A imprensa sempre valorizou o mito da imparcialidade. Ouvir os dois lados, separar fatos de opiniões, buscar a objetividade sempre foram dogmas da imprensa, embora raramente estes coincidissem com a realidade do que publicavam.
Seja como for, ao menos no plano dos propósitos, a imprensa sempre se esforçou para passar uma imagem de neutralidade.
Isso está mudando muito rapidamente, em vários veículos de comunicação. O exemplo mais fulgurante vem do jornal paranaense Gazeta do Povo.
A Gazeta sempre foi um jornal medíocre, de direita, chapa-branca, governista, com pouquíssimo espaço para posições dissonantes de sua linha editorial, eufemismo para significar a voz do dono do diário.
Com a morte do patriarca, Francisco Cunha Pereira, sócio que dirigia o jornal à sua imagem e semelhança, a coisa degringolou.
Católicos devotos, cristãos fervorosos, militantes da Opus Dei, seus herdeiros, pouco a pouco, foram afastando os mitos fundantes do jornalismo para escancarar a opção pelo ideário da extrema-direita e se assumir em defesa do conservadorismo (https://fb.watch/2pLFaL7Ahu/).
Integrando o grupo econômico GRPCOM, que detém os direitos de transmissão da Rede Globo (sócia segundo consta de 8 afiliadas) no Paraná, a Gazeta do Povo sentiu o baque da perda de anunciantes que não querem ver suas marcas associadas ao fascismo, ao obscurantismo e ao retrocesso civilizatório.
Depois de promover sequenciais demissões em massa, o jornal vem se posicionando com agressiva campanha de marketing (inclusive nos intervalos dos programas de maior audiência na Globo) como “um jornal que pensa como você” para atrair assinantes que compartilham sua ideologia extremista, de extrema-direita.
Não se trata de mera opinião editorial. O que a Gazeta promete, por R$ 19,90 mensais, é um conteúdo parcial em suas matérias e reportagens. Não que algum dia tenha sido diferente, mas agora assume abertamente, com orgulho, sua identidade ideológica, “contra o politicamente correto” (https://youtu.be/L8C9vu0Ycmg). E isso não é pouco.
Depois de comprar o jornal concorrente (O Estado do Paraná), há alguns anos, e desativá-lo, a Gazeta do Povo abandonou sua versão impressa, exceto aos sábados, para se transformar em portal digital, porta-voz ideológica de uma pauta conservadora, que reúne articulistas identificados com seu ideário (https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Gazeta_do_Povo). Tornou-se um jornal de facção.
Curitiba, assim, talvez seja a única capital brasileira onde o hábito da leitura dos jornais diários, com notícias locais, com fatos e opiniões objetivamente apresentados, se perdeu. Talvez para sempre.
Caberia na capital paranaense um jornal à moda antiga, que buscasse a imparcialidade? Algum dos outros diários menores, que ainda resistem, podem ser indiretamente beneficiados pelo abandono do jornalismo (que conhecíamos) por parte da Gazeta do Povo? O jornalismo que morreu em Curitiba antecipa uma tendência do que veremos em outras cidades brasileiras?
Leitor de jornais, frequentador de banquinhas, descubro-me melancólico e saudosista. Preciso de um tempo para realizar o luto que me invadiu quando percebi a estratégia de marketing concebida pelos Cunha Pereira. Estou exagerando?
* Wilson Ramos Filho (Xixo) é doutor em direito, professor na UFPR, presidente do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.
A Gazeta sempre foi um jornal medíocre, de direita, chapa-branca, governista, com pouquíssimo espaço para posições dissonantes de sua linha editorial, eufemismo para significar a voz do dono do diário.
Com a morte do patriarca, Francisco Cunha Pereira, sócio que dirigia o jornal à sua imagem e semelhança, a coisa degringolou.
Católicos devotos, cristãos fervorosos, militantes da Opus Dei, seus herdeiros, pouco a pouco, foram afastando os mitos fundantes do jornalismo para escancarar a opção pelo ideário da extrema-direita e se assumir em defesa do conservadorismo (https://fb.watch/2pLFaL7Ahu/).
Integrando o grupo econômico GRPCOM, que detém os direitos de transmissão da Rede Globo (sócia segundo consta de 8 afiliadas) no Paraná, a Gazeta do Povo sentiu o baque da perda de anunciantes que não querem ver suas marcas associadas ao fascismo, ao obscurantismo e ao retrocesso civilizatório.
Depois de promover sequenciais demissões em massa, o jornal vem se posicionando com agressiva campanha de marketing (inclusive nos intervalos dos programas de maior audiência na Globo) como “um jornal que pensa como você” para atrair assinantes que compartilham sua ideologia extremista, de extrema-direita.
Não se trata de mera opinião editorial. O que a Gazeta promete, por R$ 19,90 mensais, é um conteúdo parcial em suas matérias e reportagens. Não que algum dia tenha sido diferente, mas agora assume abertamente, com orgulho, sua identidade ideológica, “contra o politicamente correto” (https://youtu.be/L8C9vu0Ycmg). E isso não é pouco.
Depois de comprar o jornal concorrente (O Estado do Paraná), há alguns anos, e desativá-lo, a Gazeta do Povo abandonou sua versão impressa, exceto aos sábados, para se transformar em portal digital, porta-voz ideológica de uma pauta conservadora, que reúne articulistas identificados com seu ideário (https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Gazeta_do_Povo). Tornou-se um jornal de facção.
Curitiba, assim, talvez seja a única capital brasileira onde o hábito da leitura dos jornais diários, com notícias locais, com fatos e opiniões objetivamente apresentados, se perdeu. Talvez para sempre.
Caberia na capital paranaense um jornal à moda antiga, que buscasse a imparcialidade? Algum dos outros diários menores, que ainda resistem, podem ser indiretamente beneficiados pelo abandono do jornalismo (que conhecíamos) por parte da Gazeta do Povo? O jornalismo que morreu em Curitiba antecipa uma tendência do que veremos em outras cidades brasileiras?
Leitor de jornais, frequentador de banquinhas, descubro-me melancólico e saudosista. Preciso de um tempo para realizar o luto que me invadiu quando percebi a estratégia de marketing concebida pelos Cunha Pereira. Estou exagerando?
* Wilson Ramos Filho (Xixo) é doutor em direito, professor na UFPR, presidente do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora.
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