quinta-feira, 12 de março de 2020

O Congresso e o medo de Bolsonaro

Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:

Um bárbaro chegou ao poder, não para nos governar, mas para desfilar sua ignorância, para alimentar o ódio de suas hordas, para se refestelar com o rastro de infelicidade em sua passagem, para destruir as instituições em que não acredita e que considera um estorvo. Neste momento ele investe contra a crença nas eleições, denunciando fraudes nas eleições que venceu, pavimentando o caminho para evitar as próximas, e se elas acontecerem, para só aceitar como resultado a sua vitória. Já havia dito isso em 2018. Mas investe sobretudo contra o Congresso, que nesta semana começa a se render ao medo.

Sim, é por medo do bárbaro e de suas hordas que marcharão no domingo que o Congresso já pensa em não votar os PLNs que o próprio Jair Bolsonaro assinou e enviou, sacramentando o acordo firmado sobre a parcela de recursos do orçamento que deverá ser executada por indicação dos congressistas, as emendas impositivas. Em vez de R$ 30 bilhões, apenas R$ 15 bilhões. Alguns querem votar as propostas só depois do domingo, na esperança de que o clima melhore depois que os bolsonaristas liberarem suas iras nas ruas, gritando contra o Congresso e o STF e tudo que represente a democracia que consideram um mal. Outros querem simplesmente renunciar ao palmo de terra conquistado, para não enfurecer ainda mais o bárbaro. Poucos estão dispostos a enfrentar logo esta batalha e liquidar o assunto, fazendo prevalecer o acordo que foi firmado e agora é negado.

Mas Bolsonaro é adversário sem nenhum caráter. Negociou, o Congresso manteve seus vetos ao orçamento na semana passada, e agora ele não vai honrar a palavra dada. Bom para o Congresso aprender que com ele não valem os códigos de honra da política. Logo, com ele não se pode negociar a não ser com a troca de reféns.

Os mais medrosos já encontraram o discurso: melhor abdicarmos destes R$ 15 bilhões para que ele não venha a culpar o Congresso pelo desastre econômico que está sendo gestado, sob a forma de uma recessão que o governo parece buscar com afinco. Quando Guedes pede ao Congresso que aprove logo 19 projetos complexos, não está propondo medidas contra a crise que ruge aqui e lá fora. Ele sabe que não há tempo nem condições para isso. Quem tem 19 prioridades não tem nenhuma. As recessões, com seus famintos, desempregados e desesperados, é o terreno ideal para a implantação dos regimes autocráticos. Sempre foi assim, antes e depois de Hitler. O liberal Armínio Fraga diz que o governo está atrapalhando muito o país. Comedido. O governo está cavando uma recessão.

Render-se a Bolsonaro é um auto-engano. Se prevalecer o medo, e o Congresso capitular, Jair Bolsonaro não vai se tornar menos truculento nem mais respeitador das instituições. Pelo contrário, sairá fortalecido para avançar com a quebradeira institucional.

Esta semana o Congresso a escolha do Congresso nem será entre medo e coragem, mas entre fraqueza e responsabilidade.

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