Por Juliana Gagliardi e João Feres Júnior, no site Manchetômetro:
No Jornal Nacional (JN) da última sexta-feira (24/4) os âncoras - William Bonner e Renata Vasconcellos - deram início à edição dizendo que em novembro de 2018 o presidente recém-eleito, Jair Bolsonaro, havia prometido carta branca ao homem que indicava para o Ministério da Justiça – Sergio Moro. Logo em seguida, mencionam que o presidente decidiu demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, contra a vontade de Moro. Imediatamente após justaporem os dois momentos, fazendo alusão clara à falta de coerência e quiçá honestidade de Bolsonaro, Bonner anuncia o pedido de demissão do ex-juiz afirmando que Moro apresentava “denúncias graves” contra o presidente.
Ainda no início da apresentação, Bonner disse que o JN cobrou do ex-ministro Sergio Moro provas das acusações feitas contra o presidente e que o ex-ministro as mostrou com exclusividade ao programa. Na sequência, Bonner e Vasconcelos indicam outros pontos que também foram abordados na edição: que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, determinou a análise de possíveis crimes cometidos pelo presidente a partir das denúncias de Moro e das “críticas enfáticas” que emergiram nos três Poderes e em organizações da sociedade civil em reação à demissão.
O jornal relata em tom épico o que considerou ser a gota d’água para a saída de Moro – a demissão de Valeixo sem o consentimento do ministro, embora levando a sua assinatura no decreto publicado no Diário Oficial. O âncora diz ainda, em tom de anuência, que Moro “vinha sendo esvaziado dentro do governo há meses”.
No total, o JN dedica mais de 1h6m ao tema, ao longo dos quais reproduz diversos trechos das coletivas dadas por Moro e Bolsonaro. As falas do ex-Ministro são entremeadas por comentários dos âncoras que reforçam suas posições, particularmente sua rejeição àquilo que definiu como interferência política na Polícia Federal. Ademais, destacaram também aspectos da biografia de Moro e o apoio popular que “sempre recebeu”.
Bolsonaro recebeu tratamento diverso. O JN destacou contradições e ambiguidades da fala do presidente em questões como o pedido ao ministro de investigações para apurar fatos referentes a seus filhos e a ele próprio, além de pontos por si só esdrúxulos, como a reclamação do presidente devido ao suposto fato de a Polícia Federal se preocupar mais com o caso Marielle do que com o atentado sofrido por seu “chefe supremo”, em referência à facada que tomou durante a campanha eleitoral de 2018.
O JN apresentou as provas mostradas por Moro com exclusividade – mensagens trocadas via aplicativo – muito semelhantes na forma às que foram apresentadas contra Moro pelo Intercept anteriormente e rechaçadas por ele e pelo próprio jornal. As conversas reveladas pouco provavam, mas supostamente se referiam às pressões de Bolsonaro pela troca do diretor da PF e que rebateriam uma suposta negociação da parte de Moro por sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Já em momento adiantado da matéria, são reproduzidas inúmeras notas de políticos e entidades, lamentando a saída de Moro e criticando o presidente e o golpe que ela representaria no combate à corrupção. A edição termina falando sobre o temor de que a instabilidade política mais uma vez tivesse reflexos na crise econômica, sobre movimentos pelo impeachment de Bolsonaro e sobre os panelaços contra o presidente, em todo o Brasil, no dia dos pronunciamentos.
Como se sabe, crises e denúncias graves têm sido constitutivas do governo Bolsonaro, que exibe em resposta, não raramente, comportamento equivocado, inábil para solucioná-las, quando não afrontoso à democracia. No que diz respeito à análise da mídia, contudo, é preciso ressaltar que a edição em questão do Jornal Nacional foi construída para dar suporte à narrativa construída por Sergio Moro, destacando seus pontos altos e sua suposta veracidade. Na edição, que tanto espaço dedicou às falas do ministro e do presidente, não houve problematização sobre a afirmação de Moro de que teria negociado pensão para sua família como condição para abandonar magistratura e aceitar o cargo de ministro.
Ainda no início da apresentação, Bonner disse que o JN cobrou do ex-ministro Sergio Moro provas das acusações feitas contra o presidente e que o ex-ministro as mostrou com exclusividade ao programa. Na sequência, Bonner e Vasconcelos indicam outros pontos que também foram abordados na edição: que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, determinou a análise de possíveis crimes cometidos pelo presidente a partir das denúncias de Moro e das “críticas enfáticas” que emergiram nos três Poderes e em organizações da sociedade civil em reação à demissão.
O jornal relata em tom épico o que considerou ser a gota d’água para a saída de Moro – a demissão de Valeixo sem o consentimento do ministro, embora levando a sua assinatura no decreto publicado no Diário Oficial. O âncora diz ainda, em tom de anuência, que Moro “vinha sendo esvaziado dentro do governo há meses”.
No total, o JN dedica mais de 1h6m ao tema, ao longo dos quais reproduz diversos trechos das coletivas dadas por Moro e Bolsonaro. As falas do ex-Ministro são entremeadas por comentários dos âncoras que reforçam suas posições, particularmente sua rejeição àquilo que definiu como interferência política na Polícia Federal. Ademais, destacaram também aspectos da biografia de Moro e o apoio popular que “sempre recebeu”.
Bolsonaro recebeu tratamento diverso. O JN destacou contradições e ambiguidades da fala do presidente em questões como o pedido ao ministro de investigações para apurar fatos referentes a seus filhos e a ele próprio, além de pontos por si só esdrúxulos, como a reclamação do presidente devido ao suposto fato de a Polícia Federal se preocupar mais com o caso Marielle do que com o atentado sofrido por seu “chefe supremo”, em referência à facada que tomou durante a campanha eleitoral de 2018.
O JN apresentou as provas mostradas por Moro com exclusividade – mensagens trocadas via aplicativo – muito semelhantes na forma às que foram apresentadas contra Moro pelo Intercept anteriormente e rechaçadas por ele e pelo próprio jornal. As conversas reveladas pouco provavam, mas supostamente se referiam às pressões de Bolsonaro pela troca do diretor da PF e que rebateriam uma suposta negociação da parte de Moro por sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Já em momento adiantado da matéria, são reproduzidas inúmeras notas de políticos e entidades, lamentando a saída de Moro e criticando o presidente e o golpe que ela representaria no combate à corrupção. A edição termina falando sobre o temor de que a instabilidade política mais uma vez tivesse reflexos na crise econômica, sobre movimentos pelo impeachment de Bolsonaro e sobre os panelaços contra o presidente, em todo o Brasil, no dia dos pronunciamentos.
Como se sabe, crises e denúncias graves têm sido constitutivas do governo Bolsonaro, que exibe em resposta, não raramente, comportamento equivocado, inábil para solucioná-las, quando não afrontoso à democracia. No que diz respeito à análise da mídia, contudo, é preciso ressaltar que a edição em questão do Jornal Nacional foi construída para dar suporte à narrativa construída por Sergio Moro, destacando seus pontos altos e sua suposta veracidade. Na edição, que tanto espaço dedicou às falas do ministro e do presidente, não houve problematização sobre a afirmação de Moro de que teria negociado pensão para sua família como condição para abandonar magistratura e aceitar o cargo de ministro.
Não foi dado espaço às denúncias contra Moro levantadas pela agência de notícias Intercept Brasil em 2019 sobre sua atuação enquanto juiz. Nenhum espaço, enfim, foi concedido às críticas que sua atuação sofreu, desde antes de ser indicado ministro pelo governo que se elegeu após o ex-juiz ter efetivado a prisão daquele que era, no ano eleitoral, o principal opositor de Bolsonaro na campanha. De modo geral, Moro sai como o herói, em consonância com imagem que os grandes meios para ele construíram desde a Operação Lava Jato. Em suma, o JN reporta o rompimento dando razão a um dos lados e omitindo, mais uma vez, que a aliança e a ascensão do projeto ora no poder se fez conjuntamente.
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