Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:
Há quem deseje, e até espere, que Bolsonaro aprenda alguma coisa com a contaminação por coronavírus.
Quimera.
Desde que se descobriu infectado, Bolsonaro vem atuando para tirar proveito da doença, assim como faturou eleitoralmente com a facada – virou vítima, ausentou-se da campanha e dos debates, e ao mesmo tempo jogava pesado com as fake news nas redes sociais. Agora, aduba o bolsonarismo raiz com a publicidade da cloroquina e o estilo “mato no peito”, e busca agregar mais apoio dos mais pobres, com o qual vem compensando as perdas nos estratos sociais de maior renda e instrução.
Se ele atravessar o período da doença tendo apenas sintomas leves, pode até mesmo ganhar uns pontinhos para sua aprovação, hoje reduzida a 32% de ótimo e bom, segundo a última pesquisa Datafolha.
Alguns vão se comover, os evangélicos vão orar por ele, e outros vão recobrar a paixão irracional pelo presidente valentão, que enfrenta a doença “como homem”, como ele mesmo recomendou em certo momento.
Joga para seu público quando anuncia estar tomando hidroxicloroquina, apesar da desaprovação científica. Tendo apenas sintomas leves, vai dizer que foi o medicamento. Ou seja, ele sempre esteve certo quanto ao medicamento que politizou.
Mas este é um jogo arriscado.
Com 65 anos de idade, uma facada e alguma cirurgias, sem repousar para ajudar o sistema imunológico, pois segue trabalhando no Alvorada, Bolsonaro pode ter complicações. Pode, não estou dizendo que desejo nem que isso vai acontecer.
E caso isso aconteça, o feitiço vira. A culpa pode sobrar para a cloroquina.
Por que ele recaiu na campanha a favor desta droga após o anúncio da infecção?
Não é porque esteja tomando a droga, ninguém tem certeza disso. Muitos duvidam até da infecção, que considero real, até porque ninguém pode esconder uma doença imprevisível como esta. Muitos estavam bons, no dia seguinte, entubados.
A propaganda que ele faz do remédio é vergonhosa para um presidente, é de uma vulgaridade sem precedentes, o que alimenta boatos sobre interesses econômicos que estaria protegendo.
Mas ele o faz por razões político-populistas, sabendo para quem fala.
Investir contra a ciência, desafiar autoridades sanitárias e brandir verdades discutíveis contra a opinião majoritária é próprio dos espíritos autoritários.
E é sua natureza autoritária e obscurantista que seduz seus adoradores.
Bolsonaro surgiu para tirá-los das sombras e trazê-los para a cena política. Por isso é chamado de mito.
Suas declarações depois da revelação, como a de que a pandemia é como chuva, em que alguns vão se olhar, e outros não, também são dirigidas às suas falanges.
É negacionismo em estado sólido. Continuar trabalhando é seu modo de enfrentar a doença “como homem”.
Aliás, soubemos que ele dizia, ao receber visitas no Planalto, que “máscara é coisa de viado”. Ela tornou-se mal vista no governo inteiro, para desespero dos funcionários que gostariam de se proteger. Depois que Bolsonaro recuperar-se, ficará impossível.
Sentindo-se imunizado, fará o diabo. Os outros que se danem. E é mesmo possível que ele ganhe uns pontinhos.
As notícias sobre a covid presidencial mundo afora humilham o Brasil.
Ainda que o país seja uma coisa e seu presidente seja outra, é do Brasil que se fala, do país que elegeu um presidente negacionista e anti-ciência, que depois de desdenhar a pandemia terminou contaminado, por conta de seu descuido, consigo e com os outros, ao desrespeitar todas as recomendações sanitárias.
Isso no momento em que o Brasil é demonizado no mundo pela política anti-ambiental de Salles-Bolsonaro, que coloca a Amazônia em risco, com o desmatamento e as queimadas fora de controle.
Mas Bolsonaro não está nem aí. O mundo para ele é Trump e os Estados Unidos.
Aliás, o intercâmbio de vírus entre os dois governos vai bem.
Após a viagem presidencial à Flórida, em março, o secretário de Comunicação Fábio Weintraub, que por lá se contaminou, passou o vírus para mais de 20 pessoas no governo. Agora é Bolsonaro que pode ter contaminado americanos, ao comparecer infectado ao almoço de celebração do 4 de Julho, no sábado, na casa do embaixador dos USA.
Há quem deseje, e até espere, que Bolsonaro aprenda alguma coisa com a contaminação por coronavírus.
Quimera.
Desde que se descobriu infectado, Bolsonaro vem atuando para tirar proveito da doença, assim como faturou eleitoralmente com a facada – virou vítima, ausentou-se da campanha e dos debates, e ao mesmo tempo jogava pesado com as fake news nas redes sociais. Agora, aduba o bolsonarismo raiz com a publicidade da cloroquina e o estilo “mato no peito”, e busca agregar mais apoio dos mais pobres, com o qual vem compensando as perdas nos estratos sociais de maior renda e instrução.
Se ele atravessar o período da doença tendo apenas sintomas leves, pode até mesmo ganhar uns pontinhos para sua aprovação, hoje reduzida a 32% de ótimo e bom, segundo a última pesquisa Datafolha.
Alguns vão se comover, os evangélicos vão orar por ele, e outros vão recobrar a paixão irracional pelo presidente valentão, que enfrenta a doença “como homem”, como ele mesmo recomendou em certo momento.
Joga para seu público quando anuncia estar tomando hidroxicloroquina, apesar da desaprovação científica. Tendo apenas sintomas leves, vai dizer que foi o medicamento. Ou seja, ele sempre esteve certo quanto ao medicamento que politizou.
Mas este é um jogo arriscado.
Com 65 anos de idade, uma facada e alguma cirurgias, sem repousar para ajudar o sistema imunológico, pois segue trabalhando no Alvorada, Bolsonaro pode ter complicações. Pode, não estou dizendo que desejo nem que isso vai acontecer.
E caso isso aconteça, o feitiço vira. A culpa pode sobrar para a cloroquina.
Por que ele recaiu na campanha a favor desta droga após o anúncio da infecção?
Não é porque esteja tomando a droga, ninguém tem certeza disso. Muitos duvidam até da infecção, que considero real, até porque ninguém pode esconder uma doença imprevisível como esta. Muitos estavam bons, no dia seguinte, entubados.
A propaganda que ele faz do remédio é vergonhosa para um presidente, é de uma vulgaridade sem precedentes, o que alimenta boatos sobre interesses econômicos que estaria protegendo.
Mas ele o faz por razões político-populistas, sabendo para quem fala.
Investir contra a ciência, desafiar autoridades sanitárias e brandir verdades discutíveis contra a opinião majoritária é próprio dos espíritos autoritários.
E é sua natureza autoritária e obscurantista que seduz seus adoradores.
Bolsonaro surgiu para tirá-los das sombras e trazê-los para a cena política. Por isso é chamado de mito.
Suas declarações depois da revelação, como a de que a pandemia é como chuva, em que alguns vão se olhar, e outros não, também são dirigidas às suas falanges.
É negacionismo em estado sólido. Continuar trabalhando é seu modo de enfrentar a doença “como homem”.
Aliás, soubemos que ele dizia, ao receber visitas no Planalto, que “máscara é coisa de viado”. Ela tornou-se mal vista no governo inteiro, para desespero dos funcionários que gostariam de se proteger. Depois que Bolsonaro recuperar-se, ficará impossível.
Sentindo-se imunizado, fará o diabo. Os outros que se danem. E é mesmo possível que ele ganhe uns pontinhos.
As notícias sobre a covid presidencial mundo afora humilham o Brasil.
Ainda que o país seja uma coisa e seu presidente seja outra, é do Brasil que se fala, do país que elegeu um presidente negacionista e anti-ciência, que depois de desdenhar a pandemia terminou contaminado, por conta de seu descuido, consigo e com os outros, ao desrespeitar todas as recomendações sanitárias.
Isso no momento em que o Brasil é demonizado no mundo pela política anti-ambiental de Salles-Bolsonaro, que coloca a Amazônia em risco, com o desmatamento e as queimadas fora de controle.
Mas Bolsonaro não está nem aí. O mundo para ele é Trump e os Estados Unidos.
Aliás, o intercâmbio de vírus entre os dois governos vai bem.
Após a viagem presidencial à Flórida, em março, o secretário de Comunicação Fábio Weintraub, que por lá se contaminou, passou o vírus para mais de 20 pessoas no governo. Agora é Bolsonaro que pode ter contaminado americanos, ao comparecer infectado ao almoço de celebração do 4 de Julho, no sábado, na casa do embaixador dos USA.
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