O início da campanha municipal aponta algumas tendências claras - que podem ter consequências em 2022.
1. A direita bolsonarista "pura" minguou. Isso em parte é resultado do giro feito pelo presidente da República - que, depois de ensaiar um golpe em maio, abandonou youtubers, extremistas de internet, astrólogos e terraplanistas; e fez a opção pelo Centrão.
A única capital em que há um bolsonarista raiz com chances reais é Fortaleza.
De resto, Bolsonaro tenta se alinhar a políticos da direita tradicional (Russomano em São Paulo, Mendonça Filho no Recife, Crivella no Rio).
2. A segunda tendência é a dificuldade do PT de avançar nas capitais.
As duas candidatas que largaram com mais força (Marilia Arraes no Recife e Luizianne Lins em Fortaleza) parecem ter perdido algum fôlego, segundo as últimas pesquisas. Claro que a campanha mal começou, mas são sinais importantes.
Apesar dessas dificuldades, o PT não parece tão enfraquecido quanto em 2016 - quando, logo após a derrubada de Dilma e com a Lava Jato no auge, o partido teve o pior resultado em eleições municipais de sua história.
Além disso, o PT disputa com boas chances várias cidades "médias":
Contagem (MG), Juiz de Fora (MG), Santarém (PA), Vitória da Conquista (BA).
Há sinais de que a falência tucana em São Paulo pode levar o PT a recuperar alguns dos municípios do antigo "cinturão vermelho" na região metropolitana.
Candidatos petistas são favoritos ou chegam com chances reais de ganhar em Guarulhos, Diadema e São Bernardo do Campo.
Major Denice (Salvador) e Benedita (Rio) são petistas que muitos davam como carta fora do baralho, e que podem surpreender, ainda que não vençam.
Mas se o PT enfrenta dificuldades reais nas capitais, a esquerda pode colher resultados interessantes - especialmente onde estratégias "frentistas" se consolidaram: Manuela em Porto Alegre (PCdoB, com vice do PT) e Edmilson em Belém (PSOL, com vice do PT) são exemplos de uma esquerda que começa a construir na prática uma frente.
A eleição municipal pode consolidar, portanto, dois giros políticos - um à direita e outro à esquerda.
Bolsonarismo institucional
O primeiro significa a institucionalização do bolsonarismo, que cria o que chamei em artigo anterior de uma nova Arena (DEM, PSD, Republicanos e PP não precisam se fundir; são todos eles herdeiros do velho partido da ditadura, unidos sob a bandeira da extrema direita bolsonarista).
Esse bloco deve ser o grande vencedor nas eleições. Bolsonaro poderá se apresentar como sócio (minoritário?) da vitória dessa "nova" Arena. Mas não conseguirá se impor como força partidária autônoma. Ao invés disso, terá que se render à velha política.
Isso garante alguma estabilidade, para que Bolsonaro sobreviva à grande turbulência econômica e social que viveremos no início de 2021.
Mas pode criar um curto-circuito na base bolsonarista que acreditou no "mito fora da política" e agora vê o capitão abraçado à direita tradicional.
Frente na esquerda
De outro lado, a esquerda parece criar (ainda que informalmente) uma frente que incorpora: a herança lulista, a militância petista, mas aponta para a renovação de quadros e rostos. É um sinal de maturidade.
Em Belém, Porto Alegre e Florianópolis essa aliança se fez institucionalmente, via direções partidárias.
Em São Paulo, no Rio, Fortaleza, Recife e Salvador, o eleitor é que tomará a decisão na urna.
Seja como for, está claro que PSOL, PCdoB e até PSB/PDT dificilmente terão alguma chance de avançar sozinhos - se não estabelecerem algum tipo de compromisso com o PT. E a recíproca é verdadeira.
O apoio cruzado no segundo turno das eleições municipais (entre petistas, psolistas e até pedetistas/socialistas) será decisivo para consolidar esse movimento, rumo a 2022.
Nos bastidores, já há sinais de que pela enésima vez pode-se costurar um entendimento entre Ciro e Lula.
O segundo turno da eleição (com Martha e Benedita juntas no Rio, ou com o PT e o candidato do PDT juntos em Fortaleza) pode ajudar a refazer pontes que foram dinamitadas.
Bolsonaro ocupou a direita e avança para a centro-direita, destruindo as chances do PSDB e de outras alternativas de "centro".
O capitão calcula que o voto extremista marchará com ele de qualquer forma (mesmo que o veja abraçado à velha política), porque do outro lado haverá o fantasma do "inimigo petista".
A estratégia da esquerda para 2022, parece-me, será desfazer esse cenário - estabelecendo uma frente que aponta "para além do PT e de Lula, mas sem abrir mão do PT e de Lula".
Lembremos que na Espanha, por exemplo, o Podemos passou anos atacando o velho PSOE, e vice versa.
Até que o avanço da direita obrigou Podemos (um partido jovem e mais "identitário") a firmar aliança institucional com o PSOE dos embates social-democratas.
Parece-me muito semelhante com o caminho que se abre para PSOL e PT no Brasil - com a participação também de PCdoB e de alas mais à esquerda do PSB e do trabalhismo.
O quadro em São Paulo é muito claro, indicando a necessidade dessa parceria.
Jilmar Tatto (PT) pode até crescer um pouco com a campanha na TV e o apoio de Lula nas periferias; mas a tendência é Boulos (PSOL) chegar mais forte à reta final, tendo já conquistado apoio na classe média progressista e nos setores organizados dos trabalhadores.
O PT, sozinho, parece inviável hoje na capital paulista. Mas Boulos, sem o PT e Lula, dificilmente terá chance de avançar mais.
Em vez de um conflito insanável, as militâncias dos dois partidos poderiam ver esse dilema paulistano como um ensaio das contradições que terão que ser superadas para recuperar terreno em 2022.
De resto, Bolsonaro tenta se alinhar a políticos da direita tradicional (Russomano em São Paulo, Mendonça Filho no Recife, Crivella no Rio).
2. A segunda tendência é a dificuldade do PT de avançar nas capitais.
As duas candidatas que largaram com mais força (Marilia Arraes no Recife e Luizianne Lins em Fortaleza) parecem ter perdido algum fôlego, segundo as últimas pesquisas. Claro que a campanha mal começou, mas são sinais importantes.
Apesar dessas dificuldades, o PT não parece tão enfraquecido quanto em 2016 - quando, logo após a derrubada de Dilma e com a Lava Jato no auge, o partido teve o pior resultado em eleições municipais de sua história.
Além disso, o PT disputa com boas chances várias cidades "médias":
Contagem (MG), Juiz de Fora (MG), Santarém (PA), Vitória da Conquista (BA).
Há sinais de que a falência tucana em São Paulo pode levar o PT a recuperar alguns dos municípios do antigo "cinturão vermelho" na região metropolitana.
Candidatos petistas são favoritos ou chegam com chances reais de ganhar em Guarulhos, Diadema e São Bernardo do Campo.
Major Denice (Salvador) e Benedita (Rio) são petistas que muitos davam como carta fora do baralho, e que podem surpreender, ainda que não vençam.
Mas se o PT enfrenta dificuldades reais nas capitais, a esquerda pode colher resultados interessantes - especialmente onde estratégias "frentistas" se consolidaram: Manuela em Porto Alegre (PCdoB, com vice do PT) e Edmilson em Belém (PSOL, com vice do PT) são exemplos de uma esquerda que começa a construir na prática uma frente.
A eleição municipal pode consolidar, portanto, dois giros políticos - um à direita e outro à esquerda.
Bolsonarismo institucional
O primeiro significa a institucionalização do bolsonarismo, que cria o que chamei em artigo anterior de uma nova Arena (DEM, PSD, Republicanos e PP não precisam se fundir; são todos eles herdeiros do velho partido da ditadura, unidos sob a bandeira da extrema direita bolsonarista).
Esse bloco deve ser o grande vencedor nas eleições. Bolsonaro poderá se apresentar como sócio (minoritário?) da vitória dessa "nova" Arena. Mas não conseguirá se impor como força partidária autônoma. Ao invés disso, terá que se render à velha política.
Isso garante alguma estabilidade, para que Bolsonaro sobreviva à grande turbulência econômica e social que viveremos no início de 2021.
Mas pode criar um curto-circuito na base bolsonarista que acreditou no "mito fora da política" e agora vê o capitão abraçado à direita tradicional.
Frente na esquerda
De outro lado, a esquerda parece criar (ainda que informalmente) uma frente que incorpora: a herança lulista, a militância petista, mas aponta para a renovação de quadros e rostos. É um sinal de maturidade.
Em Belém, Porto Alegre e Florianópolis essa aliança se fez institucionalmente, via direções partidárias.
Em São Paulo, no Rio, Fortaleza, Recife e Salvador, o eleitor é que tomará a decisão na urna.
Seja como for, está claro que PSOL, PCdoB e até PSB/PDT dificilmente terão alguma chance de avançar sozinhos - se não estabelecerem algum tipo de compromisso com o PT. E a recíproca é verdadeira.
O apoio cruzado no segundo turno das eleições municipais (entre petistas, psolistas e até pedetistas/socialistas) será decisivo para consolidar esse movimento, rumo a 2022.
Nos bastidores, já há sinais de que pela enésima vez pode-se costurar um entendimento entre Ciro e Lula.
O segundo turno da eleição (com Martha e Benedita juntas no Rio, ou com o PT e o candidato do PDT juntos em Fortaleza) pode ajudar a refazer pontes que foram dinamitadas.
Bolsonaro ocupou a direita e avança para a centro-direita, destruindo as chances do PSDB e de outras alternativas de "centro".
O capitão calcula que o voto extremista marchará com ele de qualquer forma (mesmo que o veja abraçado à velha política), porque do outro lado haverá o fantasma do "inimigo petista".
A estratégia da esquerda para 2022, parece-me, será desfazer esse cenário - estabelecendo uma frente que aponta "para além do PT e de Lula, mas sem abrir mão do PT e de Lula".
Lembremos que na Espanha, por exemplo, o Podemos passou anos atacando o velho PSOE, e vice versa.
Até que o avanço da direita obrigou Podemos (um partido jovem e mais "identitário") a firmar aliança institucional com o PSOE dos embates social-democratas.
Parece-me muito semelhante com o caminho que se abre para PSOL e PT no Brasil - com a participação também de PCdoB e de alas mais à esquerda do PSB e do trabalhismo.
O quadro em São Paulo é muito claro, indicando a necessidade dessa parceria.
Jilmar Tatto (PT) pode até crescer um pouco com a campanha na TV e o apoio de Lula nas periferias; mas a tendência é Boulos (PSOL) chegar mais forte à reta final, tendo já conquistado apoio na classe média progressista e nos setores organizados dos trabalhadores.
O PT, sozinho, parece inviável hoje na capital paulista. Mas Boulos, sem o PT e Lula, dificilmente terá chance de avançar mais.
Em vez de um conflito insanável, as militâncias dos dois partidos poderiam ver esse dilema paulistano como um ensaio das contradições que terão que ser superadas para recuperar terreno em 2022.
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