Por Sergio Araujo, no site Sul-21:
Uma ameaça de epidemia do Coronavírus (Covid-19) rondando a saúde dos brasileiros e ameaçando o crescimento da economia do país que, por sinal, apresentou um PIB com a menor evolução dos últimos três anos, e o presidente Bolsonaro arruma tempo para debochar da imprensa ao invés de usá-la para informar e tranquilizar a nação. Essa é a fotografia desse tempo de radicalismo e controversas atitudes que estamos tendo o desprazer de vivenciar.
Mas o que faz a imprensa ser a bola da vez? Qual a motivação para tamanha motivação ofensiva contra veículos de comunicação e jornalistas não adesistas? Mas especificamente, o que levou Jair Bolsonaro a escolher a “banana”, seja no gesto desaforado feito com os braços, seja na distribuição da fruta in natura, como marca do seu desprezo pela imprensa?
Particularmente tenho uma visão sobre isso. Por saudosismo e precipitação. Saudosismo, por trazer-lhe a lembrança do regime militar. Lembram dos gorilas da ditadura? E precipitação, por antecipar seu desejo de perpetuar-se no poder como o todo poderoso rei da República das Bananas, humilhando e ameaçando dizimar todos aqueles que se apresentam como inimigos das suas intenções.
Mais do que uma demonstração de arrogância, prepotência e tirania, a agressividade para com a imprensa denota temor e medo. Temor por saber que está sendo observado e investigado, direta ou indiretamente (filhos e assessores), e medo por saber que tem seu “calcanhar de Aquiles” permanentemente exposto, seja pela sua comprovada incapacidade para exercer o cargo que ocupa, seja pelos fantasmas do seu passado que assombram seu dia a dia.
Pois são essas limitações e esses temores que fazem de Bolsonaro um eterno inseguro. Alguém que usa o rigorismo da caserna e o autoritarismo da hierarquia como esconderijo para as suas fraquezas e as suas fobias, com destaque para as sensações de perseguição e de traição. E faz isso com a autoridade de quem se conhece, ou seja, que é a régua de si mesmo. Quem pensa que pode tudo sabe que tudo pode acontecer.
Na realidade, no seu íntimo, Bolsonaro tem medo dele mesmo. Por isso assuntos de grande relevância, ou são tratados com desprezo/deboche ou são terceirizados. Para não correr o risco de ter que assumir a culpa por eventuais (ou na maioria das vezes previsíveis) insucessos. Também a concentração de militares de alta patente no palácio do Planalto e no governo são sinais claros de fraqueza e de medo. Uma espécie de garantia de estabilidade para momentos difíceis.
Por isso a aversão à imprensa. Para um presidente de limitada competência e de elevada insegurança, os meios de comunicação independentes se assemelham a espelhos e, ao refletirem conjuntamente o homem e seu espectro, mostram a face verdadeira que ele não quer ver. Por isso seu desespero em acabar com os veículos que ameaçam seu projeto de poder. Por isso a sua tentativa de enfraquecimento da credibilidade dos seus críticos (jornalistas ou não) enquanto formadores de opinião. Porque ele não sabe e se nega a lidar com a realidade.
Com o objetivo de disfarçá-la (a realidade), montou uma máquina de fake news nas redes sociais e fez dela instrumento para alimentar sua bolha de fanáticos seguidores, identificados com o mundo tirânico que vê no uso da força a capacidade de aglutinar para conquistar. Mas a queda do número de seguidores, com várias manifestações de arrependimento da escolha proferida nas urnas, mostra que a máquina já apresenta sinais de fadiga. Daí o aumento do desespero do ex-capitão.
Soado o alerta, Bolsonaro pede socorro aos grandes e poderosos aliados. A começar pelas lideranças empresariais identificadas com o bizarro sistema conservador-liberal-econômico capitaneado por Paulo Guedes. Sugestivamente, em recente reunião promovida em São Paulo, Bolsonaro preconizou seu desejo de ver os empresários anunciando em veículos alinhados ao seu governo e não naqueles que “só mentem o tempo todo” e “trabalham contra o governo”. O que equivale pedir para que sufoquem economicamente os veículos inimigos do governo e, assim, leva-los à falência. Pode haver exemplo mais antidemocrático?
Mas no auge do que parece ser o apogeu do seu delírio persecutório, Bolsonaro, usando do habitual disfarce de lobo em pele de cordeiro, utilizou os parceiros de confiança para convocar seu exército de radicais abduzidos a irem às ruas no dia 15 de março. O alvo? O Congresso Nacional e o STF, instituições que a exemplo da imprensa ameaçam a continuidade do seu projeto de poder.
Está aberta a temporada de caça contra a liberdade de imprensa, a ordem constitucional e a democracia. Ou alguém tem dúvida de que estimular o enfraquecimento da imprensa independente e o fechamento do Parlamento Nacional e do STF, não é rasgar a Constituição e subjugar o regime democrático?
Cortina de fumaça, isso sim. Para aparentar força e apoio popular. Esse é o intuito da campanha presidencial levada à cabo. Nada de novo, ações parecidas já foram tomadas no passado. A única coincidência desses arroubos ditatoriais travestidos de populismo foi que eles acabaram substituídos pelo militarismo de ocasião. Se o medo da destituição é o fantasma que assombra os dias de Bolsonaro, suas noites são acalentadas pelo sonho da chegada de uma nova ditadura militar.
Portando, não nos iludamos com as bananas bolsonarianas distribuídas aos jornalistas ou com o governo banana praticado pelo presidente. Coronavírus, PIB, tudo isso, apesar da inegável importância, ainda é de pouco perto da ameaça de reedição dos anos de chumbo, época em que a palavra final era dada pelos violentos gorilas da ditadura, que distribuíam golpes de cacetes ao invés de bananas, a menos que fossem de dinamite, como aconteceu no lamentável e inesquecível episódio do atentado do Riocentro, em 1981.
Esse é o clima de “já te vi” que paira no céu do país. Tudo muito parecido com o ontem. Tudo muito ameaçador. Tudo muito perigoso. Tudo muito desafiador.
Mas o que faz a imprensa ser a bola da vez? Qual a motivação para tamanha motivação ofensiva contra veículos de comunicação e jornalistas não adesistas? Mas especificamente, o que levou Jair Bolsonaro a escolher a “banana”, seja no gesto desaforado feito com os braços, seja na distribuição da fruta in natura, como marca do seu desprezo pela imprensa?
Particularmente tenho uma visão sobre isso. Por saudosismo e precipitação. Saudosismo, por trazer-lhe a lembrança do regime militar. Lembram dos gorilas da ditadura? E precipitação, por antecipar seu desejo de perpetuar-se no poder como o todo poderoso rei da República das Bananas, humilhando e ameaçando dizimar todos aqueles que se apresentam como inimigos das suas intenções.
Mais do que uma demonstração de arrogância, prepotência e tirania, a agressividade para com a imprensa denota temor e medo. Temor por saber que está sendo observado e investigado, direta ou indiretamente (filhos e assessores), e medo por saber que tem seu “calcanhar de Aquiles” permanentemente exposto, seja pela sua comprovada incapacidade para exercer o cargo que ocupa, seja pelos fantasmas do seu passado que assombram seu dia a dia.
Pois são essas limitações e esses temores que fazem de Bolsonaro um eterno inseguro. Alguém que usa o rigorismo da caserna e o autoritarismo da hierarquia como esconderijo para as suas fraquezas e as suas fobias, com destaque para as sensações de perseguição e de traição. E faz isso com a autoridade de quem se conhece, ou seja, que é a régua de si mesmo. Quem pensa que pode tudo sabe que tudo pode acontecer.
Na realidade, no seu íntimo, Bolsonaro tem medo dele mesmo. Por isso assuntos de grande relevância, ou são tratados com desprezo/deboche ou são terceirizados. Para não correr o risco de ter que assumir a culpa por eventuais (ou na maioria das vezes previsíveis) insucessos. Também a concentração de militares de alta patente no palácio do Planalto e no governo são sinais claros de fraqueza e de medo. Uma espécie de garantia de estabilidade para momentos difíceis.
Por isso a aversão à imprensa. Para um presidente de limitada competência e de elevada insegurança, os meios de comunicação independentes se assemelham a espelhos e, ao refletirem conjuntamente o homem e seu espectro, mostram a face verdadeira que ele não quer ver. Por isso seu desespero em acabar com os veículos que ameaçam seu projeto de poder. Por isso a sua tentativa de enfraquecimento da credibilidade dos seus críticos (jornalistas ou não) enquanto formadores de opinião. Porque ele não sabe e se nega a lidar com a realidade.
Com o objetivo de disfarçá-la (a realidade), montou uma máquina de fake news nas redes sociais e fez dela instrumento para alimentar sua bolha de fanáticos seguidores, identificados com o mundo tirânico que vê no uso da força a capacidade de aglutinar para conquistar. Mas a queda do número de seguidores, com várias manifestações de arrependimento da escolha proferida nas urnas, mostra que a máquina já apresenta sinais de fadiga. Daí o aumento do desespero do ex-capitão.
Soado o alerta, Bolsonaro pede socorro aos grandes e poderosos aliados. A começar pelas lideranças empresariais identificadas com o bizarro sistema conservador-liberal-econômico capitaneado por Paulo Guedes. Sugestivamente, em recente reunião promovida em São Paulo, Bolsonaro preconizou seu desejo de ver os empresários anunciando em veículos alinhados ao seu governo e não naqueles que “só mentem o tempo todo” e “trabalham contra o governo”. O que equivale pedir para que sufoquem economicamente os veículos inimigos do governo e, assim, leva-los à falência. Pode haver exemplo mais antidemocrático?
Mas no auge do que parece ser o apogeu do seu delírio persecutório, Bolsonaro, usando do habitual disfarce de lobo em pele de cordeiro, utilizou os parceiros de confiança para convocar seu exército de radicais abduzidos a irem às ruas no dia 15 de março. O alvo? O Congresso Nacional e o STF, instituições que a exemplo da imprensa ameaçam a continuidade do seu projeto de poder.
Está aberta a temporada de caça contra a liberdade de imprensa, a ordem constitucional e a democracia. Ou alguém tem dúvida de que estimular o enfraquecimento da imprensa independente e o fechamento do Parlamento Nacional e do STF, não é rasgar a Constituição e subjugar o regime democrático?
Cortina de fumaça, isso sim. Para aparentar força e apoio popular. Esse é o intuito da campanha presidencial levada à cabo. Nada de novo, ações parecidas já foram tomadas no passado. A única coincidência desses arroubos ditatoriais travestidos de populismo foi que eles acabaram substituídos pelo militarismo de ocasião. Se o medo da destituição é o fantasma que assombra os dias de Bolsonaro, suas noites são acalentadas pelo sonho da chegada de uma nova ditadura militar.
Portando, não nos iludamos com as bananas bolsonarianas distribuídas aos jornalistas ou com o governo banana praticado pelo presidente. Coronavírus, PIB, tudo isso, apesar da inegável importância, ainda é de pouco perto da ameaça de reedição dos anos de chumbo, época em que a palavra final era dada pelos violentos gorilas da ditadura, que distribuíam golpes de cacetes ao invés de bananas, a menos que fossem de dinamite, como aconteceu no lamentável e inesquecível episódio do atentado do Riocentro, em 1981.
Esse é o clima de “já te vi” que paira no céu do país. Tudo muito parecido com o ontem. Tudo muito ameaçador. Tudo muito perigoso. Tudo muito desafiador.
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