Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
O Brasil já tem a cena definitiva para o covid-19.
O Brasil já tem a cena definitiva para o covid-19.
Quem pode deixa uma amostra para exame no Albert Einstein.
Quem não pode apanha um número na roleta da rede pública de saúde para ver o que acontece.
Não é difícil adivinhar.
Tanto a tragédia italiana, como o desempenho daqueles países que atingiram um desempenho considerado aceitável até aqui, têm como referência o atendimento da rede pública.
É assim porque não há como enfrentar uma epidemia, que se espalha pelo ar que todos respiram, em ambientes que todos frequentam, independente da conta no banco, cor da pele ou bairro onde moram, com apoio exclusivo na rede privada, por mais sofisticada e ampla que possa ser.
Nos Estados Unidos, onde o atendimento médico é 100% privado, pois a força dos lobistas do setor derrubou toda tentativa de formar um sistema público, a letalidade do coranavírus é de 5%, uma das mais altas do mundo - o que ajuda a entender a reação bombástica de Donald Trumb, ontem.
Ciente das vulnerabilidades do sistema de saúde do país, a Casa Branca tomou uma medida de guerra ao fechar aeroportos norte-americanos para vôos vindos da Europa.
Na luta encarniçada pela reeleição, o adversário do Obamacare - a primeira e fraca tentativa de criar um sistema de saúde acessível aos pobres - não quer correr o risco de perder votos para o covid-19.
No Brasil, onde a Constituição de 1988 criou um sistema público de saúde para atuar como contraponto a segunda pior desigualdade do planeta, a chegada do coronavirus atualiza a eterna batalha entre ricos e pobres, burgueses e proletários, gravatões e pés-rapados, como quiser chamar.
Complete-se o quadro com um governo paspalhão onde, para fugir de suas responsabilidades, o presidente chegou a dizer que "outras gripes mataram mais, se não me engano".
Enganou-se pelo princípio de que toda vida humana é unica e insubstituível.
E aqui estamos falando de uma ameaça contra dezenas de milhares que precisam ser atendidos e protegidos.
Em janeiro, quando o perigo parecia contido na China, já era possível saber que o Brasil iria precisar de mil novos leitos só para iniciar a brincadeira.
É nada, numa epidemia capaz de crescer aos saltos. (Folha de S. Paulo, 12/3/2020).
Ontem, com 69 casos já confirmados, estimava-se que os infectados poderiam chegar a 30 000 nos próximos 30 dias.
Nesse ambiente, ontem o Ministério da Saúde admitia que só fora capaz de habilitar cem leitos - um décimo de uma projeção já insuficiente.
É um aperto dramático, num país onde a ocupação de leitos se encontra no limite, com poucas folgas, de 95%, antes do covid-19. (Estado de S. Paulo, 12/3/2020).
Entre o pouco que se sabe sobre o covid-19, a agressividade é um traço marcante, que exige cuidados redobrados, de preferência em UTIs, pois o ponto principal é garantir que o paciente fique entubado por vários dias.
Na China e na Itália, com casos mais numerosos para servir de estudo, a queda da letalidade coincidiu com a ampliação de UTIs, mesmo que fossem em salas improvisadas.
Na Itália, as cirurgias comuns foram suspensas em função da emergência - medida que já está sendo preparada no Brasil.
Bastante mencionada nos jornais, a internação de pacientes em aposentos domésticos esbarra em vários inconvenientes em residências que não tem padrão Sírio-Libanês ou Copa d'Or.
De saída, a solução não vale para metade das residências brasileiras, que não dispõem de água encanada, vamos combinar.
É certo que será preciso fazer mais. Quanto? Ninguém sabe.
Mas Paulo Guedes e Jair Bolsonaro poderiam fazer sua parte.
Atendendo a sugestão do deputado Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde no governo Dilma, poderiam devolver os R$ 9 bilhões retirados no orçamento da Saúde em 2019 para garantir o teto de gastos que tanto agrada o mercado financeiro.
Os 9 bi não resolverão todos os problemas, com certeza. Mas, além de representar uma indispensável ajuda à saúde de um povo de 210 milhões, irão diminui o grau de indecência num país que irá enfrentar uma guerra sem dúvida dolorosa pela sobrevivência.
Alguma dúvida ?
Quem não pode apanha um número na roleta da rede pública de saúde para ver o que acontece.
Não é difícil adivinhar.
Tanto a tragédia italiana, como o desempenho daqueles países que atingiram um desempenho considerado aceitável até aqui, têm como referência o atendimento da rede pública.
É assim porque não há como enfrentar uma epidemia, que se espalha pelo ar que todos respiram, em ambientes que todos frequentam, independente da conta no banco, cor da pele ou bairro onde moram, com apoio exclusivo na rede privada, por mais sofisticada e ampla que possa ser.
Nos Estados Unidos, onde o atendimento médico é 100% privado, pois a força dos lobistas do setor derrubou toda tentativa de formar um sistema público, a letalidade do coranavírus é de 5%, uma das mais altas do mundo - o que ajuda a entender a reação bombástica de Donald Trumb, ontem.
Ciente das vulnerabilidades do sistema de saúde do país, a Casa Branca tomou uma medida de guerra ao fechar aeroportos norte-americanos para vôos vindos da Europa.
Na luta encarniçada pela reeleição, o adversário do Obamacare - a primeira e fraca tentativa de criar um sistema de saúde acessível aos pobres - não quer correr o risco de perder votos para o covid-19.
No Brasil, onde a Constituição de 1988 criou um sistema público de saúde para atuar como contraponto a segunda pior desigualdade do planeta, a chegada do coronavirus atualiza a eterna batalha entre ricos e pobres, burgueses e proletários, gravatões e pés-rapados, como quiser chamar.
Complete-se o quadro com um governo paspalhão onde, para fugir de suas responsabilidades, o presidente chegou a dizer que "outras gripes mataram mais, se não me engano".
Enganou-se pelo princípio de que toda vida humana é unica e insubstituível.
E aqui estamos falando de uma ameaça contra dezenas de milhares que precisam ser atendidos e protegidos.
Em janeiro, quando o perigo parecia contido na China, já era possível saber que o Brasil iria precisar de mil novos leitos só para iniciar a brincadeira.
É nada, numa epidemia capaz de crescer aos saltos. (Folha de S. Paulo, 12/3/2020).
Ontem, com 69 casos já confirmados, estimava-se que os infectados poderiam chegar a 30 000 nos próximos 30 dias.
Nesse ambiente, ontem o Ministério da Saúde admitia que só fora capaz de habilitar cem leitos - um décimo de uma projeção já insuficiente.
É um aperto dramático, num país onde a ocupação de leitos se encontra no limite, com poucas folgas, de 95%, antes do covid-19. (Estado de S. Paulo, 12/3/2020).
Entre o pouco que se sabe sobre o covid-19, a agressividade é um traço marcante, que exige cuidados redobrados, de preferência em UTIs, pois o ponto principal é garantir que o paciente fique entubado por vários dias.
Na China e na Itália, com casos mais numerosos para servir de estudo, a queda da letalidade coincidiu com a ampliação de UTIs, mesmo que fossem em salas improvisadas.
Na Itália, as cirurgias comuns foram suspensas em função da emergência - medida que já está sendo preparada no Brasil.
Bastante mencionada nos jornais, a internação de pacientes em aposentos domésticos esbarra em vários inconvenientes em residências que não tem padrão Sírio-Libanês ou Copa d'Or.
De saída, a solução não vale para metade das residências brasileiras, que não dispõem de água encanada, vamos combinar.
É certo que será preciso fazer mais. Quanto? Ninguém sabe.
Mas Paulo Guedes e Jair Bolsonaro poderiam fazer sua parte.
Atendendo a sugestão do deputado Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde no governo Dilma, poderiam devolver os R$ 9 bilhões retirados no orçamento da Saúde em 2019 para garantir o teto de gastos que tanto agrada o mercado financeiro.
Os 9 bi não resolverão todos os problemas, com certeza. Mas, além de representar uma indispensável ajuda à saúde de um povo de 210 milhões, irão diminui o grau de indecência num país que irá enfrentar uma guerra sem dúvida dolorosa pela sobrevivência.
Alguma dúvida ?
Esse é o ne(r)oliberalismo. A queima da nação.
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