Por Marcos Coimbra, no site Brasil-247:
Em dois meses, os Estados Unidos farão uma das eleições mais importantes de sua história, talvez a mais decisiva. Nela está em jogo mais do que a definição do nome do próximo presidente do país, há uma escolha entre civilização e barbárie.
Tudo indica que Donald Trump não conseguirá se reeleger. Não há, até agora, sinal de que ele será capaz de reverter a vantagem de Joe Biden, seja no voto popular, seja no Colégio Eleitoral. A enxurrada de pesquisas de intenção de voto, que inunda o cenário norte-americano, vai toda nessa direção.
Para quem, como nós, vive à míngua de boas informações de pesquisa, é até estranho constatar que, por lá, elas são oferecidas ao eleitorado em largas doses diárias. Tantas que a regra não é aguardar o que cada uma em particular tem a mostrar, mas prestar atenção nas médias dos resultados de muitas, calculadas pelos chamados agregadores de pesquisas.
Em dois dos principais, o 538 e o Real Clear Politics, de acordo com os resultados de cerca de 30 pesquisas concluídas entre 1º e 6 de setembro, Biden lidera no voto do eleitorado, no primeiro por 6.5 pontos (obtendo 52.6% e ficando Trump com 46.1%), e no segundo por 6.9 pontos (alcançando 49.7% contra 42.8% de Trump). Também de acordo com ambos e talvez mais importante, Biden vence na maioria dos principais colégios estaduais, incluindo os maiores “estados decisivos”, como são chamados aqueles que definem as eleições. Nesses, Biden está na frente em nove e o republicano em três. De acordo com os cálculos de Nate Silver, criador do 538, caso Biden mantenha uma dianteira nacional superior a cinco pontos (repetindo: tem hoje 6.5), a chance de ele ser o próximo presidente é de 98%.
No final de fevereiro, quando havia nos EUA um total de 19 casos diagnosticados de Covid-19, Biden já estava em vantagem. Na agregação do 538, era de pouco mais que três pontos, o que significava uma chance de cerca de 50% de vitória. Ou seja, Trump era competitivo, mesmo sem recorrer ao jogo sujo na reta final da eleição, pois sua situação era melhor do que aquela que enfrentara em 2016 (lembrando: Hillary Clinton venceu a eleição no voto popular, mas perdeu no Colégio Eleitoral, pois Trump a derrotou nos “estados decisivos”).
Guardadas as devidas cautelas, tudo isso é relevante para entender o presente e o futuro imediato da politica brasileira. Há mais que a admiração canina do capitão por Trump a aproximar os dois países.
A vitória de Trump foi recebida pela parte inteligente da sociedade americana com a mesma aversão com que a de Bolsonaro pela inteligência brasileira. A ambas parecia impossível que uma junção do que há de mais deletério nos dois países se reunisse para levar ao poder alguém como eles. Mas foi o que aconteceu lá e aqui: juntou-se o pior da população com o pior do empresariado, da politica e da religião, em torno de figuras caricatas. Nazistas, supremacistas, terraplanistas, fanáticos, pervertidos, militaristas, adoradores de armas saíram do armário, levando de roldão alguns incautos.
Apenas antes da posse ou nos primeiros dias de seus governos, Trump e o capitão foram aprovados por mais de 50% da população. No caso do americano, mesmo havendo elevada aprovação de sua gestão à frente da economia, que, turbinada pelo crescimento real e expectativas favoráveis, alcançou, em fevereiro, 56%, deixando a desaprovação em somente 17%.
Parece, no entanto, que nem tudo se resolve na carteira, como imaginam muitos analistas brasileiros. Aprovar um governo, gostar de um presidente e desejar sua permanência é mais do que ter dinheiro no bolso. Contam a competência, a sensibilidade e a honradez, assim como a grosseria, a estupidez e a falta de compreensão.
Hoje, quem pensa na vitória de Trump raciocina com o arsenal de trapaças, mentiras e manipulações que pode usar e usa. Sua completa falta de escrúpulos e ilimitada disposição de apelar à baixaria dão alguma sobrevida à candidatura.
O macaquinho de imitação sul-americano é a mesma coisa. Bolsonaro, seu governo de paspalhões, os aliados no setor público, no mercado e na mídia só venceriam a eleição de 2022 se as prestidigitações, manobras e mutretas corressem soltas. Nos Estados Unidos, Trump nem sempre consegue passar a perna em todo mundo, pois há instituições que funcionam: imprensa não-partidária, Judiciário não-politizado, Forças Armadas profissionais.
Tomara suas equivalentes brasileiras criem vergonha e cumpram com o dever, para não deixar que ocorra aqui aquilo de que os cidadãos norte-americanos parece que se livrarão.
Em dois meses, os Estados Unidos farão uma das eleições mais importantes de sua história, talvez a mais decisiva. Nela está em jogo mais do que a definição do nome do próximo presidente do país, há uma escolha entre civilização e barbárie.
Tudo indica que Donald Trump não conseguirá se reeleger. Não há, até agora, sinal de que ele será capaz de reverter a vantagem de Joe Biden, seja no voto popular, seja no Colégio Eleitoral. A enxurrada de pesquisas de intenção de voto, que inunda o cenário norte-americano, vai toda nessa direção.
Para quem, como nós, vive à míngua de boas informações de pesquisa, é até estranho constatar que, por lá, elas são oferecidas ao eleitorado em largas doses diárias. Tantas que a regra não é aguardar o que cada uma em particular tem a mostrar, mas prestar atenção nas médias dos resultados de muitas, calculadas pelos chamados agregadores de pesquisas.
Em dois dos principais, o 538 e o Real Clear Politics, de acordo com os resultados de cerca de 30 pesquisas concluídas entre 1º e 6 de setembro, Biden lidera no voto do eleitorado, no primeiro por 6.5 pontos (obtendo 52.6% e ficando Trump com 46.1%), e no segundo por 6.9 pontos (alcançando 49.7% contra 42.8% de Trump). Também de acordo com ambos e talvez mais importante, Biden vence na maioria dos principais colégios estaduais, incluindo os maiores “estados decisivos”, como são chamados aqueles que definem as eleições. Nesses, Biden está na frente em nove e o republicano em três. De acordo com os cálculos de Nate Silver, criador do 538, caso Biden mantenha uma dianteira nacional superior a cinco pontos (repetindo: tem hoje 6.5), a chance de ele ser o próximo presidente é de 98%.
No final de fevereiro, quando havia nos EUA um total de 19 casos diagnosticados de Covid-19, Biden já estava em vantagem. Na agregação do 538, era de pouco mais que três pontos, o que significava uma chance de cerca de 50% de vitória. Ou seja, Trump era competitivo, mesmo sem recorrer ao jogo sujo na reta final da eleição, pois sua situação era melhor do que aquela que enfrentara em 2016 (lembrando: Hillary Clinton venceu a eleição no voto popular, mas perdeu no Colégio Eleitoral, pois Trump a derrotou nos “estados decisivos”).
Guardadas as devidas cautelas, tudo isso é relevante para entender o presente e o futuro imediato da politica brasileira. Há mais que a admiração canina do capitão por Trump a aproximar os dois países.
A vitória de Trump foi recebida pela parte inteligente da sociedade americana com a mesma aversão com que a de Bolsonaro pela inteligência brasileira. A ambas parecia impossível que uma junção do que há de mais deletério nos dois países se reunisse para levar ao poder alguém como eles. Mas foi o que aconteceu lá e aqui: juntou-se o pior da população com o pior do empresariado, da politica e da religião, em torno de figuras caricatas. Nazistas, supremacistas, terraplanistas, fanáticos, pervertidos, militaristas, adoradores de armas saíram do armário, levando de roldão alguns incautos.
Apenas antes da posse ou nos primeiros dias de seus governos, Trump e o capitão foram aprovados por mais de 50% da população. No caso do americano, mesmo havendo elevada aprovação de sua gestão à frente da economia, que, turbinada pelo crescimento real e expectativas favoráveis, alcançou, em fevereiro, 56%, deixando a desaprovação em somente 17%.
Parece, no entanto, que nem tudo se resolve na carteira, como imaginam muitos analistas brasileiros. Aprovar um governo, gostar de um presidente e desejar sua permanência é mais do que ter dinheiro no bolso. Contam a competência, a sensibilidade e a honradez, assim como a grosseria, a estupidez e a falta de compreensão.
Hoje, quem pensa na vitória de Trump raciocina com o arsenal de trapaças, mentiras e manipulações que pode usar e usa. Sua completa falta de escrúpulos e ilimitada disposição de apelar à baixaria dão alguma sobrevida à candidatura.
O macaquinho de imitação sul-americano é a mesma coisa. Bolsonaro, seu governo de paspalhões, os aliados no setor público, no mercado e na mídia só venceriam a eleição de 2022 se as prestidigitações, manobras e mutretas corressem soltas. Nos Estados Unidos, Trump nem sempre consegue passar a perna em todo mundo, pois há instituições que funcionam: imprensa não-partidária, Judiciário não-politizado, Forças Armadas profissionais.
Tomara suas equivalentes brasileiras criem vergonha e cumpram com o dever, para não deixar que ocorra aqui aquilo de que os cidadãos norte-americanos parece que se livrarão.
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