Por Alexandre Padilha, no site Carta Maior:
Vitória e a derrota eleitoral não podem ser vistas apenas por uma perspectiva, em qualquer uma das duas possibilidades existem fatores positivos e negativos que devem ser observados, analisados e enfrentados seja por vencedores ou perdedores.
Os resultados eleitorais que findaram no domingo (29), trouxeram um sabor amargo para todos aqueles que esperavam renovação, garra e conquistas do projeto político popular. Contudo, este mesmo resultado trouxe esperança de que a esquerda tenha a cada dia um projeto menos analógico e mais digital e novas lideranças emergem com o respaldo popular, como Guilherme Boulos, Marília Arraes e Manuela D’ávila (está já uma grande liderança política nacional).
De outro lado, em grandes cidades que não são capitais, a esperança de projetos populares, democráticos e comprometidos com a vida emerge com a eleição de políticos comprometidos com estas causas em cidades como Diadema (SP), Mauá (SP), Araraquara (SP), Juiz de Fora (MG), Contagem (MG), entre outras e em outras grandes cidades, como Campinas (SP) a candidatura de uma aliança programática entre o PT e o PSOL apresentou um cenário promissor.
Contudo, após o fim da eleição surge um amplo desafio: Como garantir a defesa da vida e do SUS a partir de 2021, em um cenário de fortalecimento das forças da direita?
Alguns desafios de 2021 serão enfrentados ainda neste ano. O governo Bolsonaro, que é apoiado por diversas forças políticas da direita brasileira, enviou para o Congresso uma proposta de orçamento que retira 35 bilhões de reais do SUS em relação ao valor gasto este ano. Em um momento onde o país inicia a segunda onda da pandemia da covid-19, Bolsonaro acentua seu compromisso com a morte e com a destruição de nossa sociedade, ao retirar recursos do SUS e ao tentar encaixar a realidade brasileira em uma peça orçamentária fictícia. Os prefeitos eleitos não conseguirão garantir saúde para o povo brasileiro diante desta pandemia com a retirada de recursos para o SUS que Bolsonaro patrocina, diante do maior desafio público de nossas vidas.
O segundo desafio para 2021 começou ainda em 2018 com a eleição de Bolsonaro. Sua postura bélica e descomprometida com a vida, levou ao rompimento da cooperação entre o Brasil e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) no Projeto Mais Médicos. Bolsonaro retirou mais de 8 mil médicos cubanos do Brasil devido a sua xenofobia e ausência de compromisso com o povo que mais precisa do SUS. Além disso em 2019 foi criado o Programa Médicos pelo Brasil, que até o momento colocou um total de zero médicos no país. Os prefeitos eleitos iniciarão seus mandatos com menos dinheiro e menos profissionais médicos para atender o nosso povo.
O terceiro desafio é a completa ausência de coordenação nacional da pandemia, os prefeitos estarão sem qualquer apoio do governo federal no enfrentamento da pandemia, isso fica evidente com as falas absurdas do presidente e de sua equipe, como também com a baixa execução orçamentária do dinheiro que foi disponibilizado pelo Congresso Nacional para o enfrentamento da pandemia.
Por fim, o maior desafio dos prefeitos será o de coordenar em seus municípios a campanha de vacinação contra a covid-19 no próximo ano, esta campanha não será apenas para vacinar a população, mas devolver a esperança e a vida para o povo que busca retomar suas atividades, voltar a abraçar e viver sem restrições.
Contudo, tal campanha só será efetiva se secretários municipais de saúde forem comprometidos com o SUS e com a população, e que toda sociedade não aceite qualquer proposta do governo federal que não seja pautada por oferta universal da vacina para todas brasileiras e todos os brasileiros, e a defesa da ciência e contra toda e qualquer xenofobia.
Nada impede que critérios clínicos e epidemiológicos sejam utilizados para priorizar a oferta inicial da vacinação, mas não podemos aceitar que o governo federal queira fazer uma campanha de vacinação que não busque a universalidade da vacinação.
O desafio neste momento, de construir uma sociedade mais segura e saudável é o maior de nossas vidas, e não será possível alcança-lo sem uma forte oposição aos ideais e valores que Bolsonaro representa.
* Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.
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