sexta-feira, 6 de março de 2020

Milícia digital mantém ensaio golpista

Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:

O governo Bolsonaro talvez não tivesse chegado até aqui sem a ajuda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, seja na aprovação de matérias relevantes, como a reforma previdenciária, seja bloqueando as propostas mais insanas e desgastantes para o próprio governo.

Mas nesta terça-feira os bolsonaristas, ouvindo o assobio do Planalto, partiram para cima de Maia nas redes sociais, acusando-o de querer “meter a mão” em R$ 30 bilhões do Executivo no Orçamento.

É com esta fúria anti-Congresso que eles vão para a rua no dia 15. Ou seja, o ensaio golpista segue firme.

Bolsonaro também fez uso de sua conhecida manipulação da verdade.

No final da tarde, depois de longas negociações, mandou ao Congresso três projetos regulamentando o orçamento impositivo, para viabilizar o acordo que reduzirá para R$ 15 bilhões o montante de execução obrigatória em obras indicadas pelo Congresso.

Mas no Twitter ele disse que não houve qualquer negociação com o Congresso sobre o Orçamento, que a proposta do governo estava mantida através de seu veto.

Em verdade, a conclusão do acordo (ou não) ficou para amanhã. Os congressistas querem antes aprovar os projetos, e depois derrubar o veto.

Ao longo do dia os bolsonaristas atuaram no Twitter para manter no topo a hastag #Veto52VotoSimAberto.

Veto 52 é o que Bolsonaro apôs à reserva de R$ 30 bilhões para emendas impositivas do relator do Orçamento.

A deputada Carla Zambeli chegou a dizer: “Bora, robozada, vamos subir”, numa referencia aos robôs de que se vale a milícia digital.

Ao longo do dia os bolsonaristas atacaram Maia, defensor da derrubada do veto, e em menor grau Davi Alcolumbre, presidente do Senado, que atuou pela manutenção do veto de Bolsonaro, evoluindo para a defesa do acordo que deve reduzir o montante de execução obrigatória.

Em algumas mensagens apareceram as mensagens “Foda-se@Rodrigo Maia, Foda-se@DaviAlcolumbre”.

As mensagens eram na linha dada pelo robô Molambo: “Não podemos dar este cheque em branco de 30 bilhões para o Rodrigo Maia”. Confusão proposital: os recursos não são para Maia nem para os parlamentares. São para obras por eles indicadas em seus estados.

O robô “Deus da Raça” complementava: “Vamos deixar o Rodrigo Maia, que foi denunciado pela PF de caixa 3, falsidade ideológica e corrupção passiva meter a mão em 30 bilhões de reais? Como um bandido com 70 mil votos pode destruir um país”.

O grupo de extrema direita “Vemprárua” foi muito ativo.

“Se você também não quer dar nenhum bilhão para Rodrigo Maia, acesse agora #veto.52.com.br e pressione deputados e senadores pela manutenção do veto 52”.

Maia foi também acusado, em várias tuites, de ter sido a autoridade que mais requisitou aviões da FAB para viajar. Outras diziam que o veto precisa ser mantido para evitar a “retirada de poderes do presidente e a imposição do parlamentarismo branco”.

A toada foi esta, contra Maia, contra o Congresso, contra o tal parlamentarismo branco.

E assim ficou patente que a manifestação do dia 15 continuará sendo contra o Congresso, na linha defendida pelo general Heleno.

Mas o cinismo não tem limites para os bolsonaristas.

No fervor da sessão da Câmara, a deputada Bia Kicis subiu à tribuna para dizer que a oposição é que é antidemocrática por condenar “o povo na rua”.

E que o povo sairá no dia 15 para defender a democracia, o Congresso e o governo.

A quem mesmo ela acha que engana?

Não nos enganemos. O ensaio golpista segue em marcha.

Se tiverem chance, eles avançam.

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