os cofres das suas associações classistas, por que o jornalista – que é bem mais fraco – deve enfrentar esses ataques sozinho? Repórteres, redatores, editores, produtores de conteúdo precisam buscar seus sindicatos e associações jornalísticas, pois são ambientes que podem protegê-los e que podem organizar reações.
Organização e ação
É suicídio tentar reagir sozinho às provocações dos poderosos de plantão, já que, muitas vezes, o jornalista não encontra amparo ou apoio na empresa em que trabalha. O departamento jurídico não dá respaldo, os superiores não fornecem orientações ou equipamentos de segurança. O profissional se vê solitário, cercado por quem o odeia, sem muita chance para responder.
É preciso reagir coletivamente à agenda anti-jornalística que querem impor ao país. Jornalistas não podem ser ofendidos quando estão fazendo o seu trabalho. Não podem ser perseguidos por autoridades, constrangidos publicamente, e linchados nas redes sociais apenas porque investigam, apuram informações ou fazem as perguntas certas nos momentos incertos.
Os sindicatos, os coletivos profissionais e as associações são os lugares certos para reorganizar a categoria porque são ambientes legítimos, representativos e construídos coletivamente. Você pode até não concordar com os rumos que o seu sindicato está tomando, mas como associado pode criticar, cobrar e disputar posição. Você pode até não acreditar no sindicato como instituição de luta, mas vai se organizar onde e de que forma? Você pode achar que não vale a pena agir coletivamente porque abomina toda forma de corporativismo, mas vai apanhar sozinho enquanto seus algozes agem em bandos? Não precisamos inventar a roda de novo! Se essas entidades já existem, por que não encontrar nelas os meios de reagir às agressões que sofremos? Por que não discutir dentro delas as maneiras de garantir dignidade e respeito profissional?
Nos sindicatos, na Fenaj e na Abraji, podem ser implementados programas de proteção a jornalistas, e podem ser oferecidos cursos de capacitação e segurança. Nesses locais, podem ser debatidos meios jurídicos para se contrapor a ataques, e podem ser formulados projetos de lei que assegurem condições profissionais seguras. Campanhas de valorização da categoria podem ser gestadas, e formas de diálogo com outras entidades e a sociedade podem ser criados.
Enfim, há muitos caminhos a serem trilhados, mas a jornada é coletiva. Em grupo, fazemos mais barulho e somos mais numerosos. Em grupo, somos mais inteligentes, mais fortes e chegamos mais longe. A unidade, o senso coletivo e alguma disposição para cooperar podem nos tirar da imobilidade em que estamos, sendo ofendidos, oprimidos e perseguidos. Isso tem acontecido porque estamos fazendo jornalismo, e tentando garantir o direito à informação de cidadãos e cidadãs. Algumas forças se opõem a essa condição. Oferecer resistência é uma obrigação moral de cada jornalista. Precisamos de imaginação e organização para reagir, porque fortalecer o exercício profissional é fortalecer o jornalismo e a democracia.
* Rogério Christofoletti é professor da UFSC e pesquisador. Publicado originalmente no site Objethos.
Penso exatamente o contrário. Por que os jornalistas não param de cobrir a agenda do senhor Jair, não comparecendo aos eventos patrocinados por ele ou onde ele estará. Quem não aparece, desaparece, simples assim. Ninguém é obrigado a cobrir nada, se os editoriais da grande mídia forem a expressão exata de seus donos. Não aguento mais tanta hipocrisia. Sei que vou ser destratado, mesmo assim, vou e ainda gargalho com os coices do senhor Messias. Isso é uma síndrome. Tem como ser tratada.
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