terça-feira, 12 de maio de 2020

Bolsonaro envergonha o Exército

Por Cid Benjamin

Sou filho de militar.

Em determinado período da vida, quis inclusive seguir a carreira de meu pai.

Oriundo de uma família de classe média baixa e órfão de mãe muito cedo, ele encontrou no Exército uma espécie de segunda família.

Assim, foi um forte abalo quando, na década de 1970, teve dois filhos torturados em unidades militares.

Meu pai ficou aliviado quando, 20 dias depois da minha prisão, foi oficializado que eu estava no quartel da Polícia do Exército da Rua Barão de Mesquita, onde funcionava o DOI-Codi..

"Conheço o Exército e sei que ele não tortura seus prisioneiros", dizia o então coronel Ney Benjamin.

A decepção se repetiu quando, um ano e meio depois, meu irmão César também foi torturado em unidades militares.

Vendo o papel a que se presta hoje o Exército, às vezes penso que talvez seja melhor que meu pai não esteja mais vivo.

No entanto, apesar de tudo não estigmatizo o Exército.

Um país soberano tem que ter forças armadas prestigiadas e aptas a cumprir suas funções constitucionais.

Não interessa ao país vê-las achincalhadas.

Mas é preciso que o Exército se dê ao respeito.

Isso não está ocorrendo.

A quantidade de militares em "boquinhas" no governo Bolsonaro, respaldando um cidadão que foi um péssimo militar e saiu do Exército escorraçado, pela porta dos fundos, compromete seriamente a imagem da corporação.

E não estou falando de oficiais inferiores, de tenentes ou capitães, mas de uma penca de generais quatro estrelas - o mais alto posto na carreira - agachando-se diante de um miliciano idiota e aceitando ouvir desaforos de seus filhos energúmenos e de um astrólogo bobalhão que é guru dessa gente e mora nos Estados Unidos.

Não se trata que eu espere posições de esquerda, ou mesmo progressistas, dos generais brasileiros. Não se trata tampouco de ser de direita ou de esquerda. Mas até quando a cúpula do Exército vai aceitar estar a serviço de um projeto criminoso e antinacional, encabeçado por um miliciano?

2 comentários:

  1. "Mas até quando a cúpula do Exército vai aceitar estar a serviço de um projeto criminoso e antinacional, encabeçado por um miliciano?"
    Prezado, será que ainda não entendeu?
    São parceiros. Uma sociedade voluntária.

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