segunda-feira, 20 de abril de 2020

O cavalo arreado está passando...

Por Antonio Barbosa Filho

"O cavalo passa arreado uma vez na vida', diz o ditado popular. É falso: o cavalo arreado, significando a oportunidade de ouro, passa várias vezes à nossa frente. Os mais alertas, saltam sobre a cela e dominam a besta, conduzindo-a. Quem hesita, vê o cavalo passar e afastar-se. Lá na frente, alguém mais esperto saberá montá-lo.

Nossas esquerdas vacilam desde antes do golpe de 2016, da farsa eleitoral de 2018, e hoje, quando a população aguarda um cavaleiro ágil que assuma as rédeas e nos conduza a um bom pasto. Mais republicana do que a Constituição e do que Maquiavel (nem falo em Lênin, que ninguém leu (ou todos se esqueceram), nossa esquerda faz cara de paisagem pela qual o cavalo arreado desfila, em lento trote, sabendo que não carregará peso algum. Talvez em ano de eleições (2020, 2022, 2050?) a esquerda anime-se a buscar um papel ativo e não pusilânime como até hoje.

Estou generalizando para provocar, é claro. Há movimentos sociais, parcelas de partidos, mídia alternativa, em pleno combate. Reconheço e elogio o heroísmo desses poucos. O que nos falta é um mínimo de unidade na denúncia desta farsa total que foram o golpe de 2016 e as "eleições' de 2018.
Temos tratado, desde 2016, os golpistas como meros adversários, e não como criminosos inimigos da democracia e do Brasil. Não me esqueço de Fernando Haddad transferindo a Prefeitura ao Dória e chamando-o de "irmão". Não é por acaso que os "heróis" do combate ao miliciano Bostonaro sejam figuras como Dória, Alexandre Frota, o nazista Witzel, Joice, et caterva.
 
Quem está aqui na base das esquerdas, fica estupefato com a visão eleitoreira de partidos como o PT que, em decisão do diretório nacional, decidiu não apoiar um impeachment já, ou uma campanha "Fora Bolsonaro". Corre atrás agora, depois de Bolsonaro transformar o quartel do Comando do Exército em um palanque onde anunciou que estamos numa ditadura "do povo", ou seja, dos milicianos armados que desafiarão até os militares, todos 'melancias". Aliás, as primeiras vítimas de um golpe militar bolsonaristas serão os militares legalistas, herdeiros dos generais Lott, Dutra, Zerbini e tantos outros. Convém lembrar que só de abril a dezembro de 1964, foram expulsos e presos mais de dois mil militares, inclusive 70 oficiais-generais das três Forças. Hoje, seriam muitos mais, começando pelos promovidos por Lula/Dilma. Os capitães Sérgio 'Macaco' seriam quantos hoje, com hombridade para recusarem-se a matar civis?

Bolsonaro só é 'presidente' porque nos omitimos no sentido revolucionário, nos acomodamos na experiência lulista que espero ver repetir-se, com alguma noção melhor sobre o que é o fascismo e sobre como joga a extrema-direita. É difícil não estar amargo, nesta fase, na qual a pandemia veio somar-se as nossas desgraças. Pessoas estão morrendo e a extrema-direta festejando, enquanto as esquerdas soltam notas oficiais que ninguém lê.

Há governadores e prefeitos cumprindo seu dever com a população. E, logicamente, ignorando o discurso genocida do miliciano. O que não se vê é a tal mobilização popular anti-Bozo, e como não há, ficamos assistindo o fascismo arregimentando pessoas incautas ou de má-fé.ora, em Política, o clima é gerado, raramente é espontâneo. A revolta popular está crescendo, e logo a direita assumirá esta energia, contra Bozo mas também contra a esquerda inerte.

Não sou nada original: em Política não existe vácuo. Se você recua um passo, o inimigo avança um passo. Espero que a Esquerda ainda assuma a liderança deste sentimento que se espraia na população, milhões aguardando uma direção.Se fosse fácil, já estaria feito, é claro. Mas é melhor morrer tentando, agindo, mobilizando, informando, do que apenas assistindo ao desastre. A Alemanha de Hitler já nos ensinou o bastante.

É hora de unidade e alvo único. aliás, duplo: o vírus corona e o verme fascista, armado,Jair Bostonaro e seu gado. que não se repita outro ditado muito comum na outra ditadura: "a esquerda só se une na cadeia".

* Antonio Barbosa Filho é jornalista e escritor, coordenador do Centro Barão de Itararé de Mídia Alternativa no Vale do Paraíba.

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