Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Vamos juntar algumas peças do nosso quebra-cabeças.
Jair Bolsonaro copiou todos os movimentos de Donald Trump, dia a dia, especialmente em relação à Covid-19.
É evidente a concatenação das duas estratégias, ou sob a batuta de Steve Banon, o líder da ultradireita mundial, ou combinando entre si.
O ponto central consistia em minimizar a doença e colocar a crise econômica como ponto central.
E, mudando o foco, transformar os responsáveis pelo combate à pandemia – especialmente governadores de oposição – como os grandes inimigos.
Foi uma estratégia bem sucedida, que garantiu a Trump o apoio de quase metade do eleitorado americano. E garantiu a Bolsonaro apoio de parte expressiva da opinião pública brasileira.
As manifestações de hoje, no Capitólio, foram convocados por Trump no dia 30 de dezembro de 2020.
Na véspera das manifestações, convidou Eduardo Bolsonaro a visitá-lo. Lá, Eduardo se encontrou com Ted Cruz, o principal estimulador da radicalização trumpiana.
Ted já se encontrou com várias peças do bolsonarismo – Eduardo, Jair, o presidente da Embratur -, como peça central do lobby da máfia do jogo de Las Vegas para entrar no Brasil.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro anunciou um conjunto de medidas capazes de agravar ainda mais o quadro sanitário e econômico.
1. Anunciou que o governo não compraria seringas enquanto os preços não se normalizassem – impossível com a demanda global.
2. Paulo Guedes anunciou o fim da renda básica e dos incentivos fiscais e creditícios.
É uma estratégia complexa e algo tortuosa.
A piora das expectativas seria de responsabilidade direta de Bolsonaro.
Mas esse tipo de avaliação, racional, não chega à grande parcela da população brasileira, menos ainda aos seguidores de Bolsonaro.
Então é possível que as medidas tenham sido tomadas com o objetivo precípuo de desorganizar ainda mais a economia, permitindo a Bolsonaro exercitar seu esporte predileto, a responsabilização dos adversários políticos.
Seja qual for o resultado final, não se tenha a menor dúvida de que a estratégia em curso, pelos Bolsonaro, será levar a tentativa de golpe de Trump às últimas consequências. Há vários trunfos, que o próprio Trump não dispunha.
1. Quatro anos permitindo que suas milícias se armassem, com a facilitação para importação, registro e rastreamento de armas.
2. Simpatia das bases da polícia e das Forças Armadas.
3. Um Supremo Tribunal Federal sem compromisso com a Constituição e sem unidade para enfrentá-lo.
O Supremo só se une quando diretamente ameaçado.
E um Congresso cujo principal adversário político, nas eleições para a Câmara, é um discípulo de Michel Temer. Obviamente, tudo isso mostra uma democracia extremamente fragilizada.
4. Uma crise econômica particularmente aguda, aumentando o desespero e a radicalização.
Obviamente há a possibilidade da parte da população simpática a Bolsonaro se dar conta de sua responsabilidade no agravamento da crise e ele perder popularidade.
No final do dia, o Ministro da Saúde, general Pazuello, tentou contornar as críticas a Bolsonaro, anunciando compras de vacina de forma não muito convincente.
Mas, nesses tempos de fundamentalismo religioso e terraplanismo, nada mais é impossível.
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