Por Marcelo Zero
As medidas de isolamento social preconizadas pela ciência e pela Organização Mundial da Saúde no combate ao Covid-19 funcionam.
Sem uma vacina, é a única coisa que funciona.
Todos os países que as adotaram, ainda que de forma tardia e atabalhoada, conseguiram, após algumas semanas, reduzir o número de novos casos e de mortes.
A Espanha, que chegou a ter cerca de 10 mil casos diários no início de abril, agora tem cerca de 600.
A Itália, que hesitou em fazer o isolamento horizontal, chegou a ter mais de 6 mil casos diários, mas após semanas de lockdown tardio, tem menos de 600.
O estado de Nova Iorque, em meio ao terraplanismo sanitário de Trump e à ausência de um sistema de saúde público, teve, apenas na sua grande cidade de homônima, cerca de 8.000 casos diários de Covid-19, o que a transformou na capital mundial da pandemia.
Hoje, o número de novos casos diários está em torno de mil e caindo.
A China, onde tudo começou, zerou o número de casos endógenos em pouco mais de dois meses.
Diga-se de passagem, os países socialistas estão dando um banho de competência na maioria dos países capitalistas, quando se trata do combate ao Covid-19.
Além da China, Vietnã e Cuba estão dando exemplo ao mundo.
O Vietnã, país de quase 100 milhões de habitantes e 1400 km de fronteiras com a China, tem apenas um caso para 300 mil habitantes e nenhuma morte.
A China, o país mais afetado no início da pandemia, teve um caso para cada grupo 15 mil habitantes e uma morte em 300 mil pessoas. Cuba, ilha pequena e pobre, ainda submetida a bloqueios econômicos, tem uma morte em 143 mil habitantes.
Já os EUA, país capitalista mais afluente, tem, até agora, uma morte para cada grupo de 3.720 habitantes.
A rica Suíça, terra do liberalismo financeiro, tem uma morte para cada 5.316 habitantes. Outros países afluentes da Europa também têm números semelhantes.
Parece que o Covid-19, ao contrário do que diz o nosso folclórico chanceler, não é um “comunavírus”, mas um “capitavírus”, pois se propaga muito mais em meio à desigualdade e incúria social típicas do capitalismo.
Em todo caso, tanto em países socialistas quanto capitalistas, o isolamento social é a melhor forma para conter o avanço da pandemia, prevenir o colapso dos sistemas de saúde, salvar vidas e reduzir danos econômicos.
Uma olhada rápida nos dados da OMS comprova tal assertiva.
Há, contudo, gente que discorda.
Gênios científicos, como Trump e Bolsonaro, formados no Instituto Médico Facebook, com doutorado em Fake News na Universidade de WhatsApp, teriam preferido o avanço incontido da “gripezinha”, em meio a torrentes de hidroxicloroquina.
Afinal, em sua perspectiva humanista, pouco importa se centenas de milhares ou milhões de pessoas morram, desde que a economia funcione sem percalços e gastos excessivos. O negócio é deixar a “seleção natural” seguir seu curso, até que a imunidade de rebanho seja atingida. Os mais ricos e os mais fortes sobreviverão.
Felizmente, boa parte dos governadores dos estados brasileiros vem seguindo as recomendações dos verdadeiros cientistas.
Apoiados pelo Congresso, pelo STF e pela oposição, eles têm evitado o pior.
Com efeito, embora os dados absolutos assustem muito, e com razão, os dados relativos ao crescimento percentual de novos casos de COVID por semana epidemiológica parecem finalmente começar a apontar para uma possível redução do crescimento percentual médio no país.
Os primeiros casos foram registrados na 10ª semana epidemiológica (17 ao todo).
Nas primeiras duas semanas do gráfico, semanas epidemiológicas 11 e 12, há um crescimento exponencial.
Entre a terceira semana e a sétima semana há, porém, uma redução sustentada no crescimento percentual, em relação à semana anterior, o qual passa de 176% para 39%.
Entretanto, há um repique na oitava semana, quando os percentuais voltam a se elevar.
Contudo, na vigésima semana, o crescimento cai para 30% (77.230 casos contra 59.380 da semana anterior), o mais baixo da série.
Se essa última tendência de queda no crescimento percentual das duas últimas semanas se confirmar, é possível imaginar que haja, posteriormente, uma estabilização do crescimento, seguida de redução do número de casos semanais
Ademais, deve-se levar em consideração que o R se reduziu de cerca de 3 para ao redor de 1,4, neste último período. Se ficar abaixo de 1, a epidemia perderá força.
Isso mostra que, apesar do isolamento social ser apenas parcial, das desigualdades sociais e sanitárias e do fator desastroso chamado Bolsonaro, as medidas tomadas pelos governadores funcionam, ainda que longe do patamar ideal.
Não fosse por elas, estaríamos em situação muito pior.
Deixando-se a epidemia seguir seu “curso natural”, até que 70% da população seja contaminada (140 milhões de pessoas), atingindo-se, assim, a imunidade de rebanho, como parece querer Bolsonaro e sua equipe de cientistas terraplanistas, se provocaria a morte de cerca de 500 mil pessoas em poucos meses.
Até agora, tivemos 15 mil, o que já é um absurdo.
Não obstante, é muito cedo para se definir uma tendência.
Ainda estamos numa zona cinzenta de indefinição, quando o processo tanto pode amainar gradualmente quanto se agravar rapidamente.
As próximas semanas, quando as doenças respiratórias tiverem seu auge no Brasil, serão decisivas.
Caso as medidas de isolamento social e outras sejam não apenas mantidas, mas fortalecidas, o Brasil poderá passar pela pandemia sem aumentar ainda mais a perda desnecessária e excessiva de vidas.
Até agora, em termos percentuais, estamos em situação melhor que a de vários países, embora a situação venha se deteriorando.
No entanto, Bolsonaro, que vai nomear um capacho político para o MS, poderá acabar com toda esperança. Um relaxamento, agora, das medidas de isolamento seguramente provocará uma grande catástrofe. Não apenas para o Brasil, mas para a região, que já enxerga o nosso país como um gigante enfermo e ameaçador.
Em termos realistas, as medidas de isolamento extensas teriam de ser mantidas pelo menos até final do inverno, até que a tendência do quadro epidemiológico se mostre mais clara.
Bolsonaro, sem dúvida, é um grande obstáculo para que o Brasil consiga superar a epidemia. Mas não é apenas o terraplanismo sanitário de Bolsonaro e seguidores que se constitui em obstáculo à superação da epidemia e da crise por ela gerada.
Há outro. Mais elusivo, porém mais decisivo.
Trata-se da ultraortodoxia anacrônica de Paulo Guedes.
Um país como Brasil, extremamente desigual e com um grande número pessoas desempregadas ou inseridas precária e informalmente no mercado de trabalho, exigiria medidas econômicas muitas mais robustas para manter o isolamento horizontal o tempo necessário e na extensão necessária.
O pouco que o Brasil até agora fez para apoiar os vulneráveis, muito mais por iniciativa da oposição, sempre encontrou a resistência de Guedes, que está mais preocupado em conter déficits do que em conter a morte.
Bolsonaro sabe disso e faz o discurso hipócrita e oportunista da defesa do emprego e renda dos trabalhadores para se contrapor ao isolamento horizontal.
Opõe o medo ao desemprego, à miséria e à fome ao medo à morte. É como se dissesse: vocês têm de escolher entre morrer da doença ou morrer de fome.
Nesse sentido, a ultraortodoxia anacrônica de Guedes retroalimenta o terraplanismo sanitário de Bolsonaro.
Muitos falam, com razão, da evidente sociopatia de Bolsonaro.
Mas poucos percebem que a sociopatia maior e mais danosa está nas políticas ortodoxas de austericídio, que provocam inevitavelmente o aumento brutal das desigualdades, do desemprego, da miséria, da precariedade laboral, da fome, do abandono e das insuficiências dos serviços públicos, inclusive os de saúde.
Essas políticas levaram 12 milhões ao desemprego. E daí?
Essas políticas colocaram de novo o Brasil no Mapa da Fome. E daí?
Essas políticas colocaram 28 milhões de brasileiros em situação de precariedade e informalidade. E daí?
A reforma trabalhista permitiu que os brasileiros trabalhem sem direitos básicos. E daí?
A reforma da previdência impedirá que milhões de brasileiros possam se aposentar com dignidade. E daí?
A emenda do teto de gastos vem sucateando os serviços públicos, inclusive os de saúde. E daí?
Sem a eliminação dessas políticas sociopáticas e dessa mentalidade anacrônica, o Brasil não apenas não poderá combater a contento a epidemia, como também não conseguirá superar a crise econômica por ela agravada, mas que já havia se configurado bem antes.
Enquanto isso, Guedes está mais preocupado em vender logo a “p@rra do Banco do Brasil”.
E daí?
As medidas de isolamento social preconizadas pela ciência e pela Organização Mundial da Saúde no combate ao Covid-19 funcionam.
Sem uma vacina, é a única coisa que funciona.
Todos os países que as adotaram, ainda que de forma tardia e atabalhoada, conseguiram, após algumas semanas, reduzir o número de novos casos e de mortes.
A Espanha, que chegou a ter cerca de 10 mil casos diários no início de abril, agora tem cerca de 600.
A Itália, que hesitou em fazer o isolamento horizontal, chegou a ter mais de 6 mil casos diários, mas após semanas de lockdown tardio, tem menos de 600.
O estado de Nova Iorque, em meio ao terraplanismo sanitário de Trump e à ausência de um sistema de saúde público, teve, apenas na sua grande cidade de homônima, cerca de 8.000 casos diários de Covid-19, o que a transformou na capital mundial da pandemia.
Hoje, o número de novos casos diários está em torno de mil e caindo.
A China, onde tudo começou, zerou o número de casos endógenos em pouco mais de dois meses.
Diga-se de passagem, os países socialistas estão dando um banho de competência na maioria dos países capitalistas, quando se trata do combate ao Covid-19.
Além da China, Vietnã e Cuba estão dando exemplo ao mundo.
O Vietnã, país de quase 100 milhões de habitantes e 1400 km de fronteiras com a China, tem apenas um caso para 300 mil habitantes e nenhuma morte.
A China, o país mais afetado no início da pandemia, teve um caso para cada grupo 15 mil habitantes e uma morte em 300 mil pessoas. Cuba, ilha pequena e pobre, ainda submetida a bloqueios econômicos, tem uma morte em 143 mil habitantes.
Já os EUA, país capitalista mais afluente, tem, até agora, uma morte para cada grupo de 3.720 habitantes.
A rica Suíça, terra do liberalismo financeiro, tem uma morte para cada 5.316 habitantes. Outros países afluentes da Europa também têm números semelhantes.
Parece que o Covid-19, ao contrário do que diz o nosso folclórico chanceler, não é um “comunavírus”, mas um “capitavírus”, pois se propaga muito mais em meio à desigualdade e incúria social típicas do capitalismo.
Em todo caso, tanto em países socialistas quanto capitalistas, o isolamento social é a melhor forma para conter o avanço da pandemia, prevenir o colapso dos sistemas de saúde, salvar vidas e reduzir danos econômicos.
Uma olhada rápida nos dados da OMS comprova tal assertiva.
Há, contudo, gente que discorda.
Gênios científicos, como Trump e Bolsonaro, formados no Instituto Médico Facebook, com doutorado em Fake News na Universidade de WhatsApp, teriam preferido o avanço incontido da “gripezinha”, em meio a torrentes de hidroxicloroquina.
Afinal, em sua perspectiva humanista, pouco importa se centenas de milhares ou milhões de pessoas morram, desde que a economia funcione sem percalços e gastos excessivos. O negócio é deixar a “seleção natural” seguir seu curso, até que a imunidade de rebanho seja atingida. Os mais ricos e os mais fortes sobreviverão.
Felizmente, boa parte dos governadores dos estados brasileiros vem seguindo as recomendações dos verdadeiros cientistas.
Apoiados pelo Congresso, pelo STF e pela oposição, eles têm evitado o pior.
Com efeito, embora os dados absolutos assustem muito, e com razão, os dados relativos ao crescimento percentual de novos casos de COVID por semana epidemiológica parecem finalmente começar a apontar para uma possível redução do crescimento percentual médio no país.
Os primeiros casos foram registrados na 10ª semana epidemiológica (17 ao todo).
Nas primeiras duas semanas do gráfico, semanas epidemiológicas 11 e 12, há um crescimento exponencial.
Entre a terceira semana e a sétima semana há, porém, uma redução sustentada no crescimento percentual, em relação à semana anterior, o qual passa de 176% para 39%.
Entretanto, há um repique na oitava semana, quando os percentuais voltam a se elevar.
Contudo, na vigésima semana, o crescimento cai para 30% (77.230 casos contra 59.380 da semana anterior), o mais baixo da série.
Se essa última tendência de queda no crescimento percentual das duas últimas semanas se confirmar, é possível imaginar que haja, posteriormente, uma estabilização do crescimento, seguida de redução do número de casos semanais
Ademais, deve-se levar em consideração que o R se reduziu de cerca de 3 para ao redor de 1,4, neste último período. Se ficar abaixo de 1, a epidemia perderá força.
Isso mostra que, apesar do isolamento social ser apenas parcial, das desigualdades sociais e sanitárias e do fator desastroso chamado Bolsonaro, as medidas tomadas pelos governadores funcionam, ainda que longe do patamar ideal.
Não fosse por elas, estaríamos em situação muito pior.
Deixando-se a epidemia seguir seu “curso natural”, até que 70% da população seja contaminada (140 milhões de pessoas), atingindo-se, assim, a imunidade de rebanho, como parece querer Bolsonaro e sua equipe de cientistas terraplanistas, se provocaria a morte de cerca de 500 mil pessoas em poucos meses.
Até agora, tivemos 15 mil, o que já é um absurdo.
Não obstante, é muito cedo para se definir uma tendência.
Ainda estamos numa zona cinzenta de indefinição, quando o processo tanto pode amainar gradualmente quanto se agravar rapidamente.
As próximas semanas, quando as doenças respiratórias tiverem seu auge no Brasil, serão decisivas.
Caso as medidas de isolamento social e outras sejam não apenas mantidas, mas fortalecidas, o Brasil poderá passar pela pandemia sem aumentar ainda mais a perda desnecessária e excessiva de vidas.
Até agora, em termos percentuais, estamos em situação melhor que a de vários países, embora a situação venha se deteriorando.
No entanto, Bolsonaro, que vai nomear um capacho político para o MS, poderá acabar com toda esperança. Um relaxamento, agora, das medidas de isolamento seguramente provocará uma grande catástrofe. Não apenas para o Brasil, mas para a região, que já enxerga o nosso país como um gigante enfermo e ameaçador.
Em termos realistas, as medidas de isolamento extensas teriam de ser mantidas pelo menos até final do inverno, até que a tendência do quadro epidemiológico se mostre mais clara.
Bolsonaro, sem dúvida, é um grande obstáculo para que o Brasil consiga superar a epidemia. Mas não é apenas o terraplanismo sanitário de Bolsonaro e seguidores que se constitui em obstáculo à superação da epidemia e da crise por ela gerada.
Há outro. Mais elusivo, porém mais decisivo.
Trata-se da ultraortodoxia anacrônica de Paulo Guedes.
Um país como Brasil, extremamente desigual e com um grande número pessoas desempregadas ou inseridas precária e informalmente no mercado de trabalho, exigiria medidas econômicas muitas mais robustas para manter o isolamento horizontal o tempo necessário e na extensão necessária.
O pouco que o Brasil até agora fez para apoiar os vulneráveis, muito mais por iniciativa da oposição, sempre encontrou a resistência de Guedes, que está mais preocupado em conter déficits do que em conter a morte.
Bolsonaro sabe disso e faz o discurso hipócrita e oportunista da defesa do emprego e renda dos trabalhadores para se contrapor ao isolamento horizontal.
Opõe o medo ao desemprego, à miséria e à fome ao medo à morte. É como se dissesse: vocês têm de escolher entre morrer da doença ou morrer de fome.
Nesse sentido, a ultraortodoxia anacrônica de Guedes retroalimenta o terraplanismo sanitário de Bolsonaro.
Muitos falam, com razão, da evidente sociopatia de Bolsonaro.
Mas poucos percebem que a sociopatia maior e mais danosa está nas políticas ortodoxas de austericídio, que provocam inevitavelmente o aumento brutal das desigualdades, do desemprego, da miséria, da precariedade laboral, da fome, do abandono e das insuficiências dos serviços públicos, inclusive os de saúde.
Essas políticas levaram 12 milhões ao desemprego. E daí?
Essas políticas colocaram de novo o Brasil no Mapa da Fome. E daí?
Essas políticas colocaram 28 milhões de brasileiros em situação de precariedade e informalidade. E daí?
A reforma trabalhista permitiu que os brasileiros trabalhem sem direitos básicos. E daí?
A reforma da previdência impedirá que milhões de brasileiros possam se aposentar com dignidade. E daí?
A emenda do teto de gastos vem sucateando os serviços públicos, inclusive os de saúde. E daí?
Sem a eliminação dessas políticas sociopáticas e dessa mentalidade anacrônica, o Brasil não apenas não poderá combater a contento a epidemia, como também não conseguirá superar a crise econômica por ela agravada, mas que já havia se configurado bem antes.
Enquanto isso, Guedes está mais preocupado em vender logo a “p@rra do Banco do Brasil”.
E daí?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: