Por André Singer, no site A terra é redonda:
As bancadas do MDB e do DEM, somando 63 deputados, decidiram se afastar do grupo – conhecido como “blocão” – que tem apoiado sistematicamente o governo federal. O afastamento dessas bancadas não inviabiliza a atuação do governo na Câmara dos Deputados, pois ele continua contando com o apoio potencial de cerca de 200 deputados que permanecem na assim chamada “base governista”.
Esta decisão, no entanto, acarreta uma consequência de médio prazo importante, pois irá afetar a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, a ser realizada em fevereiro de 2021; na qual se decidirá a sucessão do atual presidente Rodrigo Maia (deputado do DEM). A presidência da Câmara dos Deputados é uma peça chave, pois o seu presidente é o único que pode autorizar um pedido de impeachment para ser encaminhado ao plenário do Congresso.
No contexto de polarização em que vivemos – mais intensa antes, no mês de junho quando a prisão do ex-PM Fabrício Queiroz fez o Presidente da República deter a ofensiva que vinha encenando desde o começo da pandemia – a eleição da presidência da Câmara será muito importante.
Essa movimentação influencia o quadro político nacional na medida em que coloca uma espécie de incerteza sobre o futuro do governo Bolsonaro. Neste momento, o governo Bolsonaro, com a aliança que fez com o Centrão conseguiu bloquear temporariamente as propostas de impeachment encaminhadas por setores democráticos da sociedade. Estes setores entendem que está em curso no Brasil uma escalada autoritária que precisa ser interrompida.
No entanto, como haverá uma disputa em fevereiro do ano que vem para a presidência da Câmara dos Deputados e pode ser eleito alguém que tenha certo grau de independência, essa questão pode se recolocar. Não é que ela vá se recolar automaticamente, porque esses dois partidos, o MDB e o DEM, tem tido uma posição bastante ambígua em relação ao governo. Mas, de todo modo tem mantido uma posição diferenciada em relação aos partidos que estão fielmente com Bolsonaro, pelo menos enquanto durar esse acordo estabelecido com o Centrão, a negociação que ofereceu cargos no governo em troca de apoio no Congresso Nacional.
* André Singer é professor titular de ciência política na USP. Autor, entre outros livros, de O lulismo em Crise (Companhia das Letras). Texto estabelecido a partir de entrevista concedida a Gustavo Xavier, na rádio USP.
As bancadas do MDB e do DEM, somando 63 deputados, decidiram se afastar do grupo – conhecido como “blocão” – que tem apoiado sistematicamente o governo federal. O afastamento dessas bancadas não inviabiliza a atuação do governo na Câmara dos Deputados, pois ele continua contando com o apoio potencial de cerca de 200 deputados que permanecem na assim chamada “base governista”.
Esta decisão, no entanto, acarreta uma consequência de médio prazo importante, pois irá afetar a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, a ser realizada em fevereiro de 2021; na qual se decidirá a sucessão do atual presidente Rodrigo Maia (deputado do DEM). A presidência da Câmara dos Deputados é uma peça chave, pois o seu presidente é o único que pode autorizar um pedido de impeachment para ser encaminhado ao plenário do Congresso.
No contexto de polarização em que vivemos – mais intensa antes, no mês de junho quando a prisão do ex-PM Fabrício Queiroz fez o Presidente da República deter a ofensiva que vinha encenando desde o começo da pandemia – a eleição da presidência da Câmara será muito importante.
Essa movimentação influencia o quadro político nacional na medida em que coloca uma espécie de incerteza sobre o futuro do governo Bolsonaro. Neste momento, o governo Bolsonaro, com a aliança que fez com o Centrão conseguiu bloquear temporariamente as propostas de impeachment encaminhadas por setores democráticos da sociedade. Estes setores entendem que está em curso no Brasil uma escalada autoritária que precisa ser interrompida.
No entanto, como haverá uma disputa em fevereiro do ano que vem para a presidência da Câmara dos Deputados e pode ser eleito alguém que tenha certo grau de independência, essa questão pode se recolocar. Não é que ela vá se recolar automaticamente, porque esses dois partidos, o MDB e o DEM, tem tido uma posição bastante ambígua em relação ao governo. Mas, de todo modo tem mantido uma posição diferenciada em relação aos partidos que estão fielmente com Bolsonaro, pelo menos enquanto durar esse acordo estabelecido com o Centrão, a negociação que ofereceu cargos no governo em troca de apoio no Congresso Nacional.
* André Singer é professor titular de ciência política na USP. Autor, entre outros livros, de O lulismo em Crise (Companhia das Letras). Texto estabelecido a partir de entrevista concedida a Gustavo Xavier, na rádio USP.
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