Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:
O candidato do peito de Bolsonaro para o ministério da Saúde sempre foi Marcelo Queiroga, um Pazuello com diploma, que pode mudar a aparência da política sanitária mantendo sua essência negacionista.
Para não dizer não ao Centrão, que havia indicado a cardiologista Ludhmila Hajjaar, chamou-a para a conversar mas soltou os cães malditos do bolsonarismo em cima dela.
Inviabilizada a escolha, confirmou Queiroga.
A patifaria cometida contra a médica merece repúdio, especialmente da classe médica, e também das mulheres, porque não deixa de haver um traço misógino no episódio.
Bolsonaro acha-se muito esperto mas no Centrão ninguém é sonso. A turma entendeu a manobra, ficou irada e tem dito até que, se o novo ministro também fracassar, a discussão será sobre a troca de presidente, não de ministro.
Eles sabem que, com Bolsonaro na Presidência, nenhum ministro vai tirar o Brasil da tragédia sanitária.
Não foi preocupado com a morticínio de brasileiros e buscando melhorar a atuação do governo federal na pandemia que Bolsonaro resolveu trocar o ministro da Saúde. A motivação foi eleitoral, vale dizer, foi ditada pelo efeito Lula.
Mas passo à molecagem que fizeram com a doutora Ludhmila, que na entrevista à Globonews admitiu que foi ingênua: embora comprometida com os mandamentos científicos no enfrentamento da pandemia, como a vacinação urgente e universal e o rígido isolamento social, especialmente quando não se tem vacina e o sistema hospitalar está em colapso, ela disse ter acreditado que Bolsonaro queria mesmo uma mudança para valer na conduta do governo.
A convite de Bolsonaro, ela chegou a Brasília no domingo, hospedou-se num hotel e foi para o Alvorada, para uma conversa que durou mais de três horas.
Bolsonaro deixou claro que era uma entrevista sobre como seria a gestão dela mas a conversa já ficou comprometida pela presença do ainda ministro Pazuello.
Como dizer na frente dele que o governo vem fazendo tudo errado. Mas ela disse, com as devidas vênias. E constatou que Bolsonaro não estava disposto a mudar nada no essencial. Não arredou pé da ojeriza ao isolamento social: “se você fizer lock down no Nordeste você me fode e eu perco a eleição”, chegou a dizer.
O deputado Eduardo Bolsonaro também estava presente e chegou a perguntar o que ela pensava sobre armas e aborto. E enquanto a conversa rolava, ela começou a ser bombardeada nas redes sociais pela turba bolsonarista.
A sofisticada fritura prévia não foi uma ação espontânea do bolsão mais radical do bolsonarismo.
Foi coisa planejada e operada por gente do ramo.
Enquanto a conversa rolava, a milícia digital criou três perfis falsos para ela em três diferentes redes sociais.
Todos com informações que a indispunham com o presidente e com sua linha de pensamento e ação.
Em um deles, havia uma postagem falsa em que ela o chamava de psicopata. Tudo isso leva algum tempo e exige domínio técnico.
Alguém teve tempo e pachorra para pesquisar e trazer à tona vídeos em que ela aparece ao lado de figuras detestadas pelo bolsonarismo, como Rodrigo Maia, Dilma Rousseff e Gilmar Mendes.
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