sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Sem o SUS a saúde pública vai para a UTI

Por Marcos Aurélio Ruy, no site CTB:

Viraliza na internet a entrevista do médico Drauzio Varella ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, nesta segunda-feira (10), na qual ele ressalta a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para o Brasil não entrar na UTI.

De acordo com Varella, “os brasileiros não sabem o que é o SUS”. E mesmo com o bombardeio promovido pela mídia tradicional, por interesses comerciais, contra a saúde pública, pesquisa do Datafolha de 2018 aponta que 88% das brasileiras e brasileiros são contra a extinção do SUS.

Como um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, o SUS foi criado pela Constituição promulgada em 1988. Não é política do PT, portanto, como muitas vezes alegam seguidores do presidente Jair Bolsonaro.

Aliás, segundo especialistas, o Brasil é o único país capitalista com mais de 100 milhões de habitantes que garante assistência de saúde integral e completamente gratuita.

“Mesmo com toda essa dimensão, sabemos que o SUS precisa de muito mais investimentos para dar conta da demanda de um país que conta com uma maioria absoluta sem nenhum plano de saúde e extinguir o SUS pode custar a vida de muita gente”, alega Francisca Pereira da Rocha Seixas, secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Para se ter uma ideia da importância da saúde pública, levantamento do Ministério da Saúde mostra que somente em 2014 foram realizados mais de 4,1 bilhões de procedimentos ambulatoriais e 1,4 bilhão de consultas médicas através do SUS, onde também ocorre o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo e de atendimento para portadores do HIV, renais crônicos, pacientes com câncer, tuberculose e hanseníase.

Além de tudo isso, os planos de saúde empurram para o sistema público os procedimentos mais caros e a dívida dessas empresas para o ressarcimento com o SUS era de R$ 1,6 bilhão pelo período de 2001 a outubro do ano passado.

De acordo com a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas Marques, a dívida dos dos planos de saúde prejudicam o atendimento público porque a “organização de serviços de alta complexidade e alto custo que demandam especialistas e equipamentos de ponta. O SUS oferece isso e a operadora se utiliza dessa possibilidade”.

Por isso, “se os valores fossem retornados de forma regular, eles estariam no orçamento da Saúde e poderiam ser reinvestidos. O que não falta é lugar para gastar nessa área”, garante Carla. Lembrando que o faturamento dos planos de saúde ativos no Brasil em 2018 foi de R$ 196 bilhões, sendo R$ 87 bilhões a mais do que os R$ 109 bilhões obtidos em 2013, mesmo em tempos de crise.

“Os empresários do setor faturam bilhões com a desgraça alheia”, assegura Elgiane Lago, secretária de Saúde da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Para ela, “o orçamento do Ministério da Saúde aprovado para 2020 está muito aquém das necessidades da população”. O orçamento aprovado é de R$ 125,6 bilhões, deveria ser no mínimo de R$ 134 bilhões e ainda R$ 4,3 bilhões estão condicionados à aprovação do crédito nacional.

Varella critica também a comparação com o inglês National Health Services (Serviço Nacional de Saúde). Em sua fala acentua que a Inglaterra é um país rico. “Na Inglaterra até eu organizo o sistema de saúde”, reforça. “Quero ver aqui, 210 milhões de pessoas, tremenda desigualdade social, desigualdade geográfica até, um país continental”.

O médico oncologista e imunologista fala com propriedade no Roda Viva sobre a necessidade de mais investimentos que possibilite um planejamento melhor para diminuir as filas nos prontos-socorros públicos. Nas filas ele garante que “se você encontrar 10% das pessoas que precisam realmente estar naquele lugar é muito”, porque “o sistema não funcionou lá traz”.

Ele conta a sua experiência anterior a 1988 quando as trabalhadoras e trabalhadores com carteira profissional assinada tinham atendimento garantido pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), criado em 1966, mas quem trabalhava sem registro não tinha atendimento nenhum, como as trabalhadoras e trabalhadores do campo.

Elgiane assegura que estão sendo cortados investimentos em programas como o médico de família e das Unidades Básicas de Saúde. Com isso, “a medicina preventiva fica prejudicada e as pessoas correm ao pronto-socorro quando ficam doentes”, sendo que, “a prevenção ainda é o melhor remédio”.

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