sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Os maus modos do neofascismo brasileiro
Charge: Grossomodo, por Muna/Causa Operária |
O neofascismo no Brasil, para quem não entendeu, não emula o fascismo italiano dos anos 1920. Nunca foi isso, evidentemente. Muita energia importante foi gasta com esse debate estéril, de especialistas querendo fixar pontos históricos e palavras, enquanto a vida política do país se degradava de fato. A evocação do termo fascismo vem de uma tradição do pensamento político do século XX, que se refere a uma escala imaginária, ou efetiva, dependendo do que somos capazes de ver, do mal na política. É isso o que importa. Nosso neofascismo diz respeito aos modos de nossa conversão própria da política em violência, o que ninguém pode negar. Ele se ordena e se unifica, por fim, ao redor do bolsonarismo. Uma conversão sistemática, organizada por circuitos oficiais e randômicos sociais, nos seguintes termos:
Motim no Ceará: acabou a brincadeira!
Por Charles Alcantara
O endosso maldisfarçado à tentativa de homicídio contra o senador Cid Gomes e ao motim de policiais no Ceará não são atos irrefletidos ou irresponsáveis do clã Bolsonaro. São um movimento calculado para avançar num projeto cada vez mais evidente: o de instaurar um governo autocrático.
Acontece que esse projeto não se viabiliza sem o engajamento efetivo das forças armadas e do seu braço auxiliar e mais numeroso e capilarizado: as polícias militares.
Bolsonaro, seus filhos e militares do núcleo duro do governo já colocaram em marcha esse projeto.
Os sinais estão aí, todos os dias e noites, evidentes, gritantes.
O endosso maldisfarçado à tentativa de homicídio contra o senador Cid Gomes e ao motim de policiais no Ceará não são atos irrefletidos ou irresponsáveis do clã Bolsonaro. São um movimento calculado para avançar num projeto cada vez mais evidente: o de instaurar um governo autocrático.
Acontece que esse projeto não se viabiliza sem o engajamento efetivo das forças armadas e do seu braço auxiliar e mais numeroso e capilarizado: as polícias militares.
Bolsonaro, seus filhos e militares do núcleo duro do governo já colocaram em marcha esse projeto.
Os sinais estão aí, todos os dias e noites, evidentes, gritantes.
Bolsonaro bate às portas de nova ditadura
Por José Dirceu, no site Metrópoles:
A militarização do governo Bolsonaro com as últimas indicações para a Casa Civil e a Secretaria de Assuntos Estratégicos tem raízes em nossa historia recente e no passado.
O general Braga Netto era chefe do Estado-Maior do Exército, o mesmo que no julgamento do habeas corpus de Lula publicou uma foto da reunião de emergência convocada pelo comandante do Exército Eduardo Villas Bôas para, numa aberta e flagrante violação da Constituição, ordenar – isso mesmo – ao STF que não ousasse conceder HC a Lula. Villas Bôas fez a mesma ameaça via Twitter, o que levaria a sua prisão imediata em qualquer democracia.
A militarização do governo Bolsonaro com as últimas indicações para a Casa Civil e a Secretaria de Assuntos Estratégicos tem raízes em nossa historia recente e no passado.
O general Braga Netto era chefe do Estado-Maior do Exército, o mesmo que no julgamento do habeas corpus de Lula publicou uma foto da reunião de emergência convocada pelo comandante do Exército Eduardo Villas Bôas para, numa aberta e flagrante violação da Constituição, ordenar – isso mesmo – ao STF que não ousasse conceder HC a Lula. Villas Bôas fez a mesma ameaça via Twitter, o que levaria a sua prisão imediata em qualquer democracia.
Bolsonaro destrói imagem do Brasil no mundo
Correspondente internacional há mais de duas décadas, o jornalista Jamil Chade afirma que o governo de Jair Bolsonaro destruiu a reputação do Brasil no cenário internacional. Em pouco mais de um ano, acrescenta, ele colocou em risco a imagem do país construída ao longo de mais de um século.
“Nunca vi o que está acontecendo hoje. É um desmonte de qualquer capital que o país tinha em termos de credibilidade. É impressionante como foi rápido”, afirmou Jamil aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (21). “No caso da opinião pública europeia, vai levar muito tempo para reverter essa imagem”, afirmou.
Filas do INSS são o novo corredor da morte
Por Alexandre Padilha, no jornal Brasil de Fato:
É abominável a disposição do governo em destruir o que existe de eficiente no serviço público brasileiro. O INSS era um órgão desamparado, que tinha um histórico de filas enormes e mal garantia atendimento à população. Porém, durante o governo Lula foi transformado, tornando-se uma estrutura eficiente e capilarizada em todo o país, com distribuição de agências em pequenos municípios e nas periferias das grandes cidades.
É abominável a disposição do governo em destruir o que existe de eficiente no serviço público brasileiro. O INSS era um órgão desamparado, que tinha um histórico de filas enormes e mal garantia atendimento à população. Porém, durante o governo Lula foi transformado, tornando-se uma estrutura eficiente e capilarizada em todo o país, com distribuição de agências em pequenos municípios e nas periferias das grandes cidades.
Motim no Ceará serve de palanque político
Por Cecília Olliveira, no site The Intercept-Brasil:
“O governador acha que que manda na polícia. Mas se a polícia cisma de botar fogo nessa cidade, não há quem impeça. Ninguém controla o guarda da esquina”. Ouvi essa frase de um delegado das antigas, “da época em que policial era tira”, como ele dizia.
Apesar do diagnóstico ser sobre o Rio de Janeiro, há pontos comuns com a situação vivida no Ceará, que está em chamas e não é de agora. E o modo como são tratadas – ou melhor, não são tratadas – as greves e motins de policiais faz com que o bolo cresça. Agora, com novos ingredientes: bolsonarismo e WhatsApp. O ministro da Justiça Sergio Moro se manifestou de forma protocolar, avisando que a situação está sendo monitorada. Jair Bolsonaro disse apenas uma frase: “A democracia nunca esteve tão forte”.
Apesar do diagnóstico ser sobre o Rio de Janeiro, há pontos comuns com a situação vivida no Ceará, que está em chamas e não é de agora. E o modo como são tratadas – ou melhor, não são tratadas – as greves e motins de policiais faz com que o bolo cresça. Agora, com novos ingredientes: bolsonarismo e WhatsApp. O ministro da Justiça Sergio Moro se manifestou de forma protocolar, avisando que a situação está sendo monitorada. Jair Bolsonaro disse apenas uma frase: “A democracia nunca esteve tão forte”.
Bolsonaro e as jornalistas de direita
Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
O mundo dá voltas, e não é porque agora existe gente que acredita ser a Terra plana que ele irá parar de girar.
Há um aspecto convenientemente pouco comentado no golpe jurídico-midiático que derrubou Dilma Rousseff em 2016: a misoginia. Dilma se tornara, em 2010, a primeira mulher presidenta do Brasil, após uma campanha suja em que chegou a ser chamada de “assassina de criancinhas” pela mulher do rival, José Serra. Digo presidenta? Pois: o primeiro ato de machismo contra Dilma na imprensa comercial foi se recusarem a reconhecer o termo, perfeitamente dicionarizado tanto em língua portuguesa quanto em língua espanhola.
Há um aspecto convenientemente pouco comentado no golpe jurídico-midiático que derrubou Dilma Rousseff em 2016: a misoginia. Dilma se tornara, em 2010, a primeira mulher presidenta do Brasil, após uma campanha suja em que chegou a ser chamada de “assassina de criancinhas” pela mulher do rival, José Serra. Digo presidenta? Pois: o primeiro ato de machismo contra Dilma na imprensa comercial foi se recusarem a reconhecer o termo, perfeitamente dicionarizado tanto em língua portuguesa quanto em língua espanhola.
Reações da Globo aos ataques de Bolsonaro
Por Jeferson Miola, em seu blog:
No caso da agressão sexista e criminosa do Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, o jornalismo da Globo agiu com o rigor e a dignidade que deveria ter adotado – mas não adotou – para defender o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept-Brasil.
A Globo repercutiu a agressão de Bolsonaro com a veemência devida no Jornal Nacional, no noticiário da Globo News e de todas emissoras e rádios associadas ou repetidoras; nos sites do G1 e do Globo.com.
Glenn Greenwald, assim como Patrícia Campos Mello, foi vítima de uma incriminação fascista.
Processo contra Lula prova estupidez de Moro
Por Fernando Brito, em seu blog:
Lula depôs hoje em um inquérito manado abrir por Sérgio Moro, alegadamente com base na Lei de Segurança Nacional.
Ele quer enquadrar o ex-presidente no artigo 26 da lei (caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação).
Por que?
Porque Lula disse – e transcrevo a Veja , com grifo meu – que:
Lula depôs hoje em um inquérito manado abrir por Sérgio Moro, alegadamente com base na Lei de Segurança Nacional.
Ele quer enquadrar o ex-presidente no artigo 26 da lei (caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação).
Por que?
Porque Lula disse – e transcrevo a Veja , com grifo meu – que:
Quem apertou o gatilho no Ceará?
Por Maister F. da Silva, no blog Viomundo:
Para além da família miliciana, que por ora governa o país, o gatilho da pistola que atingiu o Senador Cid Gomes foi puxado por mãos poderosas, que estranhamente passam incólumes ao julgamento e que deveriam ser defenestradas diariamente para que não seja esquecida a sua falta de compromisso e responsabilidade pelos ataques ao Estado Democrático de Direito e com a escalada fascista que grassa no país.
As federações empresariais (aquele time dos patos amarelos), os meios de comunicação hegemônicos (que agora apresentam-se como estupefatos) foram os primeiros a embarcar e estimular a onda ultraconservadora.
Para além da família miliciana, que por ora governa o país, o gatilho da pistola que atingiu o Senador Cid Gomes foi puxado por mãos poderosas, que estranhamente passam incólumes ao julgamento e que deveriam ser defenestradas diariamente para que não seja esquecida a sua falta de compromisso e responsabilidade pelos ataques ao Estado Democrático de Direito e com a escalada fascista que grassa no país.
As federações empresariais (aquele time dos patos amarelos), os meios de comunicação hegemônicos (que agora apresentam-se como estupefatos) foram os primeiros a embarcar e estimular a onda ultraconservadora.
Policiais-milicianos levam terror ao Ceará
Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
“O apatifamento de uma nação começa pela degradação do discurso público” (Luiz Fernando Veríssimo, em sua coluna de hoje sob o título “Apatifaram-nos”).
***
Fala-se muito em militarização do governo, o que é fato, mas a ameaça maior à democracia vem da milicianização das Polícias Militares fora de controle em todo o país.
O que era um fenômeno carioca, onde as milícias formadas por ex-policiais e ex-militares progressivamente assumiram o papel do Estado, foi se alastrando por toda parte, a ponto de já não se saber quem é quem nesta crescente onda de violência promovida por agentes públicos fora da lei.
Não, não é nada normal que policiais militares, encapuzados e armados como milicianos, levem o terror às ruas do Ceará, ordenando o fechamento do comércio e atirando para matar no ex-governador Cid Gomes.
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Fala-se muito em militarização do governo, o que é fato, mas a ameaça maior à democracia vem da milicianização das Polícias Militares fora de controle em todo o país.
O que era um fenômeno carioca, onde as milícias formadas por ex-policiais e ex-militares progressivamente assumiram o papel do Estado, foi se alastrando por toda parte, a ponto de já não se saber quem é quem nesta crescente onda de violência promovida por agentes públicos fora da lei.
Não, não é nada normal que policiais militares, encapuzados e armados como milicianos, levem o terror às ruas do Ceará, ordenando o fechamento do comércio e atirando para matar no ex-governador Cid Gomes.
Sanders sacode a política nos EUA
Por Slavoj Zizek, no site da Fundação Maurício Grabois:
Duas semanas atrás, quando promovia seu novo filme na Cidade do México, Harrison Ford disse que “A América perdeu sua liderança moral e credibilidade” [1]. Será mesmo? Mas afinal, quando foi que os EUA exerceram liderança moral sobre o mundo? Na gestão Reagan, na gestão Bush? Os Estados Unidos perderam o que nunca tiveram. Ou seja, perderam a ilusão (daí o termo “credibilidade” na colocação do ator) de que detinham essa liderança moral. Com Trump, só se tornou visível aquilo que desde sempre já era verdadeiro. Em 1948, logo no início da Guerra Fria, essa verdade foi formulada com um brutal franqueza por George Kennan:
Dupla motivação no Ceará: milícias e eleição
Por Jordana Pereira, no site da Fundação Perseu Abramo:
O governo do Ceará negocia desde o final de 2019 uma proposta de reestruturação salarial para policiais no estado. Na última sexta-feira, 14 de fevereiro, chegaram, a partir de negociações com parlamentares e representantes da categoria, em uma proposta final: de 3,4 mil reais para 4,5 mil reais para soldados e até vinte mil para coronel – além de gratificações. O ajuste seria em parcelas até 2022. O pacote inclui, além de militares, policiais civis, bombeiros e peritos forenses.
O governo do Ceará negocia desde o final de 2019 uma proposta de reestruturação salarial para policiais no estado. Na última sexta-feira, 14 de fevereiro, chegaram, a partir de negociações com parlamentares e representantes da categoria, em uma proposta final: de 3,4 mil reais para 4,5 mil reais para soldados e até vinte mil para coronel – além de gratificações. O ajuste seria em parcelas até 2022. O pacote inclui, além de militares, policiais civis, bombeiros e peritos forenses.
Greve dos petroleiros: rosas e espinhos
EDISE - Edificio Sede da Petrobras. Foto: FUP |
No mesmo dia em que os jornalões anunciaram em suas primeiras páginas que a Petrobras havia tido o maior lucro de sua história os ativistas da FUP reuniram-se em assembleias para aprovar a suspensão de seu movimento grevista de quase três semanas de duração.
Com efeito, decretada a greve em 1º de fevereiro e crescente ao longo dos dias, a paralisação chegou a contar com a adesão de mais de um terço dos efetivos da empresa e embora não tenha afetado a produção nem arriscado o desabastecimento conseguiu furar o silêncio da mídia grande e suscitar adesões em um amplo espectro do movimento sindical, da oposição e da esquerda.