Por Silvio Caccia Bava, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:
Não se atreva a discordar ou fazer críticas ao presidente. Você entra na mira das milícias digitais do capitão. Nem mesmo ministros do seu próprio governo escapam dessa perseguição destruidora de reputações. São ataques anônimos que veiculam mentiras, falseiam a realidade e seguem um método: primeiro sua credibilidade é atacada, depois eles te intimidam; com sua reputação minada, os ataques virtuais se transformam em ameaças físicas e aos seus familiares.
Para atacar seus desafetos, o presidente e seus filhos montaram dentro do Palácio do Planalto uma espécie de Agência Brasileira de Inteligência paralela, que elabora dossiês contra adversários e opositores [1]. Essas informações vão para o Gabinete do Ódio, instalado no terceiro andar do Planalto. É aí que são produzidas as fake news e as campanhas do ódio, segundo a relatora da CPI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
Numa concepção de que estão em guerra na defesa de uma pauta de costumes e do próprio governo, e de que na guerra vale tudo, o importante é destruir os inimigos políticos, mesmo que para isso se utilizem de mentiras e ataques ultrajantes.
Segundo a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), o Gabinete do Ódio é coordenado pelos filhos Carlos e Eduardo, e conta com a participação do assessor especial da Presidência, Felipe Martins, e de três assessores de Carlos: Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. Conta também com a colaboração de Olavo de Carvalho.
Para atacar seus desafetos, o presidente e seus filhos montaram dentro do Palácio do Planalto uma espécie de Agência Brasileira de Inteligência paralela, que elabora dossiês contra adversários e opositores [1]. Essas informações vão para o Gabinete do Ódio, instalado no terceiro andar do Planalto. É aí que são produzidas as fake news e as campanhas do ódio, segundo a relatora da CPI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
Numa concepção de que estão em guerra na defesa de uma pauta de costumes e do próprio governo, e de que na guerra vale tudo, o importante é destruir os inimigos políticos, mesmo que para isso se utilizem de mentiras e ataques ultrajantes.
Segundo a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), o Gabinete do Ódio é coordenado pelos filhos Carlos e Eduardo, e conta com a participação do assessor especial da Presidência, Felipe Martins, e de três assessores de Carlos: Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. Conta também com a colaboração de Olavo de Carvalho.
As informações digitais se converteram em armas e são usadas sem nenhuma ética por essa extrema direita. Pessoas são bombardeadas com desinformação sobre os “inimigos do poder”. São conteúdos racistas, sexistas, calúnias e falsas acusações. E para disseminá-los usam contas falsas e robôs [2].
Desinformação é o conteúdo destinado a confundir. Cibermilícias são parte de campanhas mais inclusivas, envolvendo novos websites que parecem independentes, mas que se abastecem das mesmas fontes, todos impulsionando a mesma agenda. Um exército de trolls, cyborgs e bots, que se fazem passar por pessoas e replicam as mesmas mensagens [3].
Ainda segundo a denúncia da deputada Joice Hasselmann, Jair Bolsonaro conta com 1,4 milhão de robôs que impulsionam seu Twitter, e Eduardo, com 468 mil [4].
Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo analisando os apoiadores de Jair Bolsonaro no Twitter no dia 15 de março, que o homenageavam com a expressão #BolsonaroDay, identificou que, das 66 mil menções favoráveis ao presidente, 55% eram produzidas por robôs programados para viralizar suas mensagens. Foram identificadas 1.700 contas que reproduziram a mensagem #BolsonaroDay e foram desativadas horas depois da mensagem emitida. As contas foram utilizadas por robôs, bots, que emitiram 22 mil mensagens a favor de Bolsonaro [5].
O Gabinete do Ódio, essa estrutura de manipulação da opinião pública, não foi montado depois da eleição. Ele foi trazido para dentro do Planalto, mas sua atuação vem de antes, e foi determinante para a própria eleição do capitão.
Há indícios de que a Cambridge Analytica, empresa especializada em manipular a opinião pública com base nos dados pessoais dos usuários do Facebook, teve atuação na campanha de Bolsonaro. Segundo Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica, a empresa chegou a negociar com um candidato à Presidência nas eleições de 2018.
Segundo o ex-presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, as táticas de microssegmentação de anúncios podem garantir o sucesso de uma campanha política se usadas desde o início. Se o trabalho de convencimento começar dois anos antes, a vitória é praticamente garantida. Com um período de um ano a nove meses, as chances de vitória são muito boas. Mas os efeitos já se podem sentir com seis meses de trabalho, e você pode vencer o pleito.
Steve Bannon, o mentor da Cambridge Analytica, tem uma relação próxima com a família Bolsonaro. É possível que ele tenha orientado a campanha presidencial e continue apoiando a ação do Gabinete do Ódio pela via da microssegmentação das fake news.
A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as Fake News no Congresso já teve resultados curiosos. Segundo Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, com a instalação do inquérito, os ataques a ministros reduziram 80% [6]. Mais uma evidência da centralização das iniciativas.
Notas
1- “Bebianno acusa Carlos Bolsonaro de montar Abin paralela para espionar opositores”, Blog do Ricardo Antunes, 3 mar. 2020. Reproduz declaração feita por Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência do governo Bolsonaro, no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.
2- Peter Pomerantsev, “This is not propaganda – Adventures in the War Against Reality” [Isto não é propaganda – Aventuras da guerra contra a realidade], Faber & Faber, Londres, 2019.
3- Ibidem.
4- “O que é o ‘gabinete do ódio’ que virou alvo da CPMI das Fake News”, Gazeta do Povo, 23 abr. 2020.
5- Conversa Afiada, 3 abr. 2020.
6- “Ministro do STF cobra explicações de Bolsonaro”, Valor, 23 mar. 2020.
Desinformação é o conteúdo destinado a confundir. Cibermilícias são parte de campanhas mais inclusivas, envolvendo novos websites que parecem independentes, mas que se abastecem das mesmas fontes, todos impulsionando a mesma agenda. Um exército de trolls, cyborgs e bots, que se fazem passar por pessoas e replicam as mesmas mensagens [3].
Ainda segundo a denúncia da deputada Joice Hasselmann, Jair Bolsonaro conta com 1,4 milhão de robôs que impulsionam seu Twitter, e Eduardo, com 468 mil [4].
Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo analisando os apoiadores de Jair Bolsonaro no Twitter no dia 15 de março, que o homenageavam com a expressão #BolsonaroDay, identificou que, das 66 mil menções favoráveis ao presidente, 55% eram produzidas por robôs programados para viralizar suas mensagens. Foram identificadas 1.700 contas que reproduziram a mensagem #BolsonaroDay e foram desativadas horas depois da mensagem emitida. As contas foram utilizadas por robôs, bots, que emitiram 22 mil mensagens a favor de Bolsonaro [5].
O Gabinete do Ódio, essa estrutura de manipulação da opinião pública, não foi montado depois da eleição. Ele foi trazido para dentro do Planalto, mas sua atuação vem de antes, e foi determinante para a própria eleição do capitão.
Há indícios de que a Cambridge Analytica, empresa especializada em manipular a opinião pública com base nos dados pessoais dos usuários do Facebook, teve atuação na campanha de Bolsonaro. Segundo Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica, a empresa chegou a negociar com um candidato à Presidência nas eleições de 2018.
Segundo o ex-presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, as táticas de microssegmentação de anúncios podem garantir o sucesso de uma campanha política se usadas desde o início. Se o trabalho de convencimento começar dois anos antes, a vitória é praticamente garantida. Com um período de um ano a nove meses, as chances de vitória são muito boas. Mas os efeitos já se podem sentir com seis meses de trabalho, e você pode vencer o pleito.
Steve Bannon, o mentor da Cambridge Analytica, tem uma relação próxima com a família Bolsonaro. É possível que ele tenha orientado a campanha presidencial e continue apoiando a ação do Gabinete do Ódio pela via da microssegmentação das fake news.
A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as Fake News no Congresso já teve resultados curiosos. Segundo Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, com a instalação do inquérito, os ataques a ministros reduziram 80% [6]. Mais uma evidência da centralização das iniciativas.
Notas
1- “Bebianno acusa Carlos Bolsonaro de montar Abin paralela para espionar opositores”, Blog do Ricardo Antunes, 3 mar. 2020. Reproduz declaração feita por Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência do governo Bolsonaro, no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.
2- Peter Pomerantsev, “This is not propaganda – Adventures in the War Against Reality” [Isto não é propaganda – Aventuras da guerra contra a realidade], Faber & Faber, Londres, 2019.
3- Ibidem.
4- “O que é o ‘gabinete do ódio’ que virou alvo da CPMI das Fake News”, Gazeta do Povo, 23 abr. 2020.
5- Conversa Afiada, 3 abr. 2020.
6- “Ministro do STF cobra explicações de Bolsonaro”, Valor, 23 mar. 2020.
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