Um dos problemas do liberalismo no Brasil é que o rótulo de "liberal" foi usurpado por canastrões caricatos, que o reduzem a uma forma rasa de cinismo.
Um deles é Hélio Beltrão Jr., a quem a Folha dá, semanalmente, espaço para difundir asneiras austríacas. E também, como faz hoje, falar sobre a conjuntura.
A coluna tem o título pouco elucidativo "Histeria generalizada", mas a linha fina deixa claro qual é o tema: "A incompetência do Executivo será avaliada em 2022".
Em suma, a "histeria" é a campanha pela retirada de Bolsonaro do cargo.
Beltrão Jr. diz que governo "é barulhento" e reconhece até que "cometeu erros" - mas "sobretudo, erros de comunicação".
Atribui a insatisfação com ele pelo fato de que Bolsonaro "optou por realinhar o debate político em termos que não sejam apenas tons de vermelho, como no passado recente". Beltrão Jr. é Mises, mas podia também ser Olavo.
O cerne do argumento é que uma campanha pelo impeachment "com base em erros, e não em crimes" afeta o "funcionamento sadio das instituições".
Claro. Funcionamento sadio das instituições é derrubar a presidente Dilma Rousseff com base em pretextos de ocasião.
Um miliciano que despreza abertamente a Constituição e que anuncia em praça pública sua vontade de dar um novo golpe pode, no máximo, cometer erros.
Boicote às medidas de isolamento social é um erro. Boicote à vacina. Boicote ao SUS. Boicote à ciência. Difusão deliberada de mentiras perniciosas. Indiferença ao sofrimento e à morte. Errinhos, nada mais.
Só na edição de hoje do mesmo jornal que publica a coluna de Beltrão Jr. se lê que, diante da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus, o Ministério da Saúde mandou para lá uma brigada de apóstolos da cloroquina.
Que o governo determinou um corte de dois terços na cota de importação do Butantan e da Fiocruz. E assim por diante.
Muitas das nossas 220 mil mortes (e contando) são consequências diretas desses "erros". Mas isso não incomoda o colunista.
Esperemos em paz até as eleições de 2022. Ate lá serão quantos? 300 mil, 400 mil, 500 mil mortos?
O colunista da Folha e seu presidente se encontram no "E daí?"
Não acho justo que os filhos sejam responsabilizados pelos crimes dos pais.
Mas como Beltrão Jr., embora cinquentão, alimenta a imagem de jovem playboy e "enfant terrible" da extrema-direita brasileira, não custa lembrar que o Beltrão pai, fiel serviçal da ditadura, foi um dos ministros que disseram "sim" ao AI-5. E que a firma que depois ele legaria ao filho por herança (meritocracia em ação, como se vê), o Grupo Ultra, foi uma das mais ativas no financiamento aos porões da repressão.
O filho é digno do pai. Raspando a fantasia de canastrão caricato do autoproclamado liberal, o que se encontra é um perfeito fascista.
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