domingo, 26 de abril de 2020

Moro queria tornar PF um anexo da Lava-Jato

Por Gilberto Maringoni

Tudo bem, há que se combater Bolsonaro. É a questão central.

Mas que história é essa de autonomia para a Polícia Federal?

Moro não queria autonomia alguma. Seu objetivo era tornar a PF um anexo da Lava Jato. Em termos gerais, é errado qualquer órgão de Estado ter “autonomia”.

O que significa, por exemplo, “autonomia” do Banco Central? Significa que a política monetária não se subordinará ao poder democraticamente eleito, mas ao mercado financeiro. Significa entregar o BC aos banqueiros. Objetivamente, privatizá-lo.

Vale o mesmo para a “autonomia” do Ministério Público e de outros órgãos estatais.

Em uma sociedade de classes, na qual a classe dominante exerce sua hegemonia, “autonomias” desse tipo são pura hipocrisia. Cortinas de fumaça para lá de interessadas.

O poder eleito pela maioria da população tem o dever de dirigir o Estado e colocá-lo a serviço do projeto e da diretriz escolhida nas urnas.

Não fazê-lo implica grave omissão do governante democraticamente vitorioso.

A exaltação oca de que em governos anteriores havia “autonomia” significa dizer que governos anteriores se omitiram em seu dever político de dirigir o Estado de forma democrática e participativa.

Não é uma vantagem, mas um problema sério.

E há membros dessas administrações a propagar pelas mídias ser essa uma prova de tolerância e espírito público.

Trata-se da adoção da ilusão liberal do “Estado neutro”.

Buscam – ex-post facto – transformar defeito em virtude. Lorota graúda.

Tanto Moro quanto Bolsonaro queriam aparelhar – ou dirigir – a PF.

O problema é que Bolsonaro pretendia fazer isso para encobrir crimes da família.

Chega de republicanismo omisso e pusilânime. Vamos ao que interessa.

E o que interessa – como sempre atentava o grande Oliveiros Ferreira – é o poder.

Quem está no poder? Quem manda? Quem decide?

A partir daí se verificam direitos e deveres numa sociedade democrática.

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