Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
A noção de que vivemos num país condenado a jamais resolver seus principais problemas econômicos e sociais é bastante antiga.
Incapaz de enxergar as próprias responsabilidades pelo atraso de uma nação onde uma monarquia que nasceu fora de época convivia com uma escravidão que envergonhava a humanidade, a elite da Primeira República atribuía o atraso social e econômico do país à teoria das três raças tristes -- índio, negro e português.
Assim, com base num pensamento racista de pretensões científicas que iria alimentar as grandes tragédias do século XX, justificava-se nossas dificuldades para construir uma democracia de verdade.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o economista Albert O. Hirschmann (1915-2012), um dos mais conhecidos estudiosos do desenvolvimento latino-americano, ficou tão impressionado com o comportamento auto-depreciativo das lideranças desta parte do continente - chilenos, colombianos, paraguaios, mas especialmente brasileiros - que definiu um traço comum, que chamou de fracassomania.
A noção define um pensamento invariável.
A cada crise mais grave, após cada tropeço político ou fiasco econômico, não é preciso procurar explicações nem causas profundas, muito menos produzir balanços racionais e bem informados erros e acertos.
Basta enxergar em cada desastre uma nova manifestação de um destino a que estaríamos pré-condenados como povo, como sociedade, como história.
Longe de ser uma surpresa, o fracasso, aqui, é a confirmação de um destino errado , a reafirmação de uma visão de mundo - segundo a qual existem povos capazes de emancipar-se e atingir um grau elevado de desenvolvimento e civilização, e outros eternamente condenados ao atraso, à derrota e à submissão.
Não surpreende que a fracassomia seja um conceito que habita a essência do bolsonarismo. A incapacidade de reconhecer as potencialidades do Brasil como nação soberana estimula a reverência sem limites ao império norte-americano, que escandaliza até companheiros de viagem em 2018.
É uma atitude coerente com a visão de "povos superiores" e "povo inferiores" que está na origem das piores tiranias do século XX.
Sua função é bloquear todo esforço de transformação da realidade e a construção de uma sociedade próspera, menos desigual e mais justa.
O raciocínio é absurdo, mas tem método e obedece a uma lógica infernal.
Se o progresso é uma impossibilidade, todo esforço de mudança não passa de uma tolice e um desperdício.
A única saída é aderir ao mais forte, entregando-lhe imensas riquezas em troca de migalhas - que sempre serão poucas para as necessidades de tantos, um desequilíbrio que tornará o massacre dos descontentes uma rotina aceitável e necessário.
Não surpreende, assim, que a recente pesquisa divulgada pela Veja, realizada sob condições que deveriam minar a credibilidade de qualquer levantamento consistente, seja recebida com imenso foguetório pela banda do bolsonarismo.
Num governo corroído pela crise interna e por conspirações em céu aberto, mesmo pedras são úteis para reanimar tropas desunidas e abaladas.
Mas basta recordar o Brasil de julho de 2015 - exatamente 26 meses antes do pleito de outubro de 2018 - para lembrar a imensa distância que nos separa da corrida das urnas.
Nas pesquisas de julho de 2015, nenhum nome que chegou ao segundo turno em 2018 aparecia nos levantamentos com grande chance.
Bolsonaro não passava de um terrorista verbal no baixo clero da Câmara.
Ocorreram mudanças decisivas naquele período e é ingenuidade - no mínimo - imaginar que, enfrentando a mais grave pandemia de sua história, a sociedade brasileira já resolveu como irá votar em 2022.
Este é o ponto principal a ser considerado pelas forças que compreendem a necessidade de fazer um trabalho duro, sem descanso nem acomodações marotas, para livrar o país do pior governo de sua história.
Alguma dúvida?
A noção de que vivemos num país condenado a jamais resolver seus principais problemas econômicos e sociais é bastante antiga.
Incapaz de enxergar as próprias responsabilidades pelo atraso de uma nação onde uma monarquia que nasceu fora de época convivia com uma escravidão que envergonhava a humanidade, a elite da Primeira República atribuía o atraso social e econômico do país à teoria das três raças tristes -- índio, negro e português.
Assim, com base num pensamento racista de pretensões científicas que iria alimentar as grandes tragédias do século XX, justificava-se nossas dificuldades para construir uma democracia de verdade.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o economista Albert O. Hirschmann (1915-2012), um dos mais conhecidos estudiosos do desenvolvimento latino-americano, ficou tão impressionado com o comportamento auto-depreciativo das lideranças desta parte do continente - chilenos, colombianos, paraguaios, mas especialmente brasileiros - que definiu um traço comum, que chamou de fracassomania.
A noção define um pensamento invariável.
A cada crise mais grave, após cada tropeço político ou fiasco econômico, não é preciso procurar explicações nem causas profundas, muito menos produzir balanços racionais e bem informados erros e acertos.
Basta enxergar em cada desastre uma nova manifestação de um destino a que estaríamos pré-condenados como povo, como sociedade, como história.
Longe de ser uma surpresa, o fracasso, aqui, é a confirmação de um destino errado , a reafirmação de uma visão de mundo - segundo a qual existem povos capazes de emancipar-se e atingir um grau elevado de desenvolvimento e civilização, e outros eternamente condenados ao atraso, à derrota e à submissão.
Não surpreende que a fracassomia seja um conceito que habita a essência do bolsonarismo. A incapacidade de reconhecer as potencialidades do Brasil como nação soberana estimula a reverência sem limites ao império norte-americano, que escandaliza até companheiros de viagem em 2018.
É uma atitude coerente com a visão de "povos superiores" e "povo inferiores" que está na origem das piores tiranias do século XX.
Sua função é bloquear todo esforço de transformação da realidade e a construção de uma sociedade próspera, menos desigual e mais justa.
O raciocínio é absurdo, mas tem método e obedece a uma lógica infernal.
Se o progresso é uma impossibilidade, todo esforço de mudança não passa de uma tolice e um desperdício.
A única saída é aderir ao mais forte, entregando-lhe imensas riquezas em troca de migalhas - que sempre serão poucas para as necessidades de tantos, um desequilíbrio que tornará o massacre dos descontentes uma rotina aceitável e necessário.
Não surpreende, assim, que a recente pesquisa divulgada pela Veja, realizada sob condições que deveriam minar a credibilidade de qualquer levantamento consistente, seja recebida com imenso foguetório pela banda do bolsonarismo.
Num governo corroído pela crise interna e por conspirações em céu aberto, mesmo pedras são úteis para reanimar tropas desunidas e abaladas.
Mas basta recordar o Brasil de julho de 2015 - exatamente 26 meses antes do pleito de outubro de 2018 - para lembrar a imensa distância que nos separa da corrida das urnas.
Nas pesquisas de julho de 2015, nenhum nome que chegou ao segundo turno em 2018 aparecia nos levantamentos com grande chance.
Bolsonaro não passava de um terrorista verbal no baixo clero da Câmara.
Ocorreram mudanças decisivas naquele período e é ingenuidade - no mínimo - imaginar que, enfrentando a mais grave pandemia de sua história, a sociedade brasileira já resolveu como irá votar em 2022.
Este é o ponto principal a ser considerado pelas forças que compreendem a necessidade de fazer um trabalho duro, sem descanso nem acomodações marotas, para livrar o país do pior governo de sua história.
Alguma dúvida?
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