A juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, que virou polêmica nacional por ter dito que um dos réus num caso de roubos no centro daquela cidade, era “seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta”, desculpou-se dizendo que não queria escrever o que escreveu.
Um juiz, pelo seu dever de prudência, jamais poderia ter feito o que nenhuma pessoa poderia fazer.
Mas não foi a única manifestação de racismo neste processo. A juíza “comprou” a versão do policial civil Fabiano Oliveira que, ao depor, diz que o acusado Natan Vieira da Paz que, segundo ele, era conhecido por “Neguinho”, “era um dos que jogava a blusa para acobertar o criminoso; relatou que o grupo tentava parecer e se identificar como pessoas com aparência comum da população. Que Djalma, era um “senhorzinho” com bigode. Eros usava óculos e parecia mais intelectual, tentando parecer um professor, e algumas mulheres que se vestiam bem; Fugindo desse padrão, estava Natan, que era magro e negro, e de fácil identificação, e por isso acredita que ele possuía o encargo de despistar, estando sempre na cobertura; que não viu ele furtando, mas era o primeiro que chegava no centro e chamava os demais”.
“Magro e negro”, portanto, “de fácil identificação”. Certamente não era por ser magro, não é?
A juíza – e não há desculpas para isso – foi racista. Mas, pior, demonstrou que absorve e reflete o racismo social quando adota a tese de que Natan, por ser negro, “fugia do padrão” de “pessoas com aparência comum da população”.
Ou seja, uma visão “estética” do tristemente famoso “branco correndo é atleta; preto correndo é ladrão”.
Que, infelizmente, é mais comum do que uma juíza que o assume tão descaradamente que chega a escrevê-lo numa sentença.
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