Editorial do site Vermelho:
Vai passando o tempo, e o presidente Jair Bolsonaro começa a ficar sem bravatas para tentar justificar os preços abusivos os combustíveis sob seu governo. Na maioria dos estados, o litro da gasolina já ultrapassou o valor de R$ 5, acumulando alta de 25,7% desde maio de 2020, conforme o Índice de Preços Ticket Log (IPTL).
O etanol também sofre com altas seguidas de preços e chega a custar mais de R$ 4,50 o litro, em algumas regiões. Além disso, um botijão de gás de cozinha de 13 kg é vendido, hoje, a um preço-médio de R$ 90 – o que força famílias mais pobres a retrocederem a expedientes como o fogão a lenha.
Num único dia, em 18 de fevereiro, a Petrobras anunciou um aumento recorde de 15,2% para o diesel e de 10,2% para a gasolina. Para tentar acalmar categorias como os caminhoneiros, Bolsonaro isentou combustíveis de impostos federais (Cide, PIS/Pasep e Cofins). Mas o efeito foi insignificante – uma redução de apenas 15% no preço da gasolina e 9% no do gás.
Com manobras diversionistas e para nutrir seus seguidores com argumentos falaciosos o presidente da República tenta atribuir a crise nos combustíveis a fatores diversos. Primeiro, a um bode-expiatório – o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, a quem Bolsonaro acusou de estar “há 11 meses em casa, sem trabalhar”. Para seu lugar, convocou o general Joaquim Silva e Luna, hoje diretor da Itaipu Binacional e mais um militar a contribuir para a tragédia bolsonarista. O Conselho de Administração da Petrobras reúne-se nesta terça (23) para avaliar a mudança.
Castello Branco, de fato, é um entreguista de carteirinha, formado pela Universidade de Chicago e indicado ao cargo pelo próprio ministro ultraliberal da Economia, Paulo Guedes. À frente do cargo, manteve a política de preços vigente na empresa desde 2016 – quando um golpe de Estado levou Michel Temer à Presidência da República e submeteu a Petrobras aos interesses do setor financeiro, e não do povo brasileiro.
Essa política, batizada de Paridade de Preços Internacionais (PPI), atrelou o preço do combustível no Brasil às cotações do petróleo e do dólar no mercado internacional. A Petrobras acrescenta em seu site que os preços da gasolina e do diesel ainda levam em conta “os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias”, além de uma “margem que cobre os riscos (como volatilidade do câmbio e dos preços)”.
Os acionistas agradecem! Uma vez que essas variáveis têm crescido invariavelmente desde 2018 – sobretudo a desvalorização do real frente ao dólar –, o preço de itens como a gasolina, o etanol e o gás de cozinha registram altas constantes. Os sócios da Petrobras enchem os bolsos, mas quem paga o preço é mesmo o chamado “consumidor final” – isto é, o povo brasileiro, já penalizado igualmente com a inflação dos alimentos.
Conforme assinalou o engenheiro Haroldo Lima, ex-presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo),não basta trocar o presidente – mas, sim, “mudar a política de preços da empresa”, tão danosa à população e ao conjunto da economia nacional. “O Brasil tem o petróleo e o extrai, transporta-o em seus dutos, refina-o, cobra os impostos devidos, garante os lucros dos agentes e na hora de vender ao brasileiro usa o preço internacional, muito maior. Por quê?”, questiona Haroldo.
No outro extremo, os investidores também mandaram um “recado” a Bolsonaro e à sua aparente altivez. As ações da Petrobras despencaram 20% nesta segunda-feira (22), impondo perdas de quase 5% à Bolsa de Valores brasileira. Desde sexta-feira, a Petrobras recuou R$ 102 bilhões em valor de mercado – o equivalente ao orçamento anual do Ministério da Educação (MEC).
A gritaria do mercado financeiro, devidamente repercutida na grande mídia, dá mostras do labirinto em que se encontra o presidente da República em relação à Petrobras. Os investidores foram fiadores de sua eleição em 2018 e dobraram as apostas com a confirmação de que Paulo Guedes seria o superministro da Economia. Uma frase de James Gulbrandsen, diretor de investimentos da NCH Capital, resume a chantagem dos investidores: “Se Bolsonaro interferir no preço da eletricidade, provavelmente é o fim do jogo para sua capacidade de atrair capital estrangeiro”, disse ele à InfoMoney.
Só que, num Brasil ainda sob a pandemia de Covid-19, sem rumo econômico e sem auxílio emergencial, com inflação e desemprego em ininterrupto viés de alta, Bolsonaro sangrará cada vez mais junto ao povo com o preço exorbitante dos combustíveis – bem como o dos alimentos. Não lhe resta alternativa. Combater a inflação desses itens é uma urgência humanitária – e uma bandeira que partidos, entidades e lideranças do campo progressista precisam abraçar desde já.
Já dizia minha mãe desde que eu era pequeno..."aprender nunca é demais" 🙂🙂🙂
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