domingo, 14 de fevereiro de 2021

CPI da Saúde e o genocida Bolsonaro

Editorial do site Vermelho:


Os argumentos do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na sessão Senado Federal desta quinta-feira (11) de que a abertura de uma “frente política” no combate à Covid-19 prejudicará as ações do governo e pode causar mais mortes são uma falácia. O pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar sua pasta é uma exigência da realidade. Não é possível a continuidade de uma diretriz que ignora a gravidade da pandemia nesse Ministério estratégico no momento.

É sabido que opção por Eduardo Pazuello, um general da ativa do Exército, no Ministério da Saúde foi uma espécie de resposta do presidente da República, Jair Bolsonaro, às cobranças por ações mais efetivas do governo diante do avanço do coronavírus. Um clamor tomou conta do país no sentido de que o Estado acionasse seus mecanismos para atender às demandas que surgiram com a propagação da Covid-19.

Os primeiros ministros da Saúde deste governo, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, foram impelidos a deixar o posto pela política de Bolsonaro de ignorar o clamor público, fundado em evidências de que a pandemia tem um alto poder de propagação e um elevado grau de letalidade. Medidas urgentes precisavam ser adotadas e o Ministério da Saúde começou a mediar iniciativas com os conhecedores do assunto, sobretudo no universo científico. Foi o suficiente para que Bolsonaro reagisse com agressividade.

Para o presidente da República, a gravidade do momento não precisa de medidas excepcionais. Bolsonaro segue com sua convicção de que a pandemia é algo natural – “no máximo uma gripezinha – e como tal deve ser tratada. Por sua lógica obscurantista e autoritária, qualquer mediação com o pensamento científico deve ser ignorada e as pessoas sujeitas à contaminação têm de lidar com a situação por conta própria, contando com o que existe em termos de saúde pública – ou privada, de acordo com a escala social –, tratado pelo governo com absoluto descaso.

Eduardo Pazuello assumiu o Ministério da Saúde para reproduzir essa política. Sua omissão atende aos ditames de Bolsonaro de que as pessoas em idade produtiva devem se lançar à sorte em busca do “pão de cada dia” – “tem que trabalhar”, segundo seu brado –, sem se preocupar com a obviedade de que por esse meio, sem medidas de proteção, a pandemia se propaga indiscriminadamente. Para que essa diretriz prevaleça, o Ministério da Saúde tem de ser omisso em suas atribuições precípuas.

É evidente que uma CPI nessa conjuntura atinge o cerne do governo. As causas dessa tragédia que vem ceifando vidas na escala de milhares diariamente ficarão expostas, a começar pelo obscurantismo autoritário de Bolsonaro. E atingirá, certamente, o coração dessa política irresponsável – a política econômica que tranca os cofres públicos para as ações governamentais em favor da maioria da populações e do desenvolvimento nacional e entrega a chave para os gestores do parasitismo financeiro.

É comum se ouvir que sabe-se como uma CPI começa, mas não se sabe como termina. Nesse caso, é possível conjecturar que o cerne do governo seria atingido. Uma investigação com um mínimo de rigor certamente revelará uma cadeia de omissões e de atitudes arbitrárias que farão a natureza desse governo ficar bem exposta. E não haverá espaços para o bolsonarismo seguir engabelando a sociedade com suas mentiras sistemáticas. O esforço para que essa CPI siga adiante, portanto, tem sentido estratégico para o desmascaramento desse governo genocida.

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