Estou convencido que a fúria de Bolsonaro ao desancar, jornalões nas mãos, as plantações de um badeco do ministério da Economia que anunciara o corte de salários, aposentadorias e benefícios para os pobres é a manifestação de seu arrependimento pelo mau passo que deu cortando pela metade o auxílio emergencial de 600 reais até dezembro.
Deve ter raciocinado assim: já me fizeram perder prestígio popular com a MP 1.000 (eu que poderia, mês a mês, conceder o auxílio), agora querem bater mais um prego no meu caixão, fechando a tampa.
Bem compreendida a cena foram para o espaço as orientações fiscalistas (de curto prazo) e o posto Ipiranga ficou momentaneamente sem gasolina.
Para as centrais sindicais que se reúnem hoje, dia 16, e lançam a campanha em defesa dos 600 reais até dezembro o destempero presidencial (e o seu arrependimento) abrem uma janela de oportunidade e demonstram a justeza e a urgência do que pleiteiam, apesar do silêncio dos jornalões (que, no entanto, compraram a versão do badeco ministerial), da vergonhosa omissão dos partidos de oposição e da alienação envergonhada dos bem pensantes e dos bem viventes.
Bolsonaro pratica o presidencialismo de colisão (passe o trocadilho) e se choca até consigo mesmo (veto e derrubada de veto na multa das igrejas), mas seu arrependimento pode ser a chave para todos compreenderem – e não só as centrais sindicais – que é necessário e possível garantir os 600 reais até dezembro, derrotar a MP 1.000 (criando uma comoção nacional para tanto) e colocar em movimento o paquiderme desorientado do oposicionismo de dispersão, até agora descolado do povo, de seu sofrimento, angústias, necessidades e expectativas.
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