O governo federal nomeou hoje o capitão de Mar e Guerra da reserva Carlos Fernando Corbage Rabello como o novo número 2 da Fundação Casa de Rui Barbosa, uma das mais prestigiosas e tradicionais instituições culturais do País, inaugurada em 13 de agosto de 1930. O posto de capitão de Mar e Guerra é a maior patente da Marinha e equivale ao de coronel no Exército e na Aeronáutica. É mais um passo rumo à militarização das instituições culturais do Estado – o governo já entregou a Fundação Nacional de Arte (Funarte) a um coronel do Exército também da reserva, Lamartine Barbosa, e tinha colocado um capitão PM da Bahia, André Porciuncula, na Secretaria de Fomento à Cultura, mas aparentemente recuou nessa última nomeação. O Superintendente de Prestação de Contas da Agência Nacional de Cinema (Ancine) também é um capitão de Mar e Guerra, Eduardo Cavalcanti Albuquerque, nomeado pelo governo Bolsonaro.
Corbage Rabello é de tradicional família de militares da Marinha e é vice-diretor do Museu Naval. O diretor-executivo que foi exonerado para que ele assumisse é Marcos José da Silva Neves, um auditor que tinha sido promovido em maio pela atual presidente da Funarte, Letícia Dornelles. Servidor da Controladoria Geral da União, Neves já significava um “downgrade” na estruturação interna da fundação, mas o avanço militar é mais um degrau na guerra cultural que o bolsonarismo move contra a liberdade que a cultura representa.
Instituição pública federal dedicada ao desenvolvimento da cultura, da pesquisa e do ensino e à preservação da memória nacional, a gestão da Fundação Casa de Rui Barbosa (instituição vinculada à Secretaria Especial de Cultura) já tinha sido entregue pelo governo Bolsonaro a uma dedicada soldada do retrocesso, a roteirista de TV bolsonarista Letícia Dornelles. Letícia (sem qualificação acadêmica e cuja maior façanha intelectual na carreira foi a publicação de um livro chamado Como Enlouquecer em Dez Lições) já entrou exonerando a equipe de pesquisadores da fundação – intelectuais do porte do cientista político Charles Gomes, da ensaísta Flora Sussekind, da jornalista Jöelle Rouchou, do sociólogo e escritor José Almino de Alencar e Antonio Herculano Lopes, diretor do centro de pesquisa da fundação.
Em janeiro, 150 brasilianistas de universidades como Harvard, Princeton, Columbia, New York University, Georgetown, Stanford e Berkeley divulgaram um documento reivindicando a suspensão das medidas que Letícia Dornelles adotou na Casa de Rui Barbosa. Não adiantou nada: o desmonte continuou em ritmo acelerado. Já houve mobilizações de todo tipo, desde protestos na porta da fundação até abaixo-assinado com mais de 2 mil assinaturas de jornalistas, escritores, músicos e artistas diversos, como Caetano Veloso, Silvia Buarque, Lucia Murat, Paulo Beti, Francis Hime, Sérgio Sant’Anna, Jorge Salomão, entre outros.
Carlos Rabello foi nomeado pela portaria 653, pelo Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio.
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