Pastor Ariovaldo Ramos |
Apesar de ainda possuir uma base de apoio importante entre os evangélicos, o governo Bolsonaro vem perdendo cada vez mais sustentação neste segmento. Aos poucos, num movimento considerado ainda tímido e incipiente, algumas lideranças que apoiavam o governo com fervor até alguns meses atrás estão saindo desse barco que, como disse o próprio presidente, parece fazer água.
Um dos sinais é o surgimento de coletivos e organizações evangélicas na defesa da democracia e na denúncia contra o que se cunhou chamar de ‘cristofascismo’. Na última semana, um grupo de 37 destas organizações publicou um documento no qual condena a “forma antiética com que o presidente da República tem se comportado” diante da grave crise sanitária e política que o país atravessa.
A carta intitulada “Um clamor de fé pelo Brasil – O governante sem discernimento aumenta as opressões (Provérbio 28.16)”, pede ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação da chapa de Bolsonaro e Mourão, marcada pela disseminação de mentiras durante o pleito de 2018. “Esse governo é antivida, anti-Cristo e antievangelho. Ele tem dado mostras disso o tempo todo. É preciso resistir essa proposta que quer botar arma na mão do povo. Que acha que a minoria deve se dobrar a maioria e por aí vai”, explica o pastor da Comunidade Cristã da Zona Leste, Daniel Santos, que apoiou a ação.
Em pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico, no final de março, os evangélicos ainda surgiam como o segmento religioso que mais endossava o presidente diante da crise sanitária. 37% apoiavam Bolsonaro enquanto 35% o reprovavam; outros 28% não souberam avaliar. Desde então, a crise se aprofundou e a falta de habilidade e decência do presidente se tornou mais explícita.
Outro signatário da carta, o pastor, escritor e teólogo Ariovaldo Ramos, da coordenação nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, considera que “ainda não há grandes mudanças” neste cenário. E vê que muitos evangélicos que apoiaram o atual presidente, mas hoje criticam seu governo, estão mais envergonhados do que arrependidos. “Não acho que os que estão se afastando do Bolsonaro estejam se afastando das expectativas da direita. Ou da temática da direita, principalmente a temática moral. Eles não estão fazendo mea culpa, nem condenam a estupidez do projeto (do atual governo). Eles estão sem saber o que fazer com o Bolsonaro. O problema, de fato, é a figura do presidente, que é insustentável.”
Um dos sinais é o surgimento de coletivos e organizações evangélicas na defesa da democracia e na denúncia contra o que se cunhou chamar de ‘cristofascismo’. Na última semana, um grupo de 37 destas organizações publicou um documento no qual condena a “forma antiética com que o presidente da República tem se comportado” diante da grave crise sanitária e política que o país atravessa.
A carta intitulada “Um clamor de fé pelo Brasil – O governante sem discernimento aumenta as opressões (Provérbio 28.16)”, pede ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação da chapa de Bolsonaro e Mourão, marcada pela disseminação de mentiras durante o pleito de 2018. “Esse governo é antivida, anti-Cristo e antievangelho. Ele tem dado mostras disso o tempo todo. É preciso resistir essa proposta que quer botar arma na mão do povo. Que acha que a minoria deve se dobrar a maioria e por aí vai”, explica o pastor da Comunidade Cristã da Zona Leste, Daniel Santos, que apoiou a ação.
Em pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico, no final de março, os evangélicos ainda surgiam como o segmento religioso que mais endossava o presidente diante da crise sanitária. 37% apoiavam Bolsonaro enquanto 35% o reprovavam; outros 28% não souberam avaliar. Desde então, a crise se aprofundou e a falta de habilidade e decência do presidente se tornou mais explícita.
Outro signatário da carta, o pastor, escritor e teólogo Ariovaldo Ramos, da coordenação nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, considera que “ainda não há grandes mudanças” neste cenário. E vê que muitos evangélicos que apoiaram o atual presidente, mas hoje criticam seu governo, estão mais envergonhados do que arrependidos. “Não acho que os que estão se afastando do Bolsonaro estejam se afastando das expectativas da direita. Ou da temática da direita, principalmente a temática moral. Eles não estão fazendo mea culpa, nem condenam a estupidez do projeto (do atual governo). Eles estão sem saber o que fazer com o Bolsonaro. O problema, de fato, é a figura do presidente, que é insustentável.”
Arrependidos?
Procurados pela reportagem, lideranças evangélicas, missionários e membros de igrejas que apoiaram o governo e sua eleição, mas hoje já não mais o aprovam, preferiram não se manifestar publicamente. Em comum, o receio de prováveis retaliações de bolsonaristas, que não poupam nem mesmo figuras públicas que contribuíram para a eleição do presidente.
Um exemplo é o youtuber conservador Yago Martins, que vem se aproximando do Movimento Brasil Livre (MBL) e que tenta descolar seu massivo apoio à barbárie instaurada no país nas eleições de 2018. Desde que passou a dar entrevistas questionando as ações do presidente, passou a ser alvo da ira dos mais radicais.
“Votei no Bolsonaro porque ele se dizia pró vida. Acima de qualquer coisa, eu acreditava no discurso de Bolsonaro de que ele iria se colocar contra o aborto. De que se fosse uma prática votada pelo STF, ele vetaria” disse, num dos seus vídeos. “Não o vejo mais um candidato pró vida. Vejo um candidato que, por mais que no discurso tem uma pauta ainda contra o aborto, temos um pró aborto. Ao invés dele defender vida, ser contra a morte de pessoas inocentes, agora temos um Bolsonaro que não se importa em zombar das coisas mais necessárias para a nossa sobrevivência no momento, por causa de um discurso olavista, anticiência, antimídia e antitudo. Eu me sinto envergonhado de ter acreditado no discurso pró vida do Bolsonaro”, completou.
Moralidade sexual
“Os evangélicos são pautados por uma moralidade de cunho sexual. Na cabeça do evangélico médio, tanto pobre quanto rico, ele não precisa de política pública pra nada. Não precisa de presidente para gerar emprego, para ter mais saúde ou educação. No máximo, para ter mais segurança, para colocar polícia nas ruas”, explica o professor e pastor na Igreja Batista Novo Horizonte, Paulo Saraiva, referindo-se a um pensamento que parece ter capturado boa parte das igrejas cristãs evangélicas, tanto históricas quanto as midiáticas neopentecostais. Uma ideia que eclodiu nas eleições de 2010, quando o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Paschoal Piragine Junior, usou o púlpito de sua igreja para divulgar um vídeo onde alegava lutar contra a “institucionalização da iniquidade”, associando o Partido dos Trabalhadores a diversos temas morais e ao aborto. “A partir daquele vídeo houve uma ruptura dos evangélicos com a esquerda. Não uma ruptura, uma guerra.”
Para Saraiva, o evangélico, em geral, ainda olha para a esquerda como essa ameaça à moralidade sexual, mesmo tendo um presidente como Bolsonaro no país. “Na cabeça desse evangélico, quando se fala PT, esquerda, socialismo, comunismo, a primeira imagem que vem à mente dele é aquela mulher que defecou num crucifixo na rua, urinou em cima de uma imagem quebrada de Nossa Senhora, ou a trans que apareceu num carro alegórico, durante a Parada Gay, simulando uma crucificação. Isso é esquerda para o evangélico.”
Ainda que seja um caminho longo pela frente, para Ariovaldo Ramos, qualquer movimento dos evangélicos em repúdio ao governo Bolsonaro, ou mesmo uma reflexão diante das teologias fundamentalistas e moralistas, deve ser celebrado. “Eu aprendi com a vida que qualquer movimento em direção ao perdão já é válido. Melhor isso do que esse cara continuar trancado em sua recalcitrância, sua teimosia”.
Leia a íntegra do documento “Um clamor de fé pelo Brasil – O governante sem discernimento aumenta as opressões” (Provérbio 28.16)” aqui.
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